Hub do Hidrogênio Verde no Ceará é viável, diz engenheiro

Especialista em energia, José Carlos Braga rebate o economista e também engenheiro Marcos Holanda, ex-presidente do BNB, que destacou pontos que inviabilizam o projeto do H2V no Ceará.

Legenda: Para tornar-se Verde, o Hidrogênio precisa ser produzido com energias renováveis, limas
Foto: Shutterstock

Para o engenheiro José Carlos Braga, um especialista em energia, principalmente as renováveis, o economista e, também, engenheiro Marcos Holanda, ex-presidente do BNB, equivoca-se ao argumentar contra a viabilidade de implantação do projeto do Hub de Hidrogênio Verde do Ceará. Para começar, Braga refuta a alegação de Holanda, segundo a qual a produção do H2V terá de ser subsidiada pelo governo estadual ou federal.

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“O subsídio para viabilizar a produção de H2V, ao contrário do que foi dito, não será bancado pelo contribuinte brasileiro, e sim pelas nações mais ricas, porque necessitam desesperadamente da mudança em suas matrizes energéticas, sob pena de sucumbirem vertiginosamente, posto que são responsáveis por mais de 80% das emissões de CO2”, rebate José Carlos Braga.

Em texto redigido com exclusividade para esta coluna, ele pede licença para se contrapor às alegações do economista Marcos Holanda e afirma que “não há como trazer desenvolvimento ao hemisfério sul do Planeta sem criar rotas e produtos de exportação com alto valor agregado”.

Eis, a seguir, a íntegra do texto do engenheiro José Carlos Braga: 

“Peço vênia para discordar do economista/engenheiro Marcos Holanda sobre o Hub de Hidrogênio Verde no Ceará/Brasil, cujas opiniões, a meu sentir, contêm distorções diante dos fatos.

“O Hidrogênio Verde, petróleo do século XXI, escancara-se para nós cearenses e nordestinos como uma enorme janela de oportunidades a guindar-nos de uma economia hoje fortemente arraigada ao setor primário para um estado da arte em produção tecnológica e manufaturas, serviços e bem-estar social.

“O subsídio para viabilizar a produção de H2V, ao contrário do que escreveu o professor Marcos Holanda, não será bancado pelo contribuinte brasileiro, e sim pelas nações mais ricas, porque necessitam, desesperadamente, da mudança em suas matrizes energéticas, sob pena de sucumbirem vertiginosamente, posto que são responsáveis por mais de 80% das emissões de CO2, e, ao persistirem nesse ritmo, a raça humana correrá sério risco de extinção prematura, a começar por suas próprias populações: Europa, USA, Japão, China, Tigres Asiáticos, Índia etc.

“O Hidrogênio cinza/azul, extraído do petróleo, tende a desaparecer a médio prazo, e até lá a indústria química, metalmecânica, de alimentos, transportes, energia etc utilizarão, de forma crescente o H2V, tendo o seu custo reduzido em função da escala a ser demandada.

“O Brasil tem potencial suficiente para consumir e exportar energia Verde em enorme quantidade, seja em forma de energia elétrica, hidrogênio, amônia etc, bastando para isso que haja política pública consequente.

“Sendo assim amplia-se a chance de estabelecermos indústrias verdes por aqui, também.

“Não há como trazer desenvolvimento ao hemisfério sul do Planeta sem criar rotas e produtos de exportação com alto valor agregado. 

“Assim, pelas nossas excelentes condições de vento, sol, terras e mares, poderemos tornar-nos um dos maiores exportadores de H2V, trazendo uma densa quantidade de recursos externos que permitirão fazer investimentos em saúde, alimentação, educação, energia, tecnologia, saneamento, mobilidade, habitação e infraestrutura.

“Seu transporte depende da distância do consumo, podendo ser via gasodutos, liquefeito, ou, a grandes distâncias, em navios-tanque na forma de amônia (NH3).

“No Ceará, águas dessalinizadas, de reuso ou da transposição poderão ser utilizadas.

“Greenwashing, lavagem verde ou maquiagem verde são expressões de marketing utilizadas por empresas que dizem aplicar sustentabilidade em seus processos, mas na verdade não o fazem efetivamente. 

"Soa-me irresponsável, entretanto, supor que o governo do Ceará esteja aplicando essa estratégia, tendo em vista a profunda seriedade com que o tema vem sendo tratado.

“Admito supor algumas iniciativas de ‘players’ que se apresentam na mídia local e d’alhures, prometendo produções hiperbólicas no Hub do Pecém em prazos inexequíveis com a realidade, principalmente pela disponibilização da energia no tempo prometido. Porém a maioria tem plenas condições de cumprir as propostas preconizadas em períodos compatíveis com a realidade.

“Ao contrário do prognóstico do professor Marcos Holanda, entendo que a iniciativa da produção do Hidrogênio Verde em grande escala no Ceará poderá catapultar a terra alencarina a níveis inversamente proporcionais ao sofrimento histórico pelo qual a maioria da população vem atravessando.”