Ontem, a Bolsa de Valores brasileira B3 fechou em queda de 1,04%, aos 101.922 pontos. O dólar caiu, fechando o dia cotado a R$ 5,24.
A B3 não seguiu as bolsas estrangeiras, que tiveram um dia de alta como resultado da calma que voltou aos mercados dos Estados Unidos, da Europa e da Ásia depois que os bancos centrais se uniram para garantir a sobrevivência de bancos norte-americanos e, principalmente, do Credit Suisse, o segundo maior banco da Suíça, que foi comprado pelo UBS.
Com essa aquisição, o UBS passa a ser um gigante administrando ativos estimados em mais de US$ 5 trilhões.
No Brasil, o que prejudicou a performance da Bolsa no dia de ontem foram novas declarações do presidente Lula, que, ao relançar o programa Mais Médicos, voltou a criticar as altas de juros.
Ele disse que a saúde pública do Brasil não pode ser refém das taxas de juros, num recado direto ao Banco Central, cujo Comitê de Política Monetária se reúne hoje e amanhã para definir se reduz, mantém ou aumenta a taxa básica de juros Selic, estacionada desde agosto do ano passado no patamar de 13,75%.
As críticas de Lula surgem numa semana conturbada. Além da reunião do Copom, há a expectativa em torno da divulgação das linhas mestras da nova matriz fiscal do governo, cuja proposta está sob análise do presidente Lula e de alguns dos seus ministros.
Mas, antes mesmo de ser revelada, a proposta do novo arcabouço fiscal vem sendo alvo do fogo amigo, ou seja, de dentro do próprio governo e, principalmente, do comando do PT.
Tentando acalmar as coisas no governo e no mercado financeiro, o vice-presidente Geraldo Alckmin disse ontem, em evento promovido pelo BNDES, que o novo modelo fiscal do governo olhará para a dívida pública, para o resultado primário, ou seja, para o déficit atual do orçamento, e, também, para o teto de gastos, dando a entender que o governo não se descuidará da austeridade fiscal.
Alckmin não poupou elogios ao ministro Haddad e disse que a proposta da nova ancoragem fiscal é inteligente, bem-feita e que vai trazer bastante segurança na questão fiscal.
Porém, para colocar mais lenha na fogueira, o economista Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia, afirmou, no mesmo evento do BNDES, que os juros atuais, praticados no Brasil, são chocantes e equivalem à pena de morte.
Na sua opinião, os preços das coisas estão altos no mundo todo por causa dos efeitos da pandemia e da guerra na Ucrânia, e não como resultado de demanda aquecida.
Ele afirmou: “De fato, são chocantes os juros de 13,75% ao ano ou de 8% em termos reais, e isto é capaz de matar uma economia como a brasileira”.
Spiglitz também disse que uma parte da sobrevivência a essas altas taxas de juros se deve à existência de bancos de fomento, como o BNDES.
Ele sugeriu que são os investimentos que devem responder aos problemas causados à economia pela guerra e pela pandemia, mas, afirmou, a taxa de juros elevada impede esses investimentos.