Energia offshore: não há lobby, mas custo muito alto

O Capex de um projeto de geração eólica dentro o mar é cerca de 90% mais caro do que o de um parque em terra firme, diz o engenheiro de uma grande empresa do setor de energia

Legenda: O custo de instalação de um parque eólico offshore é bem maior do que o de um onshore (em terra firme)
Foto: Shutterstock

Um engenheiro dos quadros técnicos de uma grande empresa do setor de energia com atuação nacional disse ontem à coluna que não há, como aqui foi dito, um lobby contra a regulação da geração de energia eólica offshore. 

“O que existe são os altos custos exigidos hoje, no Brasil e no resto do mundo, para a implantação de projetos de geração de energia dentro do mar”, ele disse, resumindo a questão. Para tornar-se mais explícito, o engenheiro, como se estivesse falando para atentos investidores, acrescentou:

“Para o conhecimento dos seus leitores, informo que o Capex – nome técnico que se dá ao investimento aplicado na execução do projeto offshore – é cerca de 90% mais caro do que o mesmo Capex de um projeto de geração onshore (em terra firme)”.

Depois, a mesma fonte encheu os pulmões de ar e prosseguiu na mesma toada:

“Tem mais: o Opex – que é o custo de operação e manutenção de um projeto offshore – chega a ser até 180% maior do que o de um empreendimento onshore”. 

Falando como o senhor da razão, o engenheiro concluiu:

“Assim, com a abundância de projetos eólicos onshore na região do Nordeste brasileiro – o Ceará no meio, com a geração centralizada de parques solares com preços de instalação e operação bem menores e com a constatação de quem hoje, estão sobrando projetos por falta de demanda, não justifica a existência de um lobby para gerar energia muito mais cara. Seria uma contradição”

Como a coluna revelou nesta semana, grandes players mundiais do setor das energias renováveis, principalmente os que atuam na linha de frente da geração offshore, estão suspendendo novos investimentos, desfazendo contratos e adiando decisões sobre novos projetos de parques eólicos dentro do mar na Europa e nos Estados Unidos. 

Há várias razões, entre elas os juros que subiram bastante nos últimos quatro anos e o custo dos insumos que, igualmente, se elevaram a ponto de inviabilizar investimentos no Mar do Norte e no Litoral Nordeste dos Estados Unidos. 

Mas há opiniões contrárias às do engenheiro ouvido por esta coluna, e elas indicam, para começar, que, no caso do Ceará – que tem em análise no Ibama mais de 10 projetos de geração offshore – a grande vantagem é a pouca profundidade do mar ao longo dos seus 600 quilômetros de costa – algo menor do que 10 metros, o que sugere a possibilidade de fixação das torres eólicas no chão do oceano a um custo raquítico se comparado com o de águas profundas.

No Mar do Norte e, também, no litoral do Nordeste norte-americano, a instalação de uma torre eólica, de aço, exige a mão de obra de mergulhadores e o uso de embarcações especiais, o que realmente faz crescer o custo do investimento. Nada, porém, que a tecnologia não resolva, como, aliás, tem resolvido, pois há em operação vários parques eólicos dentro do mar da Europa e dos EUA. Sem se falar na China, onde a geração offshore segue crescendo na velocidade do frevo.

Há problemas que as grandes empresas ocidentais – como a Siemens e a Vestas – enfrentam, e entre eles podem ser citados a inflação, as tensões geopolíticas agravadas pelas guerras na Ucrânia e no Oriente Médio, a interrupção na larga cadeia de suprimentos e os atrasos na implantação de projetos. 

Constata-se, agora, que a tecnologia e a inovação avançaram além do esperado, principalmente na China, onde em julho de 2023 entrou em operação uma turbina de 16 MW instalada no parque Mingyang Yangjiang Qingzhou, no Mar do Sul da China. Ela tem um rotor de 260 metros de diâmetro, algo digno da melhor engenharia chinesa.

As empresas do Ocidente não se impressionam com os números superlativos chineses. Elas estão certas de que os novos modelos de turbina ocidentais ainda têm um caminho a percorrer até que alcancem economia de escala. 

Por isto, há uma tendência hoje pela simplificação dos processos de fabricação de turbinas. Como a necessidade da descarbonização do planeta exige a rápida substituição das energias fósseis por energias renováveis, a aposta é no sentido de que a Europa e os EUA terão de correr para alcançar a energia verde em escala antes de 2030. 

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