Um dia depois de encerrada a badaladíssima Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, batizada de COP 28, realizada em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, o sultão Al Jaber, que a presidiu, concedeu entrevista ao jornal britânico The Guardian, que surpreendeu pelo seu conteúdo. Ele disse que sua empresa Adnoc (a Petrobras dos emirados) “precisa atender à demanda por combustíveis fósseis”.
Isto dá a exata medida do que foi esse evento midiático, que, para o observador politicamente neutro, não passou, do ponto de vista brasileiro, de um grande piquenique do qual participaram 1.337 nacionais, a maioria servidores públicos de todos os escalões – federais, estaduais e municipais (o Ceará deu sua contribuição) – que viajaram às expensas do erário. Ou seja, foram e voltaram com tudo pago pelo contribuinte, cuja generosidade parece infinita.
Ora, um dos objetivos da COP 28 era estabelecer um marco temporal para o fim do uso dos combustíveis fósseis e o início de um novo tempo para a produção e utilização em massa das energias de fontes renováveis e de um novo combustível limpo, não agressor da atmosfera – o Hidrogênio Verde. Um lindo sonho, mas difícil de ser alcançado enquanto houver petróleo, gás natural, carvão mineral e xisto.
Ao fim da conferência, sua cúpula dirigente divulgou um documento em que se ampliam as dúvidas a respeito do que farão, de hoje e até 205, as quase 200 nações signatárias.
Os países produtores de petróleo – e o Brasil é um deles, com produção em vias de crescimento em virtude da próxima exploração da Bacia Equatorial, que se estende desde o Amapá até o Rio Grande do Norte – querem manter a exploração e a venda do seu óleo e do seu gás. Sob o deserto do Golfo Pérsico ainda há, inexplorados, oceanos de petróleo e gás com os quais sonha o mundo árabe, a começar pelos líderes da Arábia Saudita.
Assim, a COP 28 foi contraditória desde antes de ser instalada. Contradição que se mantém tendo em vista o que falam, de um lado, os ambientalistas e, de outro, os líderes dos governos dos petropaíses, como os Emirados Árabes que se mostram hoje mais unidos do que nunca.
O sultão Jaber – conclui-se de sua entrevista – está mais interessado em garantir os petrodólares advindos do grande negócio dos seus emirados do que em antecipar os prazos para a descarbonização do planeta. Enquanto essa contradição prospera, elevam-se as temperaturas nos cinco continentes e multiplicam-se as inundações e as estiagens nas diferentes regiões da Terra.
Até 2022, o Brasil era acusado pela mídia internacional de ser o maior devastador mundial de florestas. De janeiro deste ano para cá, cessaram as denúncias de incêndios na selva amazônica, onde, porém, por força do El Niño – que é mais uma consequência das agressões humanas à natureza – os rios da região secaram, paralisando o transporte rodoviário e fluvial de mercadorias produzidas na Zona Franca de Manaus.
Não há dúvida de que a antropização – a ação deletéria do homem sobre o meio ambiente – causou e vem causando o aquecimento global. Os combustíveis fósseis e seu uso exagerado alargaram esse crime. Agora, toda a atenção da ciência e da tecnologia volta-se para a redução dos custos de produção das chamadas energias limpas e do já denominado “combustível verde do Século XXI”, o H2V.
Os cientistas, principalmente os das grandes empresas privadas ligadas ao setor de energia, têm avançado em suas pesquisas. O que já se fez e se faz no Mar do Norte, principalmente nas águas da Noruega, Dinamarca e Suécia, onde se implantaram e se implantam projetos de geração de energia eólica offshore, é algo muito promissor para garantir a produção em escala do Hidrogênio Verde.
O mundo, que gasta oceanos de dinheiro em guerras, poderia investir mais, e pacificamente, na produção do H2V, que – diz e garante a ciência – livrará o mundo de sua autodestruição.