Audiência com discurso antivacina submete Câmara Municipal a constrangimento público

É necessário proteger a instituição de discursos extremistas , ter respeito à população e à democracia e manter o decoro parlamentar

Legenda: Audiência pública que seria para discutir passaporte de vacina se transformou em um evento ideológico, o que era previsível
Foto: José Leomar

Um grupo de vereadores apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), somados a deputados estaduais, federais e outros seguidores e súditos, submeteram a Câmara Municipal de Fortaleza, uma instituição fundamental ao funcionamento do Município e da democracia, ao constrangimento de ter um vídeo retirado do ar de seu canal no Youtube, a plataforma de vídeo do Google, por promover informações falsas e discursos antivacina. 

 Pior: o Legislativo Municipal recebeu a ameaça de ter o canal, onde ficam publicadas as suas sessões ordinárias, que dão transparência aos trabalhos, se continuar a publicação de vídeos com informações inverídicas. 

A providência do Google ocorre para casos extremos. E, sem dúvida, trata-se de um deles. Uma audiência pública que seria para discutir a obrigatoriedade do passaporte de vacina na Capital se transformou em um grande movimento ideológico contrário às vacinas que, diga-se de passagem, estão salvando vidas. 

Um conjunto de mentiras e absurdos proferido por alguns dos participantes deixa o Legislativo em uma desconfortável posição de fomentar a disseminação das notícias falsas e profusão de informações duvidosas e enganosas sobre o processo de vacinação da população contra a Covid-19.

Narrativas duvidosas

Sob a falsa alegação de “liberdade”, um grupo de seguidores do presidente tem encampado um novo movimento contra a exigência do passaporte de vacinação para acesso a estabelecimentos. A mobilização, entretanto, tem como objetivo manter narrativas duvidosas que alimentam grupos mais extremistas de olho do processo eleitoral do próximo ano. 

Foi assim com a defesa ferrenha do uso da cloroquina no tratamento de pessoas com a Covid-19, no chamado “tratamento precoce” - comprovadamente ineficaz, bandeira que foi abandonada posteriormente. 

Depois, veio o questionamento às urnas eletrônicas e o sistema de votação no País. Um movimento que fez o Congresso Nacional redirecionar suas atenções a um tema absolutamente secundário diante de um momento em que o País atravessava uma grave crise. Este, por sinal, foi um tema cuja defesa também se desfez no ar. Atualmente, ninguém fala, ninguém viu. 

Agora, mais uma vez, no momento em que Fortaleza precisa discutir as saídas para a crise econômica, para o desemprego e para a fome, diante de uma medida que tem o objetivo de garantir a vacinação e evitar uma possível nova onda da Covid-19, surge um movimento para dispersar atenções da pauta fundamental e criar uma espécie de agenda paralela. 

É necessário proteger as instituições dos discursos extremistas e que induzem pessoas à doença e à morte. Os parlamentares devem respeito à população, à ciência e à democracia. É importante averiguar,  eventualmente, possíveis quebras de decoro parlamentar.