Eis o que, no dia 19 de janeiro deste ano, divulgou o site da Funceme: “O prognóstico climático para o trimestre fevereiro, março e abril indica que o Ceará tem 45% de chances de chuvas abaixo da média, 40% de probabilidade para a categoria em torno da normalidade e 15% para acima dela.” Nesta previsão acreditaram os empresários Raimundo Delfino, dono da Fazenda Nova Agro, na Chapada do Apodi, na geografia de Limoeiro do Norte, e Cristiano Maia, com fazendas agropecuárias em municípios do Vale do Jaguaribe, razão por que decidiram reduzir ao mínimo seus investimentos na lavoura.
A mídia -- esta coluna no meio -- embarcou na narrativa técnica de uma possibilidade de prolongada estiagem que colocaria em risco o abastecimento das cidades da Região Metropolitana de Fortaleza e as atividades econômicas da Região do Jaguaribe, onde há um polo agropecuário em acelerado crescimento.
A natureza desmontou, contudo, a previsão da Funceme, e as chuvas caíram em janeiro, fevereiro e março e seguem caindo neste abril de chuvas mil.
“Tive um prejuizão. Eu estava pronto para plantar algodão em 2.500 hectares, mas, diante do alerta da Funceme, reduzi a área cultivada para 800 hectares. E o algodão que está surgindo é uma beleza de bom, com fibra longa, elasticidade e suavidade iguais às do algodão egípcio”, lastima Raimundo Delfino, na opinião de quem a Funceme deve buscar novos modelos científicos para monitorar o clima.
Opinião semelhante tem Cristiano Maia, que, feliz por ver cheios e vertendo todos os açudes de suas fazendas jaguaribanas, está a lamentar o que considerou prognóstico equivocado da Funceme, por causa do qual, como Delfino, reduziu a área plantada de suas terras, cultivando apenas “o mínimo necessário”.
Os dois empresários – que também atuam na indústria (Delfino na área de fiação e tecelagem e Maia na de ração para animais e na construção pesada) – contaram para um grupo de colegas agropecuaristas a frustração que sentem agora por não terem plantado a quantidade de sementes que pretendiam.
Eles têm razão: se, em janeiro, Raimundo Delfino tivesse cultivado de algodão os 2.500 hectares que pretendia, sua safra algodoeira representaria neste ano perto de 50% das necessidades de sua indústria de fiação.
Por sua vez, Cristiano Maia – que, replicando Delfino, apostou no que previu a Funceme – chora hoje a decepção com a pouca safra de milho, feijão e sorgo que colherá nas próximas semanas. Maia sonhou com uma colheita capaz de alimentar seu rebanho de bois, carneiros e cavalos durante o ano todo.
Porém, desta vez, a ciência perdeu para os caprichos da natureza. Pior: perdeu, também, para os chamados “profetas da seca”, que, reunidos em janeiro em Quixadá, anunciaram um 2024 com boas chuvas – e é o que está acontecendo.
Mas a Funceme precisa de uma defesa, e ela está clara no que, em janeiro passado, indicavam os modelos dos diferentes institutos que acompanham o clima no planeta. Esses modelos indicavam a presença de um El Niño forte que avançaria pelo primeiro trimestre deste ano. As águas do Pacífico Equatorial, surpreendentemente, aqueceram. E as do Atlântico, também. E o resultado é este que aí está. Boas chuvas, que, porém, não chegaram a algumas regiões do Ceará, como a dos Inhamuns, onde está Tauá.
Inobstante a contrariedade, Raimundo Delfino e Cristiano Maia disseram à coluna que manterão seus planos. Delfino quer tornar-se o maior cotonicultor do Ceará – e para isto segue investimento na sua Nova Agro, onde também cultiva soja em regime de sequeiro (só com água da chuva) e por irrigação, aproveitando o rico subsolo da Chapada do Apodi. Ele usa tecnologia moderna para irrigar, razão pela qual produz mais algodão e soja com menos água.
E Cristiano Maia aproveitará seus açudes cheios para garantir boa alimentação para seus rebanhos. Seu gado bovino é de corte (para abate e venda da carne) e, também, leiteiro. Agropecuária é uma atividade que, bem gerenciada, tem retorno assegurado, embora a carcinicultura, do ponto de vista econômico e financeiro, seja muito melhor, Deve ser lembrado que Maia é o maior criador de camarão do Brasil.
As chuvas deste ano encheram os açudes ao longo dos 600 quilômetros de litoral que tem o Ceará. A agricultora Rita Granjeiro, que produz coco e feijão verde em sua Fazenda Granjeiro, em Paraipaba, revelou à coluna que “nunca choveu tanto na nossa propriedade”. Luiz Roberto Barcelos, sócio e diretor Institucional da Agrícola Famosa, repete a mesma informação: “Em Icapuí e em Mossoró, onde estão nossas fazendas de melão e melancia, a pluviometria está sendo espetacular”, ele contou.
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