Juros: indústria têxtil sugere ao BC uma distensão monetária
Fernando Pimentel, superintendente da Abit, diz que a Selic a 15% compromete o custo do crédito, o investimentos produtivo e a recuperação da atividade
Tem a economia brasileira o segundo maior juro real do mundo – o primeiro é o da Turquia. Na última quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, manteve a Selic no patamar de 15%, encerrando o ciclo de alta dos juros e abrindo a perspectiva de uma redução, se as condições internas e externas forem favoráveis.
A respeito do assunto, esta coluna conversou com Fernando Valente Pimentel, diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecções (Abit), que começou dizendo que Selic a 15% ao ano “exige uma avaliação sobre o início de um ciclo de distensão monetária”.
Pimentel, que é também um requisitado analista do que se passa na economia do país, avalia que, embora o Banco Central tenha sinalizado o fim do ciclo de alta, “o atual cenário econômico já permite considerar, com responsabilidade, o começo de um ciclo gradual de redução da taxa básica de juros”.
Ele entende que, mesmo com os índices inflacionários ainda acima do limite superior da meta, se observa uma tendência de convergência no horizonte relevante da política monetária.
“Ao mesmo tempo, porém, o patamar atual da Selic impõe ao país uma taxa real superior a 9% ao ano — uma das mais altas do mundo e a maior praticada no Brasil desde 2006 —, comprometendo o custo do crédito, os investimentos produtivos e a recuperação da atividade econômica”, acrescenta.
A Abit – adianta Fernando Pimentel – “reconhece os desafios adicionais decorrentes de um ambiente fiscal ainda pressionado e de fatores externos adversos, como a recente decisão dos Estados Unidos de impor tarifas elevadas sobre produtos brasileiros. Medidas desse tipo afetam diretamente as exportações e têm impacto relevante sobre o emprego industrial”.
Diante desse contexto, “nós da Abit entendemos que há espaço para o início de uma trajetória gradual de distensão monetária, e um sinal nessa direção traria confiança aos agentes econômicos e contribuiria para estimular o consumo, a produção e a geração de empregos — especialmente em setores intensivos em mão de obra, como o têxtil e o de confecção”.
O presidente da Abit reitera sua confiança “na autonomia técnica do Banco Central e acredita que uma política monetária sensível às transformações do ambiente macroeconômico será essencial para fortalecer o crescimento sustentável da economia brasileira”.
Para esta coluna, o Banco Central, por meio do seu Copom, está repetindo o mesmo diagnóstico e a mesma terapia usados pela gestão anterior da Autoridade Monetária, liderada pelo economista Roberto Campos Neto, indicado por Jair Bolsonaro. Agora, sob a liderança do também economista Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Lula, o Copom segue aplicando, exclusivamente, como antes, o mesmo rigor técnico na análise e na decisão a respeito das taxas de juros.
Mas, ao decidir pela manutenção da Selic no atual patamar, o time de 9 integrantes do Copom deu um grito de independência política, como se dissesse: “Sobre juros, somos nós que decidimos”. Decisão correta, mesmo porque o Banco Central cumpre a sua missão prioritária: combater a inflação, que permanece alta, mas começando a dar sinais de queda como resultado da política de aperto monetário.
Prioridade que não acontece, mas deveria acontecer, com a política fiscal do governo, que, de costas para o interesse nacional, continua a ser usada como catapulta de um projeto de reeleição: é só observar o andor da dívida pública e o custo do seu carregamento (os juros).
Os economistas insistem em dizer que a política fiscal – executada pelo Poder Executivo com a participação do Legislativo e do Judiciário, ambos contumazes gastadores -- são, e já faz tempo, incompatíveis.
A restrição monetária imposta pelo Banco Central inibe – para não dizer rejeita – novos investimentos do setor produtivo, que, em sua maioria, prefere investir em títulos públicos, aqui e fora daqui. Por que correr riscos, se, além da incerteza fiscal, ainda pesa a insegurança jurídica?
Mas, retomando o início deste texto, é muito válida e oportuna a opinião do presidente da Abit, para quem é necessário dar início a um ciclo de distensão monetária.