Na cerimônia com que a Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Ceará (FCDL) homenageou o presidente da Federação das Indústrias (Fiec), Ricardo Cavalcante, entregando-lhe o Troféu Clóvis Rolim, seu presidente, Freitas Cordeiro, pronunciou um discurso que, pelo inédito conteúdo, merece ser aqui referido.
E foi no palco do centenário Theatro José de Alencar, com plateia lotada de ternos escuros e longos vestidos..
Freitas Cordeiro, um intelectual, começou citando Albert Einstein: “No meio da confusão, encontre a simplicidade. A partir da discórdia, encontre a harmonia. No meio da dificuldade, reside a oportunidade.”
E argumentou à guisa de intróito:
“Confesso que, envolto no redemoinho de acontecimentos que nos acossaram nestes últimos tempos, deparei-me com sérios embaraços para vos encaminhar esta fala que, ao tempo em que retrata verdades cruas, aferra-se a devaneios de um mundo surreal, onde a felicidade é sonho que se materializa na terra do nunca.”
Em seguida, ousou. Inspirando-se numa canção de Chico Buarque, composta e gravada em 1970, mas pedindo vênia ao consagrado autor e usando a liberdade poética, Freitas Cordeiro parodiou os versos de “Gente Humilde” nos seguintes termos:
“Tem certos dias em que penso em nossas pequenas empresas, principalmente as do interior, e sinto assim todo o meu peito se apertar. Porque parece que me acontece de repente um forte desejo de lhes levar benefícios e soluções, sem me permitir fraquejar.
“E lhes confesso: ali vejo o quanto o cearense é um forte!
“Igual a quando, embarcado num carrão, passo pelos pequenos municípios e subúrbios, eu muito bem, vindo de algum lugar...E aí me dá um orgulho dessa gente que segue em frente, enfrentando todos os percalços da atividade comercial, a grande maioria envelopada em pequenos negócios, sobrevivendo a uma carga escorchante de tributos, sem nem ter com quem contar.
“Contemplo então um cearense destemido, bravo, guerreiro!
“São pontos comerciais simples, na fachada está escrito que é um bar, um Méqui Done, um Supermercado do Zé, com cadeiras nas calçadas, rodeando as mesas de sinuca, mas com muita alegria que não sei de onde brota...
“Reafirmo: o cearense é criativo e ama a vida.
“E, nesta hora, me dá uma tristeza no meu peito, face à evidência de que preciso triplicar as forças para lutar... e eu, que não creio, peço a Deus por minha gente, é gente tão humilde, altiva, guerreira, empreendedora, resiliente e amiga que só me fortalece a decisão de permanecer.
“Abraçado ao desafio de distribuir a esperança, na certeza de que alcançarão, em um futuro que seja próximo, a felicidade, que habita o coração dos povos livres.
“E aqui, proclamo: quanto mais cearense sou, mais orgulho eu tenho de ser.”
Freitas Cordeiro foi merecidamente aplaudido ao final do seu discurso, que se ocupou, naturalmente, das virtudes do homenageado, merecida e oportunamente ganhador da maior comenda do comércio cearense.