Camarão cearense sob ameaça fitossanitária vinda do Equador

Carcinicultores cearenses fizeram manifestação contra a importação do camarão equatoriano, que é infestado por doenças inexistentes no Brasil

Legenda: Centenas de produtores cearenses de camarão protestaram em Limoeiro do Norte contra a importação de camarão do Equador
Foto: Egídio Serpa

“Camarão importado, aqui não!” Com este apelo, centenas de pequenos carcinicultores dos municípios do Vale do Jaguaribe promoveram sábado, 17 – sob a coordenação da Federação da Agricultura (Faec), da Associação dos Produtores de Camarão do Ceará (APCC) e da Associação Nacional da Cadeia Produtiva do Camarão (Camarão BR) – uma manifestação contra a importação de camarão do Equador e da Argentina. 

Causa do protesto: o camarão argentino e o equatoriano são atacados por doenças que não existem no Brasil, o que ameaça a carcinicultura nacional, que na verdade é nordestina, pois 99% da produção originam-se no Ceará (54%), no Rio Grande do Norte (27%), no Piauí (12%) e na Paraíba (6%). 
 
A manifestação foi aberta pelo presidente da APCC, Luiz Paulo Sampaio, que se manifestou contente pela grande presença de criadores de camarão ao evento, “o que mostra a nossa força”.

Depois, falou o presidente da Associação dos Carcinicultores do Perímetro Irrigado de Morada Nova (ACPIMN), David de Castro Neto, na opinião de quem o pequeno produtor de camarão ainda é desassistido, mas esta situação está mudando porque “já descobrimos que só a união nos fortalece, e esta bandeira contra a importação do camarão estrangeiro é mais um movimento que serve para a nossa união!”

Stélio Aguiar, carcinicultor de Camocim, usou a palavra em seguida para afirmar que estava ali em nome dos seus colegas do Litoral Norte do estado, para prestar solidariedade e apoio ao movimento contra a importação do camarão do Equador e da Argentina.

Luiz Mendes, criador de camarão no Rio Grande do Norte, fez também um discurso rápido, dizendo que “esta reunião de Limoeiro do Norte é muito importante por vários motivos!”, citando como primeiro a manifestação de unidade dos carcinicultores cearenses e, como segundo, o fato de que tem crescido a assistência técnica prestada pelo Senar-Ceará aos que produzem camarão neste estado. Ele disse, ainda: “Todos vocês estão mudando de vida, e para melhor, graças à carcinicultura”.

Dilmar Amaral, ex-prefeito de Limoeiro do Norte e, também, carcinicultor, discursou por um minuto, tempo suficiente para dizer e repetir que “a união faz a força; continuemos assim, unidos como agora estamos”.

A superintendente de Pesca da Codevasf no Ceará, Keivia Dias, confessou na sua fala que não tinha ideia da importância da carcinicultura. “Sou desta região, mas desconhecia o tamanho e a relevância econômica e social da criação do camarão”, disse ela. Mais adiante, referiu-se aos que trocaram a rizicultura pela carcinicultura no Vale do Jaguaribe, parabenizando-os pela decisão (a criação de camarão é três vezes mais rentável do que o cultivo de arroz). No final, Keivia acenou para o auditório, dizendo, alto e bom som: “Estamos juntos para impedir que o camarão estrangeiro entre aqui. Camarão importado, aqui não!”

Outro criador de camarão, José Humberto, representando seus colegas de Palhano, discursou, e começou dizendo que no seu município há hoje 35 carcinicultores, “que estão aqui para fortalecer nossa posição contra a importação do produto estrangeiro”. No final de sua fala, ele disse: 

“Ou é agora ou a gente se lasca. Assim, precisamos de que cada um de nós trabalhe pelo êxito deste movimento de protesto contra a importação”.

