Sob nova direção, liderada pelo ex-governador de Pernambuco, Paulo Câmara, o Banco do Nordeste (BNB) tem mais uma chance de voltar a ser o que foi nas décadas de 50, 60 e 70 do Século passado: a mais importante e respeitada instituição de fomento da economia regional.
Naquelas três décadas, o BNB foi, digamos assim, uma universidade do desenvolvimento econômico nordestino. Seu Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (Etene) abrigou algumas das mais brilhantes inteligências da região, e tanto é verdade que quase todos os secretários de planejamento ou da fazenda dos governos estaduais desta parte do Brasil foram profissionais do disputadíssimo quadro de economistas do BNB.
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Presidir o Banco do Nordeste era um privilégio de poucos, tantas as exigências intelectuais e morais feitas aos que pretendiam ocupar o seu comando. Nas solenidades daquela época, o presidente do BNB, quando presente, era o terceiro nome a ser citado pelos oradores – o primeiro era o do governador, o segundo era o do vice.
Até a gestão do economista Nilson Holanda esse ritual se manteve. Depois, a política – no que ela tem de mais atrasado – invadiu a área do BNB e mandou para escanteio o seu austero passado. Houve uma época, e não faz muito tempo, o BNB, que frequentava as páginas de economia dos jornais, passou a ser pauta de outras editorias.
Mas esse tempo já passou e, agora, estamos o Nordeste e os nordestinos diante do que parece ser um novo BNB, a cuja testa o presidente Lula colocou o pernambucano Paulo Câmara, que, além de ser sério, parece sério – como a mulher de César na Roma antiga.
Jovem, com boa bagagem intelectual, conhecedor dos problemas regionais e, principalmente, de suas soluções, Câmara tem dado prova de que veio para primeiro devolver o banco às suas origens; segundo, para modernizá-lo do ponto de vista tecnológico – o BNB precisa, urgentemente, adequar-se à Tecnologia da Informação e Comunicação, pois como está hoje mais parece uma instituição jurássica; terceiro, para despolitizar os chamados escalões inferiores da casa, onde – é o que informa uma alta fonte – se encontram os gargalos que transformam em longa e penosa tortura burocrática um simples pedido de financiamento para um pequeno produtor rural.
Esta coluna ouviu Paulo Câmara a falar em recente reunião com empresários cearenses da indústria e da agropecuária. E gostou do seu discurso, despojado de vaidades pessoais, mas prenhe de informações a respeito dos diferentes setores da economia regional.
Do que ele disse, ficou a sensação de que sua gestão privilegiará as superintendências estaduais do BNB, que – é outra conclusão a que chegou a coluna – terão liberdade para planejar e executar o que melhor convier ao objetivo do banco, que é o de financiar empreendimentos privados na agropecuária, na indústria, no turismo e na área de serviço.
Aqui no Ceará, sede do BNB, Paulo Câmara vem conquistando a simpatia dos empresários de todas as áreas. Essa simpatia, com certeza, crescerá à medida que sua gestão vier a corresponder à boa expectativa com que chegou à presidência do banco. Sua imagem de bom e correto gestor é que gera essa expectativa.
Assim, as queixas de hoje contra a extrema burocracia do BNB – no seu setor de análise dormitam projetos que há mais de um ano esperam um parecer técnico de aprovação ou rejeição – começam a virar palavras de incentivo dos empresários, de cuja boca a coluna já ouviu a entusiasmada frase “agora, vai!”
O BNB tem de ir para o novo tempo que é o da Indústria 4.0, da Agricultura 4.0, da Pecuária 4.0 – atividades econômicas que se movem no Ceará, em Pernambuco, na Bahia ou no Piauí por tecnologias de ponta, de que são exemplo a fruticultura, a cotonicultura, a carcinicultura, a sojicultura, a apicultura, as culturas protegidas e a pecuária do que podemos denominar de Novo Nordeste.
Se há um Novo Nordeste, tem de haver, também, um novo BNB, que – de volta às suas maravilhosas e inesquecíveis origens – deve estar à altura do crescimento da economia desta região e, mais ainda, da larga expectativa de quem trabalha e produz aqui.
Paulo Câmara tem visíveis virtudes: é discreto, sabe ouvir com atenção, fala o necessário, conhece bem o chão que lhe cabe administrar neste momento difícil e cheio de desafio da economia nacional e regional. É um líder que sabe liderar, faculdade que poucos políticos dominam.