A corda bamba do amor e do medo: que tempo é esse? 

Por causa do coronavírus, soltamos as nossas mãos e vivemos um verdadeiro paradoxo 

Que tempo é esse? Estamos inseguros e não temos respostas. Para onde fugir? Pra quê? Nosso inimigo é invisível, está à espreita. Às vezes, dentro de nós. Dentro de nós... há tempos. À tarde. Às margens, à beira. Há fôlego. Em vida, em mantra. Tempos de crises, além de toda dor, servem também para nos aperfeiçoar como seres? Humanos que somos, temos medo. Cessam as nossas liberdades. 

Mas estamos todos juntos. Vivendo uma apreensão coletiva, regidos pelo medo que, agora, temos uns dos outros. Por causa do coronavírus, soltamos as nossas mãos e vivemos um verdadeiro paradoxo: somos presas fáceis, mas também ameaças. Nossas mentes estão ocupadas demais. Nossas fortalezas na corda bamba.  

Que tempo é esse? Amar é distanciar. Proteger é não estar. Não ser. Porque sentir virou ameaça. Beijos e abraços viraram castigos! A saudade, companheira. A memória fixa. Fere. Esquece. Esvaem-se nossos desejos; escorrem meus olhos. E o tempo passa, incansável, por dentro de nós. É preciso - literalmente - respirar, arejar corpo e mente.  

Eu não sei que tempo é esse. Descubro-me enquanto os dias florescem. Encontrei-me na busca pela resposta dessa vida. Nada sabemos. Estamos parados. No tempo. Que nada tem a perder. Resiste enquanto é tempo! Sempre. Ainda sou como o poeta deseja: “meu tempo é quando”. Entre cumprimentos formais e detalhes de amor, vivemos mais paradoxos: do amor e do medo; da distância e do cuidado com a gente, com o outro.   

Mais tempo... Já fugi na vida. E ainda não sei que tempo é esse. Acredito: não nos pertence. Não nos domina. Somos o efeito da dor que sustentamos. Superamos. Passamos à frente. Contra o tempo. Estamos aqui. Não precisa correr. Esperar é saída. Mas, na verdade, queremos de tudo: resposta, ciência, remédio, prece, acolhida e decisão. Tudo para romper a solidão dos nossos isolamentos. 

E não há tempo a gastar. A ferida sara com o tempo. A saudade o tempo cura. E o remédio para a distância, e até os amores impossíveis, já disse o cronista - outro poeta: “é o tempo”. Tudo é caminho se o tempo é aliado. A boa energia do Universo nos alimenta enquanto buscamos resposta e abrigo. Chove lá fora - mais vida, mais dúvida. Nada mais sabemos. Verdade? O que nos salta latente, todos os dias, é a mesma pergunta: que tempo é esse?