Quando o Governo do Ceará decretou este segundo lockdown, há exatamente uma semana, veio de imediato a questão sobre o impacto que a medida teria sobre todas as atividades econômicas e sociais. “E a cultura?”, também se perguntou.
Como aconteceu com todos, a suspensão das atividades consideradas não essenciais brecou um avanço vivido nos últimos meses, mas para o campo das economias criativas, da cultura e do entretenimento, a estancada interrompeu um movimento já bastante lento. Ao contrário de outros setores, este nem sequer chegou a viver os tempos de relativa normalidade, experimentados até poucas semanas atrás.
Quando a pandemia irrompeu no Brasil, no começo de 2020, os eventos culturais foram os primeiros a serem suspensos. Nem foi preciso decreto. Bastou o alerta de que as aglomerações para programações colocariam em risco o público, com uma doença que se propaga no ar.
Primeiro, adiou-se; depois, quando se entendeu a crise era de calda longa, festivais, shows, espetáculos, palestras, festas, estreias e lançamentos foram cancelados. A considerar o que se dá em todos os outros países, o setor aqui também estará entre os últimos a serem plenamente retomados no futuro.
É, sim, imperativo que sejam adotadas medidas urgentes para salvaguardar profissionais, mercados e manifestações culturais em sua hora mais difícil. As necessidades que passam são da ordem dia, e a sobrevivência de uns como dos outros se vê ameaçada com as interrupções necessárias das atividades.
Contudo, matar um leão por dia - o leão do dia - não será suficiente. É preciso que se reconheça o longo caminho de superação da crise, sem devaneios de que uma retomada mágica será possível. Projetar cenários, antecipar soluções e viabilizar ações de médio e longo prazo são fundamentais.
É preciso planejamento e, para tal, uma visão precisa e realista. A demanda da reabertura, de tudo, é compreensível. São as contas que nos pressionam, somadas à ansiedade e à exaustão de se viver com tantas limitações por um ano inteiro. Nada disso, contudo, faz com que o vírus deixe de agir como age: sufocando alguns até a morte, colapsando outros. Velhos e adultos. Crianças. Isso: crianças.
O poder público, o setor especificamente e a sociedade em geral têm diante de si um problema difícil - considerando que haja solução para ele. Não são pequenos os obstáculos, bastando citar as limitações impostas por uma doença perigosa e o absurdo atraso da vacinação no País.
As condições de retomadas precisam de perícia para que possam ser consideradas, estudadas e viabilizadas. Não é coisa que se deixe para cima da hora.
Verdade que não se sabe ao certo quando a crise da Covid-19 será superada ou, pelo menos, administrada. Mas é igualmente verdade que algumas certezas já estão postas. Uma delas é que a pandemia não se resolverá em um ou dois meses. Outra é que a Covid-19 não será erradicada, no futuro, de um dia para o outro. As máscaras e outras medidas sanitárias serão necessárias ainda por algum tempo, mesmo na mais positiva das projeções.
A Europa, não sem otimismo, já programa festivais de música ao ar livre para o segundo semestre. Planejá-los, certamente, não será questão apenas de reunir um bom elenco de atrações, nomes de peso e bons vendedores de ingressos. Será uma verdadeira reinvenção que, por lá, com bastante antecedência, já começou a ser feita.
Não seria hora de, por aqui, começarmos a fazer o mesmo?