S. Francisco garante água para agricultura no Baixo Jaguaribe

Uma divina coincidência permitiu que a retomada do bombeamento das águas para o Ceará acontecesse no exato momento em que os rios e riachos voltaram a correr, reduzindo o tempo da viagem

Legenda: As águas do São Francisco retomaram sua viagem para o Castanhão, aproveitando o leito cheio dos rios e riachos do Sul e Centro-Sul cearenses
Foto: Divulgação

Uma viagem que duraria até 90 dias foi reduzida para somente 20 dias, no máximo, como consequência de uma simples medida administrativa – a que tomou na semana passada o ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional, o amapaense Valdez Góes. Ele, numa canetada, autorizou a retomada imediata do bombeamento das águas do rio São Francisco para o açude Castanhão, no Ceará. 

Essas águas, desde a barragem de Jati, já deslizam em boa velocidade por canais, riachos e rios cearenses, os quais, por sua vez, voltaram a correr por causa das chuvas que, mesmo dispersas e mal distribuídas espacialmente, encheram seus leitos, umedeceram suas margens e reduziram ao mínimo as perdas por evaporação e infiltração que haveria se persistisse a estiagem do El Niño anunciada pela ciência. 

Por enquanto, esses soluços hídricos celestes, como os dos últimos dias, ainda não recarregaram os grandes reservatórios do Ceará, mas já esverdearam a paisagem sertaneja, garantindo o pasto natural para os rebanhos bovino, ovino e caprino, poupando as reservas ensiladas de volumosos.

A decisão do ministro Valdez – adotada na presença atenta do governador do Ceará, Elmano de Freitas – trouxe algumas certezas, a primeira das quais é a de as atividades econômicas da região do Médio e Baixo Jaguaribe, onde está o crescente e dinâmico polo da moderna agropecuária do Ceará, seguirá a produzir e a gerar empregos na pecuária, na fruticultura, na cotonicultura, na crescente sojicultura e, ainda, na carcinicultura, uma atividade que se alarga para outras áreas cearenses, como o Litoral Norte e Oeste do estado.

Outra certeza é a de que, se necessidade houver, o açude Castanhão poderá mandar para a Região Metropolitana de Fortaleza a água necessária ao abastecimento de sua população e de suas indústrias. 

Alguém poderá indagar: e a água para as unidades industriais do futuro Hub do Hidrogênio Verde do Pecém? Bem, a Cagece já disse, e o governador o repetiu, que, para a produção do H2V, será – pelo menos na fase inicial do Hub – reutilizada a água que sai da Estação de Tratamento de Esgoto da Cagece na Avenida Leste-Oeste e que é permanentemente despejada no mar através de um emissário submarino.

Entre o que promete a Cagece e a efetiva realidade de projetar e transferir para o Pecém os 5 m³ por segundo de água de reuso para a produção do Hidrogênio Verde vai uma distância física de cerca de 70 quilômetros, ao longo dos quais passará uma adutora (subterrânea ou a céu aberto?) em aço. Não se sabe ainda quanto tempo a indústria metalúrgica (haverá licitação, certamente) demorará para fabricar as milhares de peças dessa tubulação. Nem quanto elas custarão. 

Antes dessas providências, todavia, há de, obrigatoriamente, ser definido que empresas investirão mesmo no projeto do H2V no Pecém. Estão prontas para fazê-lo a australiana Fortescue, cujos executivos estão hoje em Fortaleza para contatos com os meios de comunicação locais, a Casa dos Ventos, a Qair Brasil e a Cactus Energia Verde – as quatro já têm até licença ambiental prévia. 

A natureza – e só ela, criação divina – está driblando as previsões da ciência do clima, mandando chuvas, que, apesar de esparsadas, têm servido para diminuir as perdas de água pela evaporação e infiltração. 

Para um estado cujo povo vive espiando para o céu em busca de sinais de chuva, as precipitações que se registram no Litoral e também nas serras, no sertão e no Cariri devem ser saudadas como uma benção do Criador.

Mas com certeza teve também a inspiração divina o ato do ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional de liberar o bombeamento das águas para o lado cearense do Projeto São Francisco de Integração de Bacias. Ele se fez no exato momento em que as chuvas tornaram bem úmido o caminho das águas desde o Canal Norte, em Jati, até seu destino no Ceará – o açude Castahão. 

A partir de agora, cabe ao governo cearense mostrar competência na utilização correta desse bendito reforço de oferta hídrica.

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