Alemão quer comprar o hidrogênio verde do Pecém

Secretário Salmito Filho abriu em Berlim negociação com grupos empresariais da Alemanha para o H2V cearense. E mais: 2) Agro europeu tem Manual de Estatística; 3) Direita e esquerda alemãs ocupam as ruas

Legenda: Secretário Salmito Filho (C) com autoridades do governo e empresários alemães em reunião no Bundestag.
Foto: Divulgação

Berlim (Alemanha) – Em outubro passado, a ArcelorMittal, dona da usina siderúrgica do Pecém, anunciou que que produzir aço verde e que, para isso, comprará todo o Hidrogênio Verde que for produzido pela primeira fábrica do Hub do H2V do Pecém.

Pois ontem, aqui em Berlim, o empresário alemão Stephan Knabe – líder do Knabe Group e membro do Conselho de Supervisão da Deutsche ReGas GmbH & Co KGaA, que atualmente está construindo o segundo terminal para importação de gás natural liquefeito no Mar Báltico e, portanto, é uma das poucas empresas na Alemanha com ampla experiência na importaçãop e regaseificação de gases liquefeitos, como a amônia (hidrogênio verde) no futuro  – disse ao secretário do Desenvolvimento Econômico do Governo do Ceará, Salmito Filho, que sua empresa tem, também, interesse de comprar o Hidrogênio Verde cearense, cujo preço poderá variar entre US$ 1,80 e US$ 4 por quilo.

O H2V cearense custará menos do que os US$ 5 ou US$ 6 que são o preço médio mundial estimado pelos especialistas.

O secretário Salmito Filho ficou contente com o que disse Stephan Knabe, e mais contente ainda com a notícia de que ele visitará o Ceará proximamente para conhecer toda a área do Complexo Industrial e Portuário do Pecém e para estreitar suas relações pessoais com o governador Elmano de Feitas, com quem esteve reunido no ano passado na Alemanha.

Esse troca de boas informações aconteceu durante reunião de Salmito Filho com um grupo de autoridades do Governo e empresários da Alemanha. Além do secretário Salmito Filho, participaram do encontro – realizado no Salão de Reuniões Bilaterais do Bundestag, sede do Parlamento da Alemanha -- o secretário Executivo do Agronegócio da SDE, Sílvio Carlos Ribeiro, o presidente da Adagri, Elmo Aguiar, e Carlos Henrique Carvalho, cearense residente há 20 anos em Berlim e cuja empresa, a Ad3 Marketing, organizou a reunião.

Pelo lado alemão, além de Stephan Knabe, participaram Jürgen Friedrich, diretor de Projetos Internacionais de Hidrogênio do Ministério Federal de Economia e Proteção Climática; Liza Weinbrecht, da assessoria do senhor Knabe; Udo Brockhausen, empresário alemão do setor de Energia Alternativa, que atualmente lidera projetos de energia eólica na Mongólia; Philipp Stompfe, advogado que presta consultoria em contratos internacionais e Direito Societário, bem como em procedimentos de arbitragem internacional; e Daniel Schirffman, presidente e controlador da empresa Rohrrettung & Umweltschutz Schiffmann GmbH, que atua no setor de saneamento e água.

SAIU O MANUAL 2024 COM ESTATISTICA DO AGRO EUROPEU

Foi publicado ontem o Manual de Estatística Europeia, elaborado anualmente pela Fruit Logistica, que promove, com o seu nome, a maior feira mundial da cadeia produtiva da fruticultura.

As principais tendências de mercado de frutas na Europa, identificadas no manual deste ano, são as seguintes:

Os preços médios estão em alta. A escassez de oferta em diversas categorias fez subir os preços das frutas e legumes, o que pressionou a procura dos consumidores;

Os custos são mais elevados para produtores e fornecedores. Os preços dos fertilizantes e da energia podem ter caído, mas subiram os de sementes, plantas, pesticidas, maquinaria, mão-de-obra e transportes;

As pressões climáticas continuam. A água é um grande problema para os negócios – seja por falta dela, seja por excesso. Secas, inundações e outras condições extremas continuam a limitar a oferta;

A colheita do ano passado foi quase 2% menor do que a de 2022, com maçãs, peras, uvas e laranjas com queda maior;

A cultura vegetal do continente era maior. Em contrapartida, a Europa produziu quase 2% mais em 2023 em comparação com o ano anterior de 2022. Mas caiu a produção de culturas com efeito de estufa.

A UE importou mais e exportou menos em 2023. As importações de fora da UE foram mais elevadas, especialmente de laranjas, descascadores fáceis, abacates, cenouras e cebolas.

NA ALEMANHA, TAMBÉM HÁ DIREITA VERSUS ESQUERDA

Na véspera da abertura da Fruitlogistica 2024, maior feira mundial da gigantesca cadeia produtiva da hortifruticultura, que envolve, inclusive, as maiores empresas de navegação do planeta, os mais de 60 mil estrangeiros aqui presentes para o evento, procedentes de 130 países dos cinco continentes, parecem assustados com o que estão vendo, lendo e ouvindo pelo rádio, jornal e tevê locais.

A impressão que se colhe é de que os alemães estão ideologicamente divididos, como no Brasil, entre a direita e a esquerda. E mais assustados ainda porque, aqui, há uma extrema direita com claro DNA nazista. Nas grandes cidades alemãs, há manifestações nas ruas promovidas pelos dois lados do espectro político – em Berlim, agricultores aglomeraram-se no último sábado, 3, em frente ao Bundestag – o Parlamento germânico.

Já se fala em Berlim na possibilidade da realização de um Brexit alemão – nos mesmos moldes do realizado pelos ingleses, que, por meio de um referendum realizado em 2016, tiraram o Reino Unido da União Europeia (EU), decisão profundamente lamentada hoje pela maioria dos britânicos.

Aqui e em outras cidades alemãs, observa-se o avanço do partido direitista Alternativa pela Alemanha (AfD), que tem como um dos líderes a bela e jovem Alice Weidel. Ela batalha pela realização de um plebiscito por meio do qual os 83 milhões de habitantes do país deverão dizer se querem ou não continuar sob o pálio da UE. É uma questão que será decidida pelo Bundestag – o Parlamento alemão – que ainda não trata do assunto. 

Por que Weidel e seu partido querem promover esse plebiscito?  Se ela tiver como referência o Brexit, estará elaborando uma resposta equivocada. No Reino Unido, a maioria do povo inglês é favorável ao seu reingresso na União Europeia, mas isto é algo difícil pelas atuais implicações geopolíticas.

Todavia, uma coisa é a economia do Reino Unido, que é poderoso na área da defesa, mas sem o mesmo poder na economia. Outra coisa é a economia da Alemanha, a maior da Europa, mas sem poderio bélico (na prática são os EUA e a OTAN – França, Itália e Reino Unido no meio – que garantem a defesa alemã e de toda a Europa Ocidental).

Assim, um referendum que leve à saída dos alemães da União Europeia teria consequências catastróficas para o continente europeu. E para a estabilidade mundial. O que tranquiliza é o resultado de uma recente pesquisa, que apurou o seguinte: 85% dos alemães querem continuar pertencendo à União Europeia.

Porém, o que mais assusta e preocupa aqui é a ideia crescente da liderança do AfD, de Alice Weidel, de tirar o país da União Europeia.

A União Europeia existe desde 1975, tem uma moeda comum (o euro) e um Banco Central com sede na cidade alemã de Frankfurt. Os países da União Europeia experimentaram, de 1975 até agora, um crescimento econômico e social espetacular que melhorou, e muito, a qualidade de vida dos seus 500 milhões de habitantes.

O que pretende a AfD e sua líder Alice Weidel parece, na opinião de analistas, um projeto de realização pessoal: em vez da União Europeia, os líderes da direita, com Weidel à frente, querem uma Confederação de Nações Europeias. Até que se prove o contrário, parece ser um troca de seis por meia dúzia.

No meio deste ano, haverá eleição para o Parlamento Europeu, nova oportunidade que surgirá para aferir a real força da extrema direita alemã, que, pelas últimas pesquisas, está liderando a preferência do eleitorado alemão.  Mas a AfD começa a levantar suspeitas sobre a correção do pleito, insinuando que poderá haver fraude.

Esse filme está em exibição na América Latina.