Já tem comprador o Hidrogênio Verde que será produzido na primeira fase de operação do Hub do H2V do Pecém. Hoje, quarta-feira, primeiro dia do Fiec Summit 2023, nio Centro de Eventos, o CEO da ArcelorMittal Pecém, Erick Torres, surpreendeu o atento auditório, ao dizer, com outras palavras, o seguinte:
“O Hidrogênio Verde do Pecém não pode ser exportado. O gigante mercado interno brasileiro precisa dele. E no Ceará, a ArcelorMittal comprará a produção”.
Ele foi aplaudido, e quem puxou os aplausos foi o presidente da Federação das Indústrias (Fiec), Ricardo Cavalcante, que, mediante o debate, desafiou os representantes da Casa dos Ventos e da Fortescue a fecharem os primeiros contratos naquele momento.
A surpreendente revelação de Erick Torres foi feita durante um painel que apresentou os negócios atuais das grandes empresas nacionais e estrangeiras da área de energias renováveis com unidades industriais instaladas e em operação no Ceará – a Fortescue, a Casa dos Ventos, a Vestas, a Aeris e a ArcelorMittal.
Quem primeiro falou foi Luís Viga, CEO da Forstecue, quarta maior mineradora do mundo, com sede na Austrália e atuação em mais de 100 países. Ela é a maior investidora do mundo em Hidrogênio Verde.
De acordo com Viga, a Fortescue está no Ceará pelo grande potencial de que dispõe o estado, a começar pelo Porto do Pecém, geograficamente equidistante da Europa e dos EUA, e pelas excelentes condições naturais existentes para a geração das energias solar e fotovoltaica onshore e offshore.
Ele revelou que a planta da Fortescue para a produção do H2V na ZPE do Ceará no Pecém contará com uma usina de dessalinização da água do mar, mas também terá a oferta de água de reuso, “uma iniciativa do Governo do Estado, algo que não há em outro lugar”.
Luís Viga foi direto ao ponto: o Governo Federal e o estadual cearense precisam de criar incentivos que estimulem a iniciativa privada a acelerar seus empreendimentos, citando o caso dos EUA, cujo governo está dando incentivos que somam mais de US$ 300 bilhões aos investimentos para a produção do Hidrogênio Verde.
Por sua vez, Fernando Elias, gerente de Regulação da Casa dos Ventos, informou que todas as empresas da área de energia que estão no Ceará trabalham no modo cooperação com o objetivo de fazer com que os primeiros projetos de produção do H2V “saiam logo do papel”.
Ele chamou atenção para o fato de que será necessário que o governo acelere os leilões de novas linhas de transmissão de energia, pois as atuais estão sobrecarregadas, e este é um dos obstáculos que precisarão ser superados antes que entrem em funcionamento as primeiras usinas de produção do Hidrogênio Verde, cuja operação necessitará de muita energia renovável.
Em seguida, falou Erick Torres, da Arcelor Mittal, que contou uma historinha interessante: ele foi chamado pelo comando mundial da empresa para fazer a “due diligencie” (pesquisa e investigação profunda sobre uma empresa) com vistas à possível aquisição da usina siderúrgica do Pecém. Aditya Mittal, presidente da corporação, perguntou-lhe:
“Então, o que você acha desse negócio?”
Torres respondeu:
“Se o dinheiro fosse meu, eu compraria”.
Duas semanas depois, o sr. Mittal disse a Rick Torres:
“Seguimos a sua sugestão e compramos a CSP. Mas, agora, é você vai dirigi-la.”
O auditório aplaudiu, e este detalhe certamente incentivou o CEO da ArcelorMittal Pecém a prosseguir falando com mais entusiasmo. Depois de apresentar números mundiais, todos superlativos, de sua empresa, Torres enalteceu a qualidade da mão de obra cearense, com a qual a siderúrgica produz e vende, anualmente, 15 milhões de toneladas de diferentes tipos de aço.
Mas isso é muito pouco. Ele disse que 11 dias de produção de aço na China corresponde à produção anual de toda a siderurgia brasileira.
Mas assegurou que a siderúrgica do Pecém é uma das mais modernas do mundo, produzindo alguns tipos de aço sem similar no planeta.
Erick Torres anunciou que o board da ArcelorMittal já aprovou o investimento de US$ 9 milhões para o estudo de verticalização da siderúrgica do Pecém, cujo objetivo é a implantação de uma unidade de laminação para a produção de aços planos...verde, ou seja, fabricados com energias renováveis.
E emendou, antes de encerrar sua fala, com o apelo – dirigido aos representantes das outras empresas que participaram do painel – no sentido de que o Hidrogênio Verde a ser produzido no Hub do H2V do Pecém não seja exportado, mas vendido à ArcelorMittal, que tem uma meta para o médio prazo: fabricar aço verde.
Alexandre Negrão, CEO da Aerys, maior fabricante de pás eólicas da América Latina, dona de 80% do mercado nacional e de 5% do mercado mundial, falou em seguida. E disse que sua empresa tem três unidades fabris no Pecém, onde se instalou atraída pelo seu moderno Complexo Industrial e Portuário.
Hoje, com a mão de obra especializada de 6 mil funcionários, entre os quais muitos engenheiros, a Aerys fabrica e comercializa pás eólicas de até 84 metros de comprimento (até menos de cinco anos atrás, essas pás tinham 45 metros de comprimentos; hoje a menor pá da Aerys mede 72 metros).
Negrão advertiu que, apesar de todo o potencial que o Brasil – e o Ceará, principalmente – tem para tornar-se uma potência mundial na produção e exportação do Hidrogênio Verde, “corremos o risco de ficar para trás”, porque até agora o governo brasileiro não cuidou de criar incentivos para essa nova indústria que está nascendo.
E, repetindo os oradores que o antecederam, Alexandre Negrão lembrou que os EUA e a Europa criaram e já oferecem incentivos aos seus investidores.
Depois dele, falou Leonardo Euler de Morais, da Vestas, empresa dinamarquesa que é maior fabricante mundial de turbinas eólicas, com fábrica em Aquiraz e atuação em quase 90 países. Ele disse que as turbinas produzidas pela sua unidade cearense alcançaram hoje a potência de 6 GW.
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