Gestar e suar: mães que correm, levantam peso e quebram tabus
Elas preferem ouvir seus corpos e seus médicos, e não os palpiteiros de plantão

Por muito tempo, gestar foi sinônimo de pausa. As recomendações eram de descanso absoluto, evitar esforço e “ficar quieta”. Mas uma nova geração de mulheres está virando esse jogo, com tênis nos pés, halteres nas mãos e disposição de sobra. Elas são mães que continuam ativas durante a gravidez, desafiando mitos e promovendo saúde com responsabilidade.
Movimento com barriga e propósito
Renata Pessoa está grávida pela segunda vez, à espera da Cecília. Mesmo com a barriga já saliente, ela continua praticando crossfit e musculação. Os treinos, adaptados por profissionais de educação física e autorizados pela sua obstetra, fazem parte da rotina com naturalidade.
“Esse cuidado é o que me mantém bem para seguir em frente”, conta. “O exercício me dá mobilidade, controla o ganho de peso e me faz sentir mais disposta. São só benefícios, e pretendo continuar.”
Renata já passou por uma gestação ativa com seu primeiro filho, Miguel. Ela sabe, na prática, como o movimento pode ser um aliado poderoso - não só para o corpo, mas para o emocional também. Como tantas outras mulheres, ela encontrou no exercício físico um espaço de autocuidado e presença, em meio às transformações intensas da maternidade.
Corpo em movimento, mente em equilíbrio
O que antes era visto com desconfiança, hoje começa a ser compreendido como ferramenta de cuidado integral. Musculação, corrida, crossfit adaptado, pilates - cada vez mais gestantes escolhem atividades que nutram não só o corpo, mas também o espírito.
“Eu já treinava há bastante tempo, conheço meu corpo e sei respeitar meus limites”, diz Renata. “Claro que com o avanço da gravidez, alguns movimentos são ajustados. Mas com orientação e saúde, sigo com segurança.
A ciência apoia
A Organização Mundial da Saúde recomenda pelo menos 150 minutos de atividade física moderada por semana durante a gestação, salvo em casos de restrições médicas. Os benefícios são muitos: melhora da circulação, controle do ganho de peso, redução do risco de diabetes gestacional, hipertensão e até depressão pós-parto.
A ginecologista e obstetra Dra. Lilian Serio reforça: “A atividade física, quando bem orientada, ajuda a prevenir doenças, reduz dores no final da gestação, diminui a ansiedade e favorece o trabalho de parto a termo - quando o bebê nasce no tempo certo e com peso adequado.”
Corrida com barriga? Sim, é possível
Renata Tavares, ou Tita de Jesus para seus seguidores, está na reta final da gestação. Aos 30 anos, ela segue correndo pelas manhãs, sentindo o vento no rosto e o ritmo dos próprios passos. É maratonista, já correu 42 km, e carrega consigo uma paixão antiga: a endorfina como combustível da alma.
“Gosto de desafios. É assim que me sinto capaz de vencer qualquer coisa e a gravidez não seria diferente”, afirma. “Continuar me movimentando me ajuda no preparo para um parto vaginal, que é o que eu desejo. Me sinto menos cansada, mais centrada. Meu marido até diz que viro outra pessoa depois que treino".
Tita compartilha sua rotina nas redes sociais - treinos, dicas, desabafos. Usa seu espaço para acolher outras mulheres que também querem se manter ativas. “É bonito quando outras mães me dizem que se sentem inspiradas. Eu corro perto do mar, e isso me renova. Acredito que uma mãe feliz vai fazer esse bebê feliz também".
Quebrando o mito da fragilidade
Essas mulheres enfrentam julgamentos nas redes sociais, nas academias, até dentro da família. A ideia de que a gestante é frágil e deve se preservar ao extremo ainda persiste. Mas elas preferem ouvir seus corpos e seus médicos, e não os palpiteiros de plantão.
A personal trainer Isabele Pimentel, especialista em exercício na gravidez e no pós-parto, diz que o maior desafio ainda é cultural. “Muitas vezes, a resistência vem da falta de informação. Mas quando a mulher é bem orientada, com os ajustes necessários, o exercício reduz riscos, melhora o bem-estar e prepara o corpo para o parto e o puerpério. Gravidez ativa é sinônimo de saúde!”.
Mãe, atleta, protagonista
Essas mulheres estão redesenhando a experiência da maternidade. Elas mostram que é possível cuidar do bebê e de si mesmas, com responsabilidade e escuta. Não se trata de vaidade ou heroísmo, mas de saúde integral. De viver a maternidade com mais liberdade e consciência corporal.
“Ser ativa na gravidez me deu força física e emocional”, afirma Renata Pessoa. “Isso se reflete na forma como cuido da minha família: com mais leveza, energia e autoestima".
Tita completa: “Depois de um treino, me sinto invencível. Pronta para enfrentar o parto e a jornada da maternidade, que sei que não será fácil, mas eu consigo".
Mover-se é resistir
Ao insistirem no direito de se movimentar, essas mulheres movimentam também ideias, estruturas e paradigmas. Elas não apenas gestam filhos, mas um futuro em que a maternidade não anula, mas fortalece.
E eu, que também fui ativa durante a gravidez, me emociono. Porque sei o quanto o corpo se transforma, o quanto se exige da mente e do coração. Sei que cada experiência é única, mas em meio a tantas demandas, a atividade física segue cuidando muito bem dessa mulher-mãe aqui.
Movimentar-se na gravidez é mais do que exercício. É uma forma de se escutar. É corpo, escolha e presença. E toda mulher merece esse direito.