O governo das leis, diz Norberto Bobbio, triunfa na democracia. Pisar nas leis, porém, é precisamente o que almeja o político populista: ele quer substituí-las, arvorando-se intérprete e executor da vontade do povo.
Personalidades autocráticas, de esquerda ou de direita, são um risco para a democracia, embora o primeiro tipo a defenda retoricamente. O populista de esquerda tende a encaminhar o seu país para uma espécie de democracia totalitária, enquanto o populista de direita tende abertamente à ditadura, sem floreios.
Querem nos fazer crer que precisamos ficar reféns dessas duas ameaças e que somos incapazes de achar o meio termo para o amadurecimento de uma democracia liberal.
A Itália teve seu Duce, a Alemanha teve seu Führer e o Brasil hoje tem seu Mito.A comparação pode ser extravagante, mas o culto à personalidade, aliado a movimentos de massa é sempre um fenômeno que merece atenção.
Nas manifestações do dia 7, Bolsonaro deu mais um bote autoritário, ensaiou um golpe de Estado e a enorme quantidade de pessoas que foram às ruas, querendo ou não, endossaram seu discurso belicoso.
Diante do grave momento, a reação institucional foi desigual: o presidente do STF e o presidente do TSE deram respostas duras, mas o presidente da Câmara, do Senado e o titular da PGR deram respostas frouxas ou cúmplices.
Para desalento, porém, da sua militância radicalizada, Bolsonaro capitulou e apresentou a já famosa "carta do arrego", escrita por Temer, em meio a conversas e entendimentos com o próprio Alexandre de Moraes.
A base sentiu-se traída, mas foi exortada a confiar, mais uma vez, no presidente. Blogueiros a soldo, após breve espasmo de revolta, explicaram que Bolsonaro não recuou, foi apenas estratégico.
Ao que parece, a estratégia é só negociata de acomodação com o próprio STF. Não cheira a coisa boa, visto que até o ministro Gilmar Mendes se animou a pedir que acreditemos na "boa fé" de Bolsonaro.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.