Salmito Filho, secretário do Desenvolvimento Econômico do Governo do Ceará (SDE), reuniu-se nesta semana com reitores, pró-reitores e dirigentes e executivos de universidades e institutos de educação superior na busca de uma melhor e mais acelerada interação entre as partes.
A iniciativa deve ser vista com bons olhos, pois está na direção correta do que pedem – e faz tempo – a economia cearense e seus agentes.
Nos mais desenvolvidos países do mundo, a começar pelos EUA, a Universidade tem na iniciativa privada seu mais importante e fiel parceiro. E vice-versa. As pesquisas acadêmicas, também no Canadá, na Inglaterra e na Alemanha, têm um objetivo: transformar em produto – na indústria ou na agropecuária – uma ideia, por mais simples ou mais sofisticada que ela venha a ser.
No Brasil – o Ceará no meio – as teses de mestrado, doutorado e pós-doutorado, com raríssimas exceções, destinam-se a preencher e enfeitar prateleiras de bibliotecas das faculdades. Há quase nenhum resultado prático.
É por falta dessa interação com a Academia – objeto agora do esforço do secretário Salmito Filho – que empresas cearenses buscam parcerias em outras áreas.
Exemplo: neste momento, o Grupo BSpar, liderado pelo empresário Beto Studart, apoia-se na expertise da multinacional ArcelorMittal, que tem uma unidade siderúrgica no Pecém, para identificar qual o melhor tipo de aço que se adaptará ao seu projeto e construir na esquina das avenidas Santos Dumont com Senador Virgílio Távora um edifício comercial – o BS Steel – com estrutural totalmente metálica.
Os especialistas da ArcelorMital na Espanha, onde a empresa também tem uma usina siderúrgica, estão mergulhados na tarefa de criar o aço exigido pelos arquitetos da BSpar.
Deve ser louvada essa nova aproximação do Governo do Ceará à sua Academia, pois dela, com certeza, resultará algo bom para o desenvolvimento econômico e social do estado.
Assim como os pesquisadores da Embrapa descobriram as sementes que fizeram do Cerrado no Centro Oeste o maior Polo Sojicultor do mundo, assim como a mesma Embrapa e seus especialistas pesquisaram e criaram o cajueiro anão precoce, os doutores da UFC, da Uece, da Urca, da Uva, da Unifor e do IFCE poderão descobrir, por exemplo, um biodefensivo que, sem o recurso químico, livre de pragas e doenças as lavouras cearenses.
A bem da justiça, deve ser dito que a biotecnologia brasileira já produz defensivos orgânicos que, porém, só são eficientes em determinadas culturas, como a do tomate e a do pimentão colorido.
A reunião do secretário Salmito Filho com as lideranças das universidades deve ser vista como o primeiro passo na direção certa, mas é necessário que sejam dados os passos seguintes. E quais são eles?
O primeiro será a manifestação da Academia de que deseja, realmente, ser parceira da empresa privada, pesquisando o que interessa à indústria, à agricultura e à pecuária, que são os setores produtivos mais importantes da economia estadual cearense.
O segundo passo deve ser dado pelas empresas. Uma pesquisa custa caro e demanda tempo. Os empresários interessados nela terão de financiar a sua execução, estabelecendo prazos e metas a serem obedecidos, tudo de acordo com um prévio cronograma acertado pelas partes, como manda o manual empresarial.
O terceiro passo será colocar em prática o que recomendaram os pesquisadores com base no resultado de sua pesquisa. Para ter efeito prático, a pesquisa deve, como foi dito acima, transformar-se em produto da indústria ou da agropecuária. E com viabilidade de produção em escala.
Esta coluna ousa prognosticar: no dia em que a empresa privada e a Academia se derem as mãos, ou seja, no dia em que a pesquisa universitária no Ceará for voltada para os objetivos da indústria e da agropecuária, como o é no Hemisfério Norte, aí o desenvolvimento econômico estadual terá alcançado o nível de avanço desejado.
Que os sonhos do secretário Salmito Filho e dos líderes da Academia se realizem no curto prazo. Mas é preciso lembrar que as universidades federais estão em greve.