O penúltimo a falar foi Cristiano Maia, maior criador de camarão do país, dono de duas fazendas de produção no Ceará e uma – a Potiporã, maior do Brasil – no Rio Grande do Norte. Ele começou dizendo que, logo que comprou a Potiporã do Grupo Queiroz Galvão, tratou de ampliar e modernizar o seu laboratório de análises e pesquisas, que está localizado na cidade potiguar de Touros. E contratou um cientista australiano, maior autoridade mundial em biologia da carcinicultura, que passou três anos pesquisando, treinando e transmitindo conhecimento aos técnicos da Potiporã. 

“Esse trabalho, que hoje prossegue, resultou no combate efetivo e exitoso à praga da mancha branca. As pós-larvas da Potiporã, que são comercializadas para todas as fazendas da carcinicultura no Nordeste, estão há alguns anos imunes da mancha branca, mas nosso laboratório está preparado para agir se, outra vez, surgir essa doença”, disse Cristiano Maia.
 
Ele também informou que, até que uma doença da carcinicultura seja eliminada, se passam seis gerações de famílias do camarão até que se crie nova família. 

“É, pois, um trabalho permanente, que exige muita atenção e dedicação dos nossos especialistas”, ele explicou.

Cristiano Maia anunciou que, na companhia do presidente da Faec, Amílcar Silveira, e do governador do Ceará, Elmano de Freitas, visitará, nos próximos dias, em Brasília, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, com quem o grupo tratará dos problemas que poderão ser causados pela importação do camarão do Equador. 

O problema principal diz respeito à existência de mais de 10 doenças que infestam o produto equatoriano. Essas doenças inexistem no Brasil, mas poderão existir se essa importação prosseguir. 

“Não temos problemas com custos de produção. Nosso problema é fitossanitário. O camarão brasileiro está livre das doenças que atacam o produto equatoriano, e importá-lo será, também, importar doenças”, afirmou Cristiano Maia, acentuando que essa importação ameaça uma atividade econômica que cresce no Brasil, criando emprego e renda para os brasileiros.

Neste momento, lembrou Cristiano Maia, o Equador enfrenta outro problema: a superprodução. “Eles têm mais oferta do que demanda, e querem desovar aqui esse excesso de produção”, disse ele. 

Os Estados Unidos e o México barraram a pretensão dos equatorianos, que agora estão desovando no Brasil a sua superprodução. Pressionado pela Organização Mundial do Comércio (OMC), o governo brasileiro – lembrou Cristino Maia – está mantendo a importação do camarão do Equador, “mas essa importação pode trazer para a nossa carcinicultura doenças aqui inexistentes, e este é o grande perigo que corremos”.

Amílcar Silveira, o último orador da manifestação, iniciou sua fala transmitindo uma excelente novidade: “Estamos trabalhando para trazer para São João do Jaguaribe uma unidade industrial de beneficiamento de camarão, sobre a qual eu e o Cristiano Maia trataremos segunda-feira (hoje, 19) com o secretário do Desenvolvimento Econômico, Salmito Filho”.

Com essa indústria de beneficiamento, os carcinicultores do Vale do Jaguaribe agregarão valor ao seu camarão, que é quase todo consumido pelos restaurantes das cidades da região.

O presidente da Fiec aproveitou sua fala para criticar a ação da Cogerh, cujos fiscais interditaram, na semana passada, a cacimba de um pequeno produtor rural, sob a alegação de que ele não tinha outorga para usar a sua água. 

“Meu Deus, sem a água dessa cacimba, que ele mesmo perfurou com seu dinheiro, de que vai viver esse produtor rural? É muita falta de sensibilidade da Cogerh”, protestou Amilcar Silveira, dizendo que sobre o assunto já conversou com o secretário Executivo da Secretaria de Recursos Hídricos, Ramon Rodrigues.   

A manifestação dos carcinicultores jaguaribanos, realizada no Ginásio Coberto da cidade de Limoeiro do Norte, foi encerrada com todos gritando, literalmente: “Camarão importado, aqui não!”

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