Missão da mulher para reerguer um time em decadência
Andrine Lopes, primeira mulher a compor a diretoria do Guarany de Sobral

Um time de futebol parado, com quase 2 dois sem atividades, dívidas trabalhistas, tributárias e administrativa e sem receita. Essa é a situação do Guarany de Sobral, se em 2010 vivia o auge do título de campeão brasileiro, o primeiro cearense a conquistar esse feito, 15 anos depois busca forças para tentar se reerguer, voltar ao cenário do futebol estadual. Sem atividades, a sede do Guarassol ficou apenas as lembranças de uma história de um time campeão, registradas através das paredes.
Colocar em campo um time novamente não é uma tarefa fácil, principalmente um clube cheio de dívidas, com poucas perspectivas, mesmo sabendo disso Andrine Lopes, aceitou o desafio de ser dirigente e se torna a primeira mulher diretora jurídica do Guarany de Sobral. A advogada que cresceu indo ao Junco, acompanhada da família durante as partidas, agora terá a difícil missão de ajudar a reerguer um time campeão.
1- Como foi que surgiu essa oportunidade?
Eu e José Cláudio (presidente) somos amigos há mais de 10 anos e sempre compartilhamos esse amor pelo Guarany de Sobral e com a vida adulta cada um seguiu seu rumo, mas sempre mantendo algum contato. Quando começaram a articular uma equipe para compor a diretoria, ele veio conversar comigo, deixou claro que queria compor uma equipe de pessoas tecnicamente capacitadas, mas também de pessoas que ele soubesse que são comprometidas, que trabalham corretamente e que estariam em sintonia com esse sentimento que ele sempre teve de fazer algo concreto para reavivar o Guarany. A liderança dele e a credibilidade dele com certeza foram os pontos que pesaram para que muitos de nós aceitássemos abraçar esse projeto.
2- Como foi a sua relação com o futebol?
Eu sou apaixonada por futebol desde sempre. Somos 4 filhas e meu pai é alucinado por futebol e pelo Guarany de Sobral, então como eu era a única das filhas com inclinação para o esporte, eu sempre fui aos jogos no estádio com ele, viajei com ele e amigos dele para assistir jogos do Guarany aqui nas redondezas, ia para os campos de futebol de várzea com ele nos finais de semana. O futebol e o esporte como um todo sempre foram muito inerentes à minha personalidade, tanto é que com cerca de 9 anos comecei a jogar basquete, o que acabou virando outra paixão também.
3- Como você recebeu essa proposta de ser diretora de um time?
Com muita honra. É uma baita responsabilidade e eu sei que existem muitos profissionais extremamente aptos a estar nesse lugar, mas eu sei que essa equipe que formou a nova diretoria vem com sangue novo para trazer para o Guarany, com ímpeto de corrigir muita coisa do passado, mas de aproveitar o que teve também de projeto eficiente e de profissionais que já agregaram tanto no passado.
4- Assumir o desafio (talvez o maior) quando se trata de questões jurídicas, como fazer?
Não existe uma receita do sucesso, só existe trabalho. A gente sabe que o cenário em que estamos assumindo o Guarany talvez demande uma quantidade de tempo e energia que as pessoas nem imaginem, mas a gente precisa ter um ponto de início. Já estamos mapeando o que temos de dívidas, estruturando um plano de ação para saber quanto precisamos ter para saldar o que já está sendo cobrado e ainda assim termos condições de colocar time em campo para os campeonatos. Temos sido recebidos por dirigentes de clubes e profissionais que estão nesse meio do futebol com muito entusiasmo e carinho, então estamos tentando aproveitar também essas portas abertas para criar caminhos viáveis para o Guarany.
5- Sentiu um pouco de preconceito?
Eu cresci no meio esportivo, então desde sempre eu entendo o que é um olhar de reprovação ou menosprezo pela condição de mulher, apesar disso, sinto que os tempos estão mudando e que existe um acolhimento diferente. No dia da aclamação da diretoria vimos a torcida presente, senti o respeito de torcedores, jornalistas e apoiadores do clube. Com relação à diretoria como um todo, nem preciso dizer, são amigos que me tratam com extremo respeito e profissionalismo. Tenho a plena consciência que em determinado momento essa questão do gênero pode ter alguma fala ou outra diante de alguém que ainda tenha um pensamento mais engessado, mas estou ciente do meu papel no clube, o foco é no trabalho a ser desempenhado e eventuais situações desagradáveis ou que ultrapassem algum limite do razoável, serão devidamente enfrentadas na medida em que precisarem ser.
6- Como ajudar o Guarany de Sobral?
Nós temos um clube que não entra em campo há quase 2 anos, que enfrenta dívidas de natureza tributária, administrativa e trabalhista em números que ainda estamos atualizando. Ao mesmo tempo já vem sendo estudado soluções viáveis para que a gente consiga reduzir o que temos de dívida e ter condições de arrecadar algo que faça com que o clube seja reativado em suas atividades. O clube é uma associação privada e está sendo tratado como tal, não queremos incorrer em erros do passado, que colocaram o clube em descrédito com torcida, órgãos institucionais ou apoiadores financeiros.
7- Quais objetivos para o futuro?
Para um primeiro momento nosso foco está em estruturar a base para voltarmos a competir. Nosso foco inicial é esse e, à medida em que o clube for se reestruturando como empresa e tiver solidez para formar um time principal, garanto que faremos. Queremos trazer nosso torcedor de volta ao estádio, queremos muito que as camisas do Guarany de Sobral voltem a circular com intensidade e com ânimo, então sabemos que para que o torcedor confie no nosso trabalho, a gente precisa ser claro desde já com os passos que queremos dar.