No Brasil, também é a economia, estúpido!

O presidente Lula teve a chance de fazer o ajuste fiscal, que o tornaria impopular durante 12 meses, mas herói nacional, com reeleição garantida por aclamação

Escrito por
Egídio Serpa egidio.serpa@svm.com.br
(Atualizado às 04:42)
Legenda: Brasília (foto), onde as coisas acontecem na política e onde se tomam decisões que afetam e muitas vezes castigam a economia
Foto: Agência Senado
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Diante da última pesquisa Genial Quaest, que apurou crescimento da avaliação negativa do governo do presidente Lula – que saltou de 37% em janeiro para 41% em março – e de sua desaprovação, que era de 49% em janeiro e passou para 56% em março – a conclusão a que se chega remete à frase de James Carville, marqueteiro do então presidente Bill Clinton, que, em 1993, derrotou George Busch pai com a frase de campanha “é a economia, estúpido”, referindo-se à complicada situação econômica dos EUA naquela época.

Essa queda de popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva veio na boleia do aumento de preços dos alimentos e na de várias infelizes declarações (“Se você vai num supermercado e o produto está caro, não compre”, foi uma delas; outra foi esta: “Até hoje não encontrei uma explicação para o ovo estar caro. Não tem explicação. Alguém está passando a mão. E nós queremos saber quem é. A carne vai baixar, vocês podem ter certeza de que vocês vão voltar a comer picanha outra vez”). São opiniões que fazem a plateia sorrir, mas que repercutem muito mal junto aos que produzem, trabalham e recolhem impostos.

Os preços não sobem ou descem por força de palavras, mas pela lei da oferta e procura. Exemplo: se houver muita banana na feira livre e poucos compradores, o preço da fruta cairá; se acontecer o contrário, o preço subirá, naturalmente, sem interferência de qualquer agente governamental. É assim que funciona aqui e em todos os países cuja economia é de livre mercado. Nos de economia centralizada os preços sobem e descem de acordo com a vontade do ditador de plantão.

Aqui e no resto do mundo, a produção de alimentos é sazonal e seus preços variam conforme a sazonalidade. O preço do café foi para o espaço porque caiu, por falta de chuvas, a safra em países como o Vietnã, segundo maior produtor do mundo, e a Indonésia, o quarto (o terceiro é a Colômbia; o Brasil é o primeiro). E não é no Brasil, nem na Colômbia, nem no Vietnã que se estabelecem os preços dessa commodity, mas na Bolsa de Mercadorias de Chicago. Ponto.

Há, porém, uma questão a ser bem entendida. Uma das causas da inflação é o aumento dos custos de produção das coisas, incluindo, destacadamente, os alimentos, motivado pelos juros altos, pela precariedade da infraestrutura de transporte, por questões climáticas e pela redução do poder de compra da população.

Na raiz da questão está a política fiscal do governo, cujas contas seguem deficitárias desde 2014. Isto leva o governo a buscar financiamento para esse déficit, onerando o serviço da dívida pública que, pelo andar da carruagem, caminha para ultrapassar a perigosa e psicológica marca dos 80% da soma de todas as riquezas produzidas pelo país – o Produto Interno Bruto (PIB).

Consertar as contas públicas, torná-las superavitárias no atual governo é algo considerado quase impossível pelos economistas. Primeiro, porque não há tempo de fazê-lo (além dos fatores endógenos, há os exógenos que têm as digitais do presidente dos EUA, Donald Trump); segundo, porque, neste momento, o que há não é uma concertação para a superação do grave problema, mas um conluio para o aumento das despesas, tendo em vista o ano eleitoral de 2026, quando a gastança se multiplicará.

O presidente Lula teve, no início de sua terceira gestão, a chance de adotar as medidas para um forte ajuste fiscal, que o tornaria impopular durante 12 meses, mas o faria, em seguida, herói nacional, com reeleição garantida quase por aclamação. Como não fez o chamado dever de casa, experimenta agora as angústias da baixa popularidade.

Governar – além de construir estradas, portos e aeroportos – é, também, ferir interesses. Infelizmente, porém, em vez de ferir interesses, o que se vê em Brasília é um esforço para melhor atender aos interesses de quem manda nos três poderes da República.

Por enquanto, o Executivo, o Legislativo e o Judiciário ainda não se deram conta do que se passa com a Previdência Social pública e privada, cujo rombo cresce em alta velocidade, podendo inviabilizar-se em cinco anos.