Esta coluna divulgou na última sexta-feira, 18, dados de uma pesquisa elaborada e divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), segundo a qual a falta de trabalhadores qualificados ou o seu alto custo foi a preocupação que mais cresceu entre os industriais brasileiros no terceiro trimestre deste ano.
A repercussão desta notícia foi imediata em diferentes áreas da atividade econômica, uma vez que revela outro dado igualmente preocupante: a carência de mão de obra habilitada para exercer as tarefas da Nova Economia – cada vez mais digital e agora aportando a desafiadora novidade da Inteligência Artificial.
Mas o mesmo problema da falta e da deficiência de mão de obra, percebida pela pesquisa da CNI na indústria, atormenta, também, a liderança do comércio varejista. O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Fortaleza, empresário Assis Cavalcante, transmitiu à coluna, na mesma sexta-feira passada, mensagem vazada nos seguintes termos:
“Nós do varejo estamos com o mesmo problema da indústria: a dificuldade de contratar pessoas para o quadro de vendas de nossas empresas.
“Só nas lojas do centro da cidade de Fortaleza temos hoje vagas para 500 pessoas que conheçam, pelo menos, o básico do processo de uma venda.
“Enfrentamos, principalmente, dificuldade para contratar jovens de 18 a 25 anos de idade, pois estes, talvez por barreiras cognitivas, não gostam de receber ordens e são, ainda, possuidores de uma certa rebeldia e imediatismo, causando com isto uma certa instabilidade na empresa.”
O que acima está dito procede de dois setores empregadores intensivos de mão de obra: a indústria e o comércio, que têm escolas de formação e qualificação profissional de que são prova o Senac e o Senai.
Porém, na agropecuária, a questão existe e avulta, uma vez que, a agravá-lo, está o Bolsa Família, uma boa ideia de distribuição de renda que, todavia, não conta, ainda, com a porta de saída. A maioria dos que vivem na zona rural acostumou-se à ociosidade remunerada desse programa federal, que dá de graça R$ 600 por mês a cada beneficiário.
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Ceará (Faec), Amílcar Silveira, cita vários casos de fazendeiros que, nos dias de hoje, não conseguem contratar formalmente – isto é, com carteira assinada – mão de obra para sua lavoura. Ele revela, como exemplo, o caso dos donos de uma fazenda no Litoral Norte cearense que há vários meses tentam, sem êxito, contratar 30 mulheres para sua recém-instalada indústria de beneficiamento de coco.
“Beneficiárias do Bolsa Família, as mulheres recusam a proposta de emprego formal com medo de perder a ajuda do governo. Elas topam o emprego informal, mas isto levaria o empregador à situação de ilegalidade, ou seja, de criminoso. Considero o Bolsa Família uma coisa boa para os que enfrentam o desemprego temporário, mas o programa não pode virar, como já virou, um eterno ócio remunerado com dinheiro público”, disse Silveira.
A Confederação Nacional da Agricultura (CNA) já propôs, por meio da Frente Parlamentar do Agronegócio (FPA), que o governo permita a contratação temporária, pelas fazendas agropecuárias, de beneficiários do Bolsa Família enquanto durar a plantação ou a colheita da safra.
“Seria um bom reforço na renda do trabalhador rural”, como argumenta o presidente da Faec.
Além da falta de gente qualificada para a indústria, o comércio e a agropecuária, há, também, o problema do alto custo da mão de obra. Um trabalhador com carteira assinada, com salário mensal de R$ 3 mil, custa, na verdade, para o empregador outros R$ 3 mil, tantas são as obrigações financeiras impostas pela legislação trabalhista brasileira. Diante de tanta dificuldade, o investidor pensa duas vezes antes de investir no Brasil, e os que estão aqui contam até 100 para tomar a decisão de fazer novo investimento para ampliar ou modernizar o seu negócio.
Lamentável.