Quem duvidava – e muita gente tinha dúvida, inclusive grandes empresários – de que o Ceará poderia retomar seu lugar de protagonista na cotonicultura brasileira já mudou ou está a mudar de opinião. E essa mudança tem nome: a alta qualidade do algodão que se produz hoje no Ceará, com ênfase na Chapada do Apodi e na região do Cariri, onde o índice de produtividade é semelhante ao alcançado nas maiores áreas de produção no país – o Oeste da Bahia e do Centro Oeste.
Esse esforço tem sido feito pela iniciativa privada, que investe na mais moderna tecnologia de tratamento do solo, na compra de sementes criadas e desenvolvidas pela Embrapa, no correto uso da irrigação por gotejamento e na colheita mecanizada, o que garante fardos uniformes, algo que facilita o processamento industrial, reduzindo a zero as impurezas.
E desde segunda-feira passada a mudança ganhou sobrenome: o moderníssimo Centro Tecnológico da Cadeia Têxtil (CTCT), que, a um custo de R$ 20 milhões, a Federação das Indústrias do Ceará (Fiec) implantou na unidade do Senai no bairro de Parangaba, em Fortaleza. É esse CTCT que dará à nova cotonicultura cearense o Selo de Qualidade de que precisava para impulsionar, a partir de agora, o cultivo empresarial do algodão nos sertões do estado.
Esta coluna transmite duas excelentes notícias: 1) o algodão que a Fazenda Nova Agro – do agroindustrial Raimundo Delfino, que comanda o Grupo Santana Textiles – produz na Chapada do Apodi, é de fibra longa e tem a mesma qualidade, densidade e suavidade do similar egípcio, considerado o melhor do mundo; 2) na região do Cariri, pequenas fazendas dos filiados da Associação dos Produtores de Algodão do Ceará (Apece) que plantam e colhem algodão, o mesmo acontece: o produto é exatamente semelhante ao produzido no Egito.
Como isto pode ser provado hoje? Pelo exame laboratorial do Centro Tecnológico da Cadeia Produtiva da Fiec/Senai, cujos técnicos já examinam amostras do algodão da Nova Agro e da fazenda do Cariri, no Sul do Ceará. E os primeiros resultados estão a prenunciar excelentes notícias.
O que isto quer dizer? Resposta: que os investimentos até agora feitos pelas duas empresas serão multiplicados e que a área hoje cultivada será ampliada, e tudo no curto prazo. E que novos investidores chegarão.
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Ceará, Amílcar Silveira, estima que, em três anos, “ou menos”, a área plantada de algodão no Ceará alcançará os 5 mil hectares, “e com viés de alta”, adianta ele. Hoje, essa área – somente na Fazenda Nova Agro – é de 2mil hectares.
“O Laboratório da Fiec é uma contribuição inestimável para a cotonicultura cearense. E para outras áreas da agropecuária!”, disse Amílcar Silveira.
O CTCT da Fiec/Senai em Parangaba foi “o maior presente que a agroindústria algodoeira cearense recebeu nos últimos 30 anos”, como disse a esta coluna o empresário Raimundo Delfino, que hoje é o maior cotonicultor do Ceará. Entusiasmado com a chegada do moderno laboratório do CTCT, ele não tem dúvida do “bom futuro que nos aguarda”.
Delfino confirma que incrementará seus investimentos na lavoura algodoeira do Ceará com dois objetivos: primeiro, produzir para o consumo de suas fábricas brasileiras de fiação e tecelagem (além das localizadas no Ceará e Rio Grande do Norte, ele tem uma na cidade de Resistência, capital da Província do Chaco, no Norte da Argentina); depois, “daqui a uns dois, três anos”, abastecer de matéria-prima até as fábricas concorrentes, “que não precisarão mais importar algodão egípcio”.
Raimundo Delfino tem os pés no chão: “Vamos dar um passo de cada vez, e temos de fazê-lo na direção certa. Não podemos errar. E a possibilidade de erro reduziu-se a zero com a chegada do laboratório do Centro Tecnológico da Cadeia Têxtil do sistema Fiec/Senai”.
Vale lembrar: nos anos 60 e 70 do século passado, o Ceará chegou a ser líder nacional na produção de algodão, com até 150 mil toneladas/ano. A praga do bicudo, um inseto demoníaco, dizimou a lavoura algodoeira cearense, que agora renasce com toda a força.