‘Acredite, se quiser’

A nossa crença pode ajudar a construir a nossa identidade

Legenda: No entanto, sei o quanto dói o movimento contrário ao qual tantas vezes na vida somos expostos: o de desacreditar. Em nós mesmos, mas também em Deus, deuses, deusas, orixás, santos, anjos, energias, salmos, seres de luz, preces, louvores, rezas, passes… e tantos quantos forem os símbolos e referências que para nós fazem sentido. (foto tirada em um lugar-aconchego de Fortaleza)
Foto: Thatiany Nascimento

Senti vontade de rir e chorar ao mesmo tempo (numa mistura de boas emoções, e quem sabe energias), em uma de minhas sessões de psicoterapia, quando num desses estalos de consciência que surgem no divã - daqueles momentos nos quais, metaforicamente, parece até termos ouvido o barulho da “ficha cair” - dei-me conta do tamanho do significado que tem o nosso acreditar.

Aquele momento talvez fique eterno em mim, na memória das minhas escolhas de tempos atrás e também no que ergo no presente sobre o ser e estar por aqui. Sim, a nossa crença pode ajudar a construir a nossa identidade e dar alguns rumos para a caminhada de uma vida inteira - quiçá vidas outras também. 

Mas crer em quê exatamente? 

Primeiro de tudo, penso que acreditar em nós mesmos é um dos passos mais importantes das nossas muitas jornadas, nos percursos que nascem dentro e também fora de nós, ao redor de tantos. Crer no que sentimos, queremos, sonhamos e também nas emoções que nos machucam é uma forma de nos conhecermos. É ato de cura e coragem. 

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Isso porque pode soar até paradoxal atravessarmos uma vida inteira crendo em pessoas, fenômenos e seres sobrenaturais se não temos o cuidado de crer em nós mesmos. De olhar para dentro e termos consciência das nossas próprias sensações e do que já não queremos nem perto nem dentro de nós - dos nossos. “Quem me leva os meus fantasmas”, há tempos nos canta Maria Bethânia

E escrevo isso também porque, vez ou outra, pego-me pensando em como somos domesticados em nossos rituais religiosos. Eu acredito que uma das maiores heranças de família é que aprendemos e cultivamos nossas crenças, aquelas que fazem sentido pra nossa identidade. Crer e respeitar crendices é lição diária.  

No entanto, sei o quanto dói o movimento contrário ao qual tantas vezes na vida somos expostos: o de desacreditar. Em nós mesmos, mas também em Deus, deuses, deusas, orixás, santos, anjos, energias, salmos, seres de luz, preces, louvores, rezas, passes… e tantos quantos forem os símbolos e referências que para nós fazem sentido. 

E como eu muito acredito nas boas energias do Universo, talvez não seja coincidência o fato de que, neste mesmo dia da riso-choro no sofá-divã, ter revisitado um texto de Rubem Alves, chamado “Se eu pudesse viver minha vida novamente”, e ver como o autor fala de um “Grande Mistério” e que, em vez de tentar descrevê-lo, o pintará conforme a sua fantasia. A poesia pra mim sempre foi uma espécie de oração, tanto é que abri minha tese de doutorado com uma prece escrita por mim numa madrugada de ventos fortes, e parte dela diz assim:  

“Deus do Universo,
e vice-versa.
Obrigada.

(...)

Gratidão
porque acordamos de pesadelos
e os sonhos prevalecem.”
(...)

Acredite se quiser...Se desejar, se faz sentido pra você, pra sua história de vida; se sua crença te ampara, ilumina suas ideias e te serve como espaço de acolhimento - para si e para os outros -, porque crer é uma das nossas melhores lições de vida. Isso tudo vai fazer diferença em muitas existências. 

Crer, pra mim, é natureza, e cada um tem (ou deveria ter) a liberdade de acreditar e expressar-se. E, se assim como o personagem de Rubem Alves, se eu pudesse viver minha vida de novo escolheria jamais desacreditar de tudo que pra mim toca a alma. Pé na areia, por exemplo, já é remédio e cura… “Acredite se quiser!”