Sem creche, sem apoio: A realidade de mulheres-mães que precisam trabalhar e estudar
Ministra das Mulheres no governo federal reforçou que o acesso à educação infantil é uma prioridade da gestão
As férias escolares chegaram ao fim para a maioria dos brasileiros. Para muitas mães, o fim do recesso não representa alívio, mas o reinício de uma rotina intensa e, muitas vezes, solitária. É quando voltam as perguntas que nunca cessam: com quem vou deixar meu filho? Como vou trabalhar? Como vou estudar e buscar uma vida melhor para nós dois?
A escassez de vagas em creches públicas expõe uma ferida social profunda: a sobrecarga das mulheres, especialmente das mães solo e de baixa renda, que são obrigadas a escolher entre cuidar dos filhos ou garantir o sustento da família. Uma escolha cruel, que não deveria existir.
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O papel de cuidadora ainda recai majoritariamente sobre a mulher. E, sem uma rede de apoio - seja familiar, comunitária ou institucional - muitas acabam excluídas do mercado de trabalho ou impedidas de continuar os estudos. Isso ajuda a aprofundar desigualdades de gênero e limita o direito à autonomia econômica e à realização pessoal.
O peso do privilégio e o abismo da desigualdade
Fico aqui tentando compreender a complexidade desse tema, reconhecendo o meu privilégio. Minha filha, em breve, volta à escola em tempo integral. Tenho condições de arcar com esse custo. Saio cedo para trabalhar, o pai dela a leva, e eu a busco no fim do dia. Essa divisão de tarefas e o acesso à escola são essenciais para que eu consiga exercer plenamente minha profissão e continuar crescendo. Mas sei que essa não é a realidade da maioria das mães brasileiras.
De acordo com o Índice de Necessidade de Creche (INC) de 2024, cerca de 4,5 milhões de crianças de 0 a 3 anos pertencem a grupos prioritários para matrícula, como famílias em situação de pobreza, mães solo ou com o cuidador principal economicamente ativo. Mas apenas 43% dessas crianças estão matriculadas. Ou seja: cerca de 2,6 milhões estão fora da creche. Em todo o País, há uma fila de espera com mais de 632 mil crianças, realidade presente em 44% dos municípios, sendo a falta de vagas o principal motivo.
O cuidado como política de futuro
Recentemente, entrevistei a ministra Márcia Lopes, titular da pasta das Mulheres no governo federal. Levei essa preocupação durante a conversa, e ela reforçou que o acesso à educação infantil é uma prioridade da gestão.
“O PAC Seleções já definiu que vai construir mais 200 creches. Há uma articulação com estados e municípios para que os recursos sejam colocados prioritariamente na primeira infância. A Política Nacional de Cuidados também prevê isso como prioridade”.
A ministra também destacou que, além das creches, o País precisa pensar em espaços alternativos de acolhimento, que garantam o direito das mulheres ao estudo e ao trabalho.
“Não só as creches, mas espaços nas escolas à noite, como cuidotecas e ludotecas, para que as mulheres possam estudar sabendo que seus filhos estão bem cuidados e protegidos. Essa é uma meta que o Brasil tem que assumir: universalizar o atendimento de 0 a 3 anos e garantir a educação infantil para todas as crianças. É disso que as mulheres precisam”.
Negar o acesso à creche é negar o direito da criança à educação, à alimentação, à proteção. É também comprometer a dignidade da mãe que, diante da ausência do Estado, muitas vezes não vê saída.
Cuidar das mulheres é cuidar das crianças. E cuidar da infância é investir no futuro do País. A equação é simples. O desafio é a vontade política de fazer dela uma realidade para todas.