Entenda os riscos de expor crianças em 'trends' das redes sociais

As trends infantis reforçam a vulnerabilidade digital e podem deixar marcas no desenvolvimento

Legenda: Estímulo precoce da utilização das redes sociais pode prejudicar o desenvolvimento saudável de crianças e adolescentes
Foto: Shutterstock

É comum vermos famílias dividindo os momentos de alegria, do dia a dia com seus filhos e familiares nas redes sociais, e não há problema, porém, quando esse compartilhamento tem o alcance de várias pessoas desconhecidas, é preciso ter cuidado e refletir sobre a exposição excessiva, a individualidade das crianças e os impactos negativos.

Principalmente quando os pais expõem seus filhos a trends testes e brincadeiras que são gravadas e compartilhadas em troca de likes. Embora essas tendências possam parecer inofensivas, fofinhas ou até divertidas para muitos, elas representam um conjunto de riscos significativos, quando envolvem crianças e adolescentes.

Um exemplo desses vídeos, foi a “trend do palavrão”, na qual os pais gravam vídeos de seus filhos pequenos, pedindo para falarem palavrões ou xingamentos que souberem. As reações mostram que algumas crianças ficam confusas por não conhecerem palavrões, já outras se apresentam bem munidas de xingamentos e aproveitam o momento para reproduzir tudo que sabem.

Outro exemplo de trend feita por pais que viralizou recente na rede social Tiktok, foi a de “fazer coisas de adulto”, na qual os pais gravam as reações dos filhos quando lhes pedem para fazer coisas de adulto, como ir ao mercado sozinho ou pegar o carro para ir à farmácia.

Esse tipo de conteúdo, além de utilizar a ingenuidade e imaturidade das crianças, expondo-as a conteúdos vexatórios para viralizar nas redes sociais, pode afetar o desenvolvimento psicológico da criança de diversas maneiras.

Riscos para crianças 

Confusão emocional: Em termos emocionais, a depender da criança ela pode sentir confusão, raiva ou até culpa, pois não está preparada para atender a essas solicitações. Podem também se sentirem humilhadas, envergonhadas, quando percebem que aquele conteúdo sobre suas reações, foram gravados para acharem engraçado.

A criança é muito concreta, ela não vai entender por exemplo, que só deve xingar ou falar palavrões na frente dos pais, ela não tem maturidade para separar os contextos. Então não devem esperar que os pequenos não reproduzam esse comportamento em outros locais. Ademais, todo ensinamento deve ser claro, ou pode ou não pode, ou é certo ou errado. Quando os pais fazem esse tipo de “brincadeira”, estão validando um comportamento errado, reforçando o comportamento de desobediência.

Vulnerabilidade da criança: A infância é uma fase extremante importante, de formação de personalidade do indivíduo. Nessa fase a criança precisa de vínculos confiáveis com os responsáveis. Quando os adultos pedem que ela faça algo que não está preparada para realizar, a expõe as suas próprias fragilidades. Além disso, o adulto comunica para a criança que está “brincando” com seus sentimentos. Dessa forma, o que estamos ensinando as crianças sobre respeito?

Outro ponto importante para refletirmos é que quando pedimos e permitimos que a criança faça algo de errado que não deve ser feito em outro local, estamos reforçando que aconteça comportamentos em segredos. Assim a criança pode ficar mais vulnerável inclusive a abusos. Portanto, esse tipo de comportamento não deve ser normalizado.

Estímulo precoce da utilização das redes sociais: as crianças que crescem em famílias que expõem muito conteúdo nas redes sociais, para centenas de pessoas, tendem a achar esse comportamento natural e muito cedo se interessam por ter sua própria rede social. É cada vez mais comum vermos influencers mirins, meninas de menos de 13 anos, fazendo skincare, fazendo dancinhas e expondo vídeos em suas próprias contas.

Essa exposição, é muito prejudicial para sua saúde mental e autoestima. Além de deixá-las vulneráveis a comentários de pessoas maldosas, abusos e a cyberbullying.

Portanto, os pais e responsáveis devem proteger as crianças e nunca expor a qualquer situação inadequada. A infância precisa ser protegida, os pequenos precisam de referências seguras. Como tudo na vida, o mundo digital possui coisas boas e ruins.

É dever dos responsáveis analisar e avaliar as consequências antes de aderir a determinadas trends, ou antes de compartilhar conteúdos. Precisamos olhar com mais cuidado para o desenvolvimento de nossas crianças não só no mundo real, mas no virtual também, não comprometendo sua segurança e bem-estar emocional. 

É fundamental construir uma cultura de diálogo com os filhos, combinado com muita vigilância, espaço de apoio emocional, e ensinando a como identificar o que é perigoso e o que é saudável.
 

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.