Os Fundadores: as confissões de dois grandes empresários cearenses

Abrindo o evento promovido pela NM2B, Beto Studart, do grupo BSpar, e Fernando Rodrigues, da Makro Engenharia, contaram sua vida para para um auditório lotado de empresários e executivos

Legenda: Fernando Rodrigues (foto), da Makro Engenharia, e Beto Studart, do Grupo BSpar, abriram a série Fundadores, da NM2B
Foto: Divulgação

“Sonhar o sonho impossível; sofrer a angústia implacável; pisar onde os bravos não ousam; reparar o mal irreparável; amar um amor casto à distância; enfrentar o inimigo invencível; tentar quando as forças se esvaem; alcançar a estrela inatingível; esta é a minha busca”. 

Com estas palavras de Miguel de Cervantes, em sua obra prima Dom Quixote de La Mancha, o empresário Beto Studart, controlador de um grupo cearense de empresas que operam na construção civil, na incorporação imobiliária e, principalmente, na área financeira, encerrou seu depoimento pessoal que abriu ontem, no auditório do BS Design, os dois dias do evento Fundadores, promovido pela NM2B. 

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Depois dele, falou outro gigante do empresariado cearense, o engenheiro Fernando Rodrigues, fundador da Makro Engenharia, uma das três maiores empresas brasileiras da denominada “engenharia de movimento” – assim chamadas a locação e a operação de enormes e caríssimos equipamentos e máquinas de que se utilizam portentos nacionais e estrangeiros, como a Vale, maior empresa de mineração da América Latina.

Beto Studart contou toda a sua vida, que começou quando acompanhava e obedecia às ordens do pai, o médico Carlos Alberto Studart Gomes, que construiu e dirigiu o Hospital de Messejana, hoje referência nacional no tratamento das doenças cardíacas, sendo o mais importante centro brasileiro de transplante do coração. 

“Naquela época, eu respeitava os limites das pessoas e sabia muito bem conviver com as que moravam no modesto bairro de Messejana e com as que tinham residência na rica e elegante Aldeota. Nesse tempo, aprendi a usar gilete porque entendi muito cedo que a aparência pessoal e o conteúdo eram necessários para o sucesso. Jamais tive barba, sempre quis me parecer jovem e bonito para os meus clientes”, disse Studart.

Ele contou que se apaixonou pelos números quando estudava na Escola de Administração da Uece. Depois, aprendeu a medir a eficiência das máquinas quando trabalhou na Cemec, do Grupo J. Macedo, que fabricava transformadores. Posteriormente, teve dois táxis, com cuja renda comprou 20% do capital da Agripec, uma indústria de fertilizantes que tinha o pai e a tia como sócios majoritários. 

Alguns anos depois, comprou a parte dos dois e ousou pisar onde os outros não ousaram. Tornou-se dono único da Agripec e enfrentou, com inteligência, ousadia “e fé em Deus” os desafios dos planos Cruzado, Collor II e II, da URV e do Plano Real.

Os controladores da Nufarm, gigante australiana do setor de fertilizantes, fizeram-lhe a chamada oferta irrecusável e ele vendeu a Agripec, pondo no bolso “algumas centenas de milhões de dólares”, com os quais construiu o portento que é hoje o seu Grupo BSpar.

A história de Fernando Rodrigues é semelhante à de Beto Studart. Moveu-o o desejo de “ser empregado de ninguém, pois sempre quis ser empregador, empreendedor, enfrentar desafios”. 

Estudou na PUC de Belo Horizonte, onde trabalhou em grandes empresas como a Vale e a Cemig. 

De volta a Fortaleza, Fernando Rodrigues entrou por concurso na Conefor, empresa que antecedeu a Coelce, perscrutou vários negócios e, “como eu era bonito, elegante e cheiroso”, conheceu, numa festa no Ideal Clube, a mulher que mudaria sua vida – a jovem Inês, da família Quirino, de Sobral, uma “moça linda, encantadora e discreta”, pela qual se apaixonou. 

Mas não lhe agradava o fato de ser empregado da Conefor. Assim, a poucos dias do seu matrimônio, convidou o presidente da empresa, Josemar Leão de Oliveira, para ser seu padrinho de casamento, impondo-lhe uma condição: 

“O senhor tem de me demitir hoje mesmo”, disse ele. Leão de Oliveira quis saber: “E seu futuro sogro sabe disto?”. Fernando respondeu: “Ainda não, mas já vou dizer a ele”. 

Demitido, isto é, desempregado, Fernando Rodrigues enfrentou o casamento com a ideia na cabeça de criar a Makro Engenharia, que tem hoje atuação nacional, desde São Paulo à Amazônia. 

Sua Inês deu-lhe três filhos – Fernando, David e Rodrigo – que lhe deram sete netos e um bisneto. 

Muito recentemente, os filhos e as noras reuniram-se e decidiram, por consenso, o processo de sucessão empresarial na família. 

David foi escolhido o CEO da empresa; seus dois irmãos ocupam, cada um, posições estratégicas nas áreas de operações, tecnologia, novos negócios e novos mercados. E Fernando, o fundador, tornou-se presidente do Conselho de Administração, de onde “apenas emito orientações”.

No final de sua palestra, Fernando Rodrigues respondeu assim à pergunta sobre o que não fez e gostaria de ter feito? Sua resposta: 

“Ter casado mais cedo com a Inês. Se não fosse ela, eu não estaria aqui”.