Um dos mercados mais disputados pelas grandes redes do varejo nacional é o do Ceará. Por quê? Resposta de um varejista, dono de quase 20 supermercados espalhados na capital e no interior deste estado:
“Porque o cearense é um bom consumidor, sabe escolher onde comprar e o que comprar, e isto vale tanto para o consumo de bens duráveis – como refrigeradores e fogões, por exemplo – quanto para o de alimentos”.
Será verdade? – pergunta a coluna a um dos maiores fornecedores das redes do varejo. “É a pura verdade”, responde ele.
A mesma fonte, entusiasmada com a conversa sobre o tema, deixa escapar algumas informações bem atuais a respeito do cenário varejista do Ceará, notadamente o voltado para o setor supermercadista.
Ele começa por informar que, neste ano, uma das quatro maiores empresas do varejo brasileiro – o Grupo Mateus, com sede no Maranhão e forte atuação em todo o Nordeste do país – abrirá mais cinco lojas aqui, algumas em Fortaleza, onde já colocou o pé com uma unidade recém-inaugurada no bairro José Walter, no Sul desta capital.
De acordo com a fonte, tudo pode acontecer para que se estabeleça aqui o Mateus, e algo muito importante já aconteceu: o grupo maranhense está instalando um Centro de Distribuição, de grande porte, na geografia do município de Maracanaú, na Região Metropolitana de Fortaleza. Com esse equipamento, o grupo fará jus a incentivos fiscais do governo estadual.
A fonte revela um segredo:
“O terreno que está sendo ocupado por esse CD do Mateus foi cedido pela Prefeitura de Maracanaú, cujo prefeito Roberto Pessoa não teve dúvida em celebrar parceria com os maranhenses, levando em consideração, em primeiro lugar, as centenas de empregos que o equipamento já está gerando; em segundo lugar, porque a Prefeitura melhorará sua arrecadação tributária”.
Grandes fornecedores cearenses de alimentos para o Grupo Mateus, alguns dos quais com mais de 10 anos de estável e respeitosa relação comercial, asseguram que a chegada dos maranhenses aqui – eles já estão há alguns anos em cidades do interior do Estado, como Sobral e Tianguá – será um desafio para as redes cearenses do varejo e, ao mesmo tempo, um ganho para o consumidor, que terá mais uma opção de compra.
Há, porém, pelo menos duas pedras no meio do caminho que o Mateus está a percorrer no Ceará: o jeito cearense de comprar em supermercado e o jeito do supermercado de lidar com as características próprias do consumidor cearense. E quem entende do assunto são os varejistas conterrâneos.
Foi exatamente essa interação que deu e tem dado às redes de supermercados do Ceará a musculatura que têm hoje e que tornou líderes empresas como Mercadinhos São Luiz e Supermercados Pinheiro, Cometa e Frangolândia, contra as quais não puderam até agora os poderosos Pão de Açúcar, Assaí e Carrefour.
Deve ser lembrado que, no meio dessa guerra concorrencial, há os mercadinhos de bairro, as bodegas e os armazéns que, na capital e nas cidades do litoral e do interior do Ceará, têm sabido, pela inteligência e ousadia dos seus donos, tirar proveito da situação.
Um exemplo perfeito e acabado disso é o Mercadinho São Pedro, antiga Bodega do seu Pedro, na Monsenhor Salazar, que, mesmo com a morte do seu fundador, em 2020, progrediu.
Da mesma maneira pode ser citada a loja F. S. Rocha Pescados e Mariscos, que tem superado, também, a concorrência das grandes marcas supermercadistas nacionais e mantido sua posição de liderança na comercialização de tudo o que o mar e os açudes produzem.
Nessa disputa pelo consumidor cearense, ganha o fornecedor do Ceará. Um exemplo: dos 2,5 milhões de ovos que a Tijuca Alimentos produz e comercializa todos os dias em sua unidade agroindustrial de Beberibe, 500 mil são entregues às lojas da rede de supermercados Mateus em vários estados do Nordeste, a começar do Maranhão, onde está sua sede.