O ex-presidente Lula foi pragmático logo no início de sua passagem pelo Nordeste, em Pernambuco, na viagem de pré-campanha do ex-presidente, de olho em 2022. Em Recife, assim como em Fortaleza, há um dos principais focos de conflito entre petistas e possíveis aliados no próximo ano.
Lá, na disputa do ano passado pela Prefeitura da Capital, Marília Arraes (PT) e João Campos (PSB), que são primos e herdeiros políticos do ex-governador Miguel Arraes, fizeram uma campanha ríspida e dura, principalmente, no segundo turno. O racha ficou explícito.
Campos, que acabou eleito, utilizou artilharia pesada para desqualificar o petismo local. Até hoje, alguns aliados de Lula não engolem. Mas o líder maior petista, a exemplo do que tem marcado sua trajetória política, deu pouquíssima atenção a isso.
O ex-presidente participou de jantar com as lideranças do PSB, inclusive o governador Paulo Câmara e o prefeito João Campos. Lula, que publicou foto ao lado dos dois, quer o apoio do PSB em 2022 para a campanha presidencial. O resto é menor.
Paulo Câmara, por sinal, tem sido um interlocutor de Lula no partido. O arranjo para a parceria local requer ajustes. Não é tão simples, mas Lula demonstra que é possível, muitas vezes contrariando as circunstâncias locais. Câmara defendeu uma frente ampla de esquerda, pouco provável, pelo menos por enquanto.
Articulação presidencial
Em 2018, em uma articulação de dentro da carceragem da Polícia Federal, onde estava preso por condenação na Lava-Jato, Lula costurou um acordo com o PSB, para que o partido ficasse neutro no embate pela Presidência, evitando o apoio a Ciro Gomes e facilitando o caminho para Fernando Haddad chegar ao segundo turno.
Na ocasião, o arranjo local rifou a pré-candidatura de Marília Arraes e abriu caminho para a reeleição de Câmara.
Visita ao Ceará
Conflito semelhante vive o PT aqui no Ceará, para onde Lula virá na sexta-feira (20). O conflito aqui é diante do PDT, principalmente na Capital. Os petistas de Fortaleza são oposição ao prefeito José Sarto (PDT), mas não é isso que importa no momento.
Lula, como em Pernambuco, chegará de olho em 2022 e rifará qualquer estratégia ou fala local em nome da conjuntura nacional.
No PT, um grupo minoritário, diga-se de passagem, brada por candidatura própria ao governo do Estado para dar palanque ao líder petista.
A maior fatia do partido, entretanto, quer manter a aliança estadual com o PDT de Cid e Ciro Gomes. Este último, aliás, não tem a menor cerimônia ao desferir críticas a Lula.
Esta Coluna apurou com petistas graduados, que preferem não falar em público ainda, que a estratégia do PT no Ceará, com a chancela de Lula, é ter Camilo Santana disputando a vaga de senador na chapa majoritária no próximo ano.
Inclusive, conforme adiantado por esta coluna, o partido já concorda com a tese de que, em relação às candidaturas nacionais, o palanque fique dividido entre Ciro e Lula.
A estratégia do ex-presidente é fazer uma bancada forte de senadores pensando na próxima legislatura, mas também na renovação de quadros nacionais do partido, na qual Camilo estaria incluído.