Marquise entra na energia solar e já cuida da sucessão

José Carlos Pontes, presidente financeiro da corporação, revelou para cerca de 100 jovens empresários da AJE Fortaleza seus planos para este ano, que preveem receita de R$ 2,4 bilhões.

Jovens empresários da AJE Fortaleza, reunidos ontem na hora do almoço, ouviram do empresário José Carlos Pontes, presidente financeiro do Grupo Marquise, duas notícias importantes:

A primeira é esta: ele e seu sócio meio a meio Erivaldo Arrais, presidente de operações do grupo, decidiram investir, também, em energias renováveis, e escolheram a geração solar fotovoltaica como o foco desse investimento; 

Eis a segunda: os dois contrataram uma consultoria para encaminhar a sucessão familiar na corporação, que atua em diferentes ramos da atividade econômica.

José Carlos Pontes contou sua vida empresarial a um atentíssimo auditório integrado por mais de 100 jovens empresários da AJE Fortaleza que se reuniram ontem, terça-feira, 27, na hora do almoço, no confortável restaurante Barbra’s Náutico. Vestindo uma camisa social de cambraia de linho, de cor verde claro, que o tornava mais jovem do que mostram seus 72 anos de idade, ele foi muito franco ao longo de sua fala. 

“Tivemos insucessos, e o maior deles foi o fracassado projeto de uma empresa de transporte coletivo em Salvador, na Bahia. Nós tínhamos 400 ônibus novinhos, mas o preço da passagem tornou inviável o empreendimento, mesmo com a existência de uma Câmara de Compensação, que foi extinta logo que assumiu uma prefeita de esquerda”, revelou ele.

O Grupo Marquise, com 49 anos de história (o cinquentenário virá no próximo mês de outubro), é um dos maiores conglomerados empresariais do Ceará. Ele atua na incorporação imobiliária, na construção civil, na área de serviços e soluções ambientais, na comunicação (com rádio, TV e portal na Paraíba), na hotelaria, na infraestrutura, em shopping center, no atendimento ao cidadão (Vapt Vupt) e na moda popular (centro fashion).

Seu faturamento, em 2023, alcançou R$ 1,86 bilhão e seu Ebitda chegou aos R$ 370 milhões. Neste ano de 2024, a receita do Grupo Marquise é estimada em R$ 2,4 bilhões. 

Sua Construtora Marquise é a terceira da região Nordeste e a 24ª do país, sendo, no segmento da construção civil, a primeira colocada em liquidez corrente, segundo o Valor 1000 de 2023, publicação do Valor Econômico. As empresas do Grupo Marquise empregam 8 mil pessoas nos vários estados brasileiros onde atuam, incluindo Salvador e São Paulo.

Fazendo ouvir-se por todos – ele soube usar corretamente o microfone – José Carlos Pontes, em homenagem aos seus anfitriões, relembrou o professor Cleber Aquino, que nos anos 90 do século passado implantou e dirigiu o curso de trainees do Grupo Marquise, do qual nasceu a semente da Associação dos Jovens Empresários (AJE). Desse curso saíram vários jovens que hoje ocupam posições de direção no Grupo Marquise.


Ele disse que foi um menino como qualquer outro, tendo iniciado seus estudos no Colégio Cristo Rei, do qual se transferiu para o Colégio Militar, onde recebeu uma educação que primou pela disciplina e pelo respeito aos outros e aos regulamentos. Perto de concluir o curso científico (segundo grau), recebeu do pai, o desembargador Osmundo Pontes, a promessa de que seria premiado com “um fusquinha” se ganhasse o passaporte para o curso universitário.

“Pai, eu prefiro um corcel” – sugeriu ele, no que foi atendido depois que passou no vestibular. Detalhe: esse pequeno e básico automóvel foi usado como capital de sua futura empresa, a que nasceria de sua sociedade com o amigo e companheiro de banco universitário Erivaldo Arrais.

Os dois estavam no último semestre do curso de Engenharia da UFC, quando decidiram, antes de serem graduados, constituir a Construtora Marquise, que se instalou em um terreno que o desembargador Osmundo Ponte possuía na Avenida Pontes Vieira, e onde está até hoje. “Construímos a sede, muito pequena e acanhada, um prédio simples, sem reboco”, contou José Carlos Pontes.

“Ali, fomos fazendo os ‘puxadinhos’ para acomodar o crescimento da empresa. Hoje, tudo é um ‘puxadão’ moderno, que opera segundo os melhores padrões da administração empresarial”, disse ele.

A Construtora Marquise foi crescendo mais rapidamente do que os dois sócios imaginaram. Começaram fazendo colégios no interior do estado, obras de telecomunicações subterrâneas na capital, e aí entenderam que o Ceará estava pequeno para suas pretensões. Levaram a Marquise para o Maranhão, onde executaram projetos da Cohab, e para a Paraíba, onde a empresa se enraizou, ao mesmo tempo em que, em Fortaleza, davam os primeiros passos no ramo imobiliário, começando pela Cidade 2 Mil.

Em pouco tempo, o sexto sentido de José Carlos Pontes e de Erivaldo Arrais emitiu um alerta, e eles descobriram um novo e rentável nicho de negócio: a coleta, o transporte e a destinação final dos resíduos sólidos de Fortaleza, com cuja prefeitura celebraram contrato para execução desse serviço, o qual se renova periodicamente. Esse serviço é feito hoje em várias grandes cidades do país, como São Paulo, onde o Grupo Marquise também investe na área imobiliária, com um portfólio de grandes empreendimentos de alto padrão. Nessa área, “aqui no Ceará, só duas empresas daquele tempo sobrevivem hoje: a Marquise e a Mota Machado”, ele faz questão de dizer.

Uma voz masculina ecoou do meio do auditório com uma pergunta interessante: “Qual é o segredo para o sucesso da Marquise?” José Carlos Pontes já estava com a resposta na ponta da língua: 
“O segredo é ter um sócio, cada um com 50% e nenhum dos dois querendo matar o outro. Eu e o Erivaldo nos respeitamos e nos admiramos muito. Ele ouve minhas opiniões, eu ouço as dele, e são opiniões diferentes, mas juntos sempre decidimos a favor da empresa e do seu time de colaboradores”, foi sua explicação, mas acrescentando um ensinamento:

“É ruim ser sozinho na empresa. Você não tem com quem conversar sobre como encaminhar a melhor solução para um problema. No nosso caso, eu e o Erivaldo nos completamos, e tudo tem dado certo ao longo destes quase 50 anos, que serão completados no fim deste ano”, afirmou José Carlos Pontes.

Ele fez uma revelação surpreendente: o Grupo Marquise está muito satisfeito com seu complexo de comunicação instalado e em operação em João Pessoa, na Paraíba. “Mas, se aparecer alguém querendo comprá-lo, nós o venderemos, se a proposta for boa, claro”, acrescentou.

José Carlos Pontes contou como ele e Erivaldo Arrais decidiram investir na hotelaria. Seu amigo Demerval Diniz, dono do Magna Hotel, de Fortaleza, disse-lhes que o ramo é bom, se bem administrado. Eles estudaram o mercado hoteleiro e decidiram construir na Avenida Beira Mar um hotel 5 estrelas. E surgiu o que seria o Caesar Park, que hoje é o Gran Marquise, onde, além de grandes empresários e famosas personalidades nacionais e estrangeiros, hospedam-se também todos os times da Série A do Campeonato Brasileiro de Futebol. Foi nele que, na Copa do Mundo de 2014, hospedou-se todo o comando da FIFA.

“Um hotel 5 estrelas tem de ser completamente renovado a cada 10 anos. Como o Gran Maquise tem 30 anos, ele já passou por três reformas gerais”, revelou José Carlos Pontes.

O Grupo Marquise – por meio de sua empresa Marquise Infraestrutura – já executou as obras das duas ampliações do Porto do Pecém, estando pronta para participar da licitação da terceira ampliação, prevista para o final deste ano ou início de 2025. Neste momento, a empresa executa os serviços de implantação da Ferrovia Transnordestina em todo o trecho no estado do Ceará.

Outra voz masculina foi ouvida com a pergunta sobre como a Marquise recruta seus colaboradores. José Carlos Pontes respondeu: 

“Criamos um Departamento de Recursos Humanos, chefiado por uma mulher competente e especialista na área – a Ana Cláudia. Eu e o Erivaldo não nos metemos nessa área, pois é ela que, livremente, seleciona os candidatos inscritos mediante critérios que ela mesma estabeleceu com base nas regras e nas exigências do mercado de trabalho. Temos de ter sempre os melhores, independentemente de ser homem ou mulher”.

Ele lembrou que é a Marquise Infraestrutura que fez as obras do Projeto São Francisco na Paraíba. Neste momento, ela executa a obra de implantação do BRT de Belém, substituindo a Odebrecht, que abandonou o serviço. Essa obra deve ficar pronta até março do próximo ano de 2025. 

Tem mais: a Marquise Infraestrutura também está, hoje, a executar o BRT de Brasília, que se encontra na sua fase inicial. 

José Carlos também falou sobre o Shopping Center Parangaba, que na sua opinião foi e continua sendo um grande sucesso. Ele lembrou que as lojas-âncoras pagaram luvas para garantir seu espaço no empreendimento, tão grande foi a demanda pela locação de suas lojas. 

Ele abordou, ainda, o Vapt Vupt, um serviço de atendimento ao Cidadão que o Grupo Marquise – copiando experiências exitosas em cidades do Sudeste do país – implantou em Fortaleza. Hoje, esse serviço já existe em Juazeiro do Norte e Sobral.

Finalmente, José Carlos Pontes falou sobre o Centro Fashion, o shopping popular que o Grupo Marquise construiu e opera na Avenida Filomeno Gomes, no bairro de Jacarecanga, em Fortaleza. O empreendimento tem mais de 5 mil lojas e boxes locados por micro e pequenos comerciantes, que vendem confecções para homens, mulheres e crianças a preços baratos.

“O Centro Fashion é outro caso de sucesso”, diz José Carlos Pontes, que foi demoradamente aplaudido ao final de sua palestra. Simpático, ele posou, em seguida, para fotografias com vários associados da AJE Fortaleza.