Olho no mar: Ceará e Portugal buscam parceria na área da pesca

Autoridades e empresários cearenses e portugueses debatem na Fiec como explorar, de modo sustentável, os recursos marinhos. O Ceará precisa de barcos pesqueiros modernos e de uma escola de pesca para qualificar seus pescadores.

Legenda: Portugueses e brasileiros do Ceará reunidos na Fiec para um debate sobre como explorar, de modo sustentável, as riquezas marinhas
Foto: Fiec / Gecom / Divulgação

Iniciada ontem, termina hoje a reunião que junta na Casa da Indústria, sede da Federação das Indústrias (Fiec), autoridades, empresários, técnicos e professores universitários do Ceará e de Portugal para um proveitoso debate sobre a Economia do Mar, ou seja, sobre como explorar, de modo sustentável, os recursos marinhos.  

Portugal e Ceará, banhados pelo Oceano Atlântico, têm em comum o seu litoral. A costa portuguesa estende-se por 900 quilômetros; a do Ceará tem 600 quilômetros de extensão. O mar português e o mar cearense são extremamente ricos na piscosidade.  

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O Ceará é hoje um grande exportador de peixes vermelhos, de atum e de lagosta, e começa a exportar, também, camarão criado em cativeiro. Sua indústria de beneficiamento é moderna e exportadora e já conta com investimentos estrangeiros -- a espanhola Crusoé beneficia e exporta atum e sardinha em S. Gonçalo do Amarante.

Mas a captura ainda é limitada porque carece de uma frota moderna de barcos de pesca e, ainda, de pessoal qualificado – falta uma escola de pesca, promessa antiga e até agora não cumprida.

O Ceará tem cerca de 3 mil barcos pesqueiros, mas são pequenos, sem instalações apropriadas para o esforço de pesca. Pensando nisto, a Federação das Indústrias do Ceará, a Fiec, liderada pelo seu presidente Ricardo Cavalcante, mantém, há alguns meses, estreito entendimento com sua congênere de Portugal, já tendo sido realizadas várias reuniões em Lisboa, na cidade do Porto e em Fortaleza, onde hoje termina mais uma.   

Desta vez, além da troca de conhecimentos técnicos e científicos, houve uma rodada de negócios que reuniu empresários portugueses e cearenses em torno de interesses comuns. Ricardo Cavalcante disse à coluna que o Ceará quer tornar-se a porta de entrada dos produtos marinhos portugueses no Brasil e na América do Sul, da mesma maneira que Portugal tem a mesma posição em relação aos produtos cearenses que se destinam à Europa.  

E animado com o que viu e ouviu ontem, primeiro dos dois dias do que se pode chamar de Seminário sobre a Economia Azul que reuniu na Fiec autoridades e empresários do Ceará e de Portugal ligados à exploração dos recursos marinhos, o economista Célio Fernando, secretário Executivo de Inovação da Casa Civil do Governo do Estado, deu resposta a duas perguntas desta coluna:  

1) Por que devemos acreditar que a Economia do Mar é uma vocação cearense – só porque temos 600 quilômetros de litoral? 2) Que papel devem ter o governo e a iniciativa privada nesse projeto?   

Ele respondeu nos seguintes termos:  

“1 - A Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) lidera um processo muito importante para a ampliação do PIB e da geração de empregos e renda. O Governo e os empresários portugueses deverão traduzir uma maior corrente de comércio, principalmente na Indústria da pesca. No entanto, Portugal, além da primazia hoje do turismo europeu, tem grandes universidades, portos, energias limpas e negócios com a TIC (Tecnologia da Informação e Comunicação) que se traduzem também em ciência, tecnologia e inovação. O mar é histórico-cultural presente fortemente na literatura portuguesa e principal fronteira de negócios com o mundo. Vem dos portugueses o conceito de HyperCluster da Economia do Mar e um dos olhares profundos do Planejamento Espacial Marinho na Europa.   

“2 - A crença cearense na Economia do Mar também se confunde com a história e a literatura do nosso estado. Dos vestígios da passagem de Vicente Pinzón ao Dragão do Mar e dos Verdes Mares Bravios de Iracema à composição de Belchior nas Velas do Mucuripe há um roteiro suficiente para revelar a identidade do Ceará com o Mar. Ao trazer a Economia Azul, e azul marinho, ressalta-se o primeiro lugar cearense na exportação brasileira de pescados, incluindo a lagosta, o atum e muito mais do "maretório" do Ceará.   

“A perspectiva da energia eólica offshore, com uma geração esperada acima de 20GW, o entrocamento dos cabos transoceânicos, já prestes a chegar aos 18 cabos – o segundo maior do mundo; a força do Porto do Pecém superando em Suape em volume de cargas; o turismo e os esportes náuticos, dentre tantas outras dimensões apontadas pelo Atlas Costeiro e Marinho do Ceará, o primeiro do país, tudo isso qualifica a Economia do Mar Cearense em uma perspectiva global.   

“E, passando da Economia do Mar para a Economia Azul Sustentável, devem ser citados, como símbolos dessa ampliação de horizontes, os atuais 50 Km² do Parque Estadual Marinho da Risca da Pedra do Meio, antes com 34 Km²; o mapeamento e os estudos dos 17 mil hectares de mangues, ecossistema de transição do bioma da caatinga (terrestre) com o bioma marinho, qualificado como berço dos Oceanos. Além, evidentemente, de todos os trabalhos que se somam das atividades socioambientais e econômicas.   

“3 - O Ceará, na tríplice hélice, define o papel essencial do Governo como regulador. Dependendo da curva de maturidade do desenvolvimento e da capacidade de Investimentos Públicos Produtivos, ele também constrói induções preferencialmente e, tendo demanda, parcerias de investimento. Neste momento, o investimento privado, o ordenamento produtivo em cadeias de suprimentos sustentáveis e a busca de viabilidades econômico-financeiras fundamentam muito bem o papel da iniciativa privada, que na sua forma de atuação prioriza suas ações nos princípios ESG. Nesse tripé, a Academia traz Ciência, Tecnologia e Inovação, desenvolvendo pesquisas e produzindo mão-de-obra qualificada que suportem todos esses movimentos, seja na gestão, na formação de profissionais especialistas ou pesquisadores que sejam dínamos da transformação do Ambiente de Negócios, analisando e avaliando os riscos e oportunidades da Economia Do Mar, encontrando as melhores e mais eficientes rotas. São algas para fármacos, para membranas de espécies marinhas, para eletrolisadores. A Fiec está de parabéns”.