Desde a tenra idade, é comum os pais estimularem as habilidades cognitivas e a estimarem como a mais importante competência para que seus filhos tenham sucesso na vida. Porém, tão importante quanto a competência acadêmica, as habilidades sociais, devem ser trabalhadas e são fundamentais para alcançar resultados positivos não só na carreira profissional, como na construção de relacionamentos saudáveis e no enfrentamento dos desafios da vida adulta.
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É inegável refletirmos que em um mundo digital onde a comunicação instantânea substitui conversas profundas e a competição por "likes" prevalece sobre conexões reais. As crianças e adolescentes são frequentemente privados das oportunidades de desenvolver habilidades cruciais, como empatia, comunicação eficaz e resolução de conflitos.
Não podemos reduzir essa falta de habilidades, apenas ao avanço da tecnologia, pois, na verdade, ela pode ser atribuída a uma combinação de fatores como ansiedade social, baixo autoestima, transtornos do neurodesenvolvimento, ambiente familiar conflituoso, instabilidade na vida, bullying ou ambiente escolar competitivo. Entender as causas é fundamental para planejar intervenções apropriadas para melhorar essas habilidades.
É essencial que pais, educadores e a comunidade em geral se unam para proporcionar às crianças ferramentas necessárias para desenvolver habilidades sociais de forma natural desde cedo.
E como ajudar de forma prática crianças e adolescentes a desenvolver habilidades sociais?
Uma queixa frequente de crianças e adolescentes que atendo é não saber iniciar e manter um diálogo. Ensine e encoraje seu filho a ser o primeiro a iniciar conversas, fazer perguntas e mostrar interesse genuíno pelos outros. Ensine-o a habilidade de cumprimentar pessoas (dizer oi, bom dia) fazer perguntas simples (como foi seu fim de semana, você está bem?), compartilhar, agradecer, oriente-o a manter contato visual e ouvir atentamente.
Sabemos que crianças reproduzem o comportamento dos pais e cuidadores. Então, mostre boas práticas sociais em suas próprias interações e incentive seu filho a observá-las.
Converse com os professores sobre as dificuldades de seu filho e trabalhem juntos para garantir que ele tenha oportunidades de desenvolver habilidades sociais na escola. Encoraje-o a participar de projetos em grupo e atividades escolares que promovam a cooperação e a comunicação.
Ajude seu filho a organizar encontros regulares com amigos e familiares, como festas do pijama, noites de jogos ou passeios em grupo. Assim ele conseguirá se aproximar mais dos colegas e praticar as habilidades sociais. Atividades extracurriculares também o ajuda a ter possibilidade de mais interações, o incentive a participar de esportes, clubes ou aulas de arte.
Ajude seu filho a identificar e expressar seus próprios sentimentos. Se ele for introvertido, valorize suas qualidades e mostre que não há problema em preferir interações sociais mais tranquilas. Encoraje-o a ser autêntico e verdadeiro, pois isso atrai amigos que realmente apreciam sua personalidade. Ensine também a validar os sentimentos dos amigos, o que ajuda a criar um vínculo emocional mais forte.
Segundo Bauman estamos na modernidade líquida, onde as relações são frágeis e temporárias. Portanto, incentive seu filho desde cedo a focar em amizades profundas e de confiança, em vez de tentar fazer muitos amigos.
Faça encenações em casa com seu filho, assim ele praticará situações sociais como fazer amigos, pedir ajuda, ou resolver conflitos. Os livros e filmes também podem ajudar. Discuta situações e falas de personagens para facilitar a aprendizagem de novas estratégias.
Desenvolver habilidades sociais na infância não se limita apenas a “ofertar estratégias”, evidentemente é algo muito mais amplo, que necessita da participação ativa de todos que cercam as crianças, como cuidadores, pais e professores. Precisamos ser mais sensíveis ao universo infantil. Estar atento as demandas dos filhos, e ajudá-los, proporcionando uma base sólida para seu crescