Morrer é nascer para a vida eterna. Mas não é tão simples nem barato quanto parece.
Por exemplo: o ato de velar e sepultar – sem cremação – o pai, a mãe, o neto, o irmão, o amigo está custando muito caro. E se a família do falecido não tiver um plano funerário que inclua, também, o jazigo, aí esse custo explode.
Um profissional liberal, na antevéspera de filiar-se ao grupo dos octogenários, contou à coluna que, nesta semana, garantiu para si e para a esposa, filhos, netos, genro e nora – uma dúzia de vivos – os benefícios de um plano denominado “Prime II”, que garante muita coisa, inclusive a missa de corpo presente, e cujo valor coube no seu bolso.
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Há, ainda, o “Prime I”, que oferece melhores, maiores e mais caras vantagens, mas o “Prime Especial”, este sim, garante tudo, até a missa de sétimo dia e a “urna funerária premium”, com revestimento interno de veludo e tampa com visor de vidro, tudo em boa madeira – como gostam os ricos; a urna do “Prime II”, o plano mais barato, tem o nome de “clássica”.
Para 12 pessoas, o “Prime II” custa, de entrada, R$ 220 – com pagamento à vista, por meio de um cartão de débito.
A partir de agora, e até que morra o último da dúzia inscrita, o profissional liberal pagará, mensalmente, R$ 196 à empresa funerária, muito bem-conceituada aqui (há mais de 20 delas em Fortaleza e centenas nas cidades do litoral e do interior do Ceará).
O experiente corretor da funerária – do alto dos seus 65 anos de vida, metade dos quais dedicada à tarefa de prevenir os outros contra as despesas que a morte causa no momento em que ela acontece — faz uma grave advertência:
“Nenhum dos seus 12, a começar pelo senhor, que é o mais velho, pode morrer antes de 120 dias”, disse ele, acrescentando:
“Se alguém morrer antes desse prazo, será a família que arcará com todas as despesas do funeral”.
Trata-se do prazo de carência de um plano funerário, “e é assim em qualquer funerária”, assegura o corretor. Ele está certo.
Um jazigo de três gavetas (para três defuntos) em “cemitério de alto nível”, como o Parque da Paz, por exemplo, custa hoje entre R$ 15 e R$ 20 mil. No cemitério da funerária com a qual o personagem em tela fechou contrato, o preço do jazigo é bem menor, variando entre R$ 3,5 mil a R$ 5 mil.
Nesta capital, há funerárias com planos mais caros. Uma delas oferece missa de corpo presente, com padre, música (cantor, tecladista, violinista e cerimonial) e chuva de pétalas de rosa – tudo incluído no pacote, além, naturalmente, de café e biscoitinhos para os que comparecerem (o “Prime II” também inclui esse item gastronômico).
Detalhe: as funerárias – pequenas, médias ou grandes – incluem o traslado do corpo desde o velório até o cemitério.
Outro detalhe: da lista de serviços prestados pelas funerários, consta a tanatopraxia, que, segundo o Google, “é um procedimento que visa preparar e conservar o corpo para o velório e as homenagens fúnebres. Ela é uma técnica bastante moderna, que envolve vários passos e é usada em praticamente todos os países do mundo. A palavra vem do grego ‘Thánatos’, considerado o Deus da Morte, segundo a mitologia grega”.
Os que já possuem jazigo, como é o caso do profissional já referido e dos seus 11 irmãos que se consorciaram em 1988, o plano funerário é ótima e correta providência. Deixar tudo para a hora da morte é complicar ainda mais a vida já difícil dos familiares.
O único problema que surge, à primeira vista, é o do prazo de carência do plano funerário. De qualquer maneira, o interessado já fica sabendo que terá de tomar todas as providências para não morrer nos 120 dias após a assinatura do contrato, que, a depender do seu “status”, inclui, também, o rito da cremação do corpo. Custo: R$ 3.500, e não é todo cemitério que o realiza.
A Igreja Católica era contra a cremação dos corpos. Porém, diante do crescimento da população e das cidades e da redução das áreas dos cemitérios, e levando em conta a questão sanitária, o Vaticano passou a permiti-la.
Resumindo: os que podem devem, previdentemente, providenciar logo um plano funerário para a família. Os que não podem disporão de sua própria casa como local do velório e, ainda, dos cemitérios públicos para sepultar os seus mortos.