Fatos surreais em Sobral

Em sã consciência, nenhum cidadão cearense poderia imaginar o que aconteceu, ontem, em Sobral. Um senador da República, usando uma retroescavadeira, tentar invadir um quartel cheio de policiais encapuzados e amotinados. Pior ainda: qualquer um seria incapaz de supor que vários tiros de arma de fogo seriam disparados, dois dos quais atingindo o parlamentar da mais alta casa legislativa do País, um ex-governador do Estado. O episódio, que ficará registrado na história do Estado, revela o nível de tensão que um movimento de militares pode causar e porque a Constituição Federal proíbe esse tipo de situação.

De volta a 2012

Cid Gomes é um dos líderes políticos de destaque na história do Ceará. Seus governos têm números expressivos, e a atuação política dele registra atos polêmicos, alguns dos quais, pelo temperamento, por vezes, explosivo e intempestivo. O fato de ontem nos remete aos ocorridos em janeiro de 2012 quando, sob governo dele, um movimento de policiais militares levou terror às ruas e submeteu Cid a, talvez, o seu principal revés. É possível que isso tenha tido alguma influência no episódio de ontem, de lado a lado.

Sem meio-termo

A situação, que já inspirava preocupação para a sociedade, atingiu, precocemente, um ápice, após o qual não há meio-termo. Ou o movimento é desfeito com o rigor da lei e das forças de segurança que atuam na legalidade ou o risco de perda do controle é real. Os atiradores precisam ser identificados e punidos também com o rigor da legalidade.

Juramento

Os policiais militares do Ceará, que compõem uma corporação de 20 mil homens e mulheres com histórico de serviços prestados, não podem esperar que a sociedade apoie um movimento ilegal que usa viaturas para amedrontar pessoas e ordenar o fechamento de estabelecimentos, prejudicando empresários e trabalhadores e atuando contrariamente ao juramento que fizeram em sua posse.

Novo diálogo

É fato que as lideranças da categoria perderam a condição de representação. Foram à mesa de negociação, fizeram um acordo. A recusa da categoria mostra que a situação ficou insustentável. Só uma nova representação pode atuar para tentar retomar um diálogo que é urgente para que a situação se resolva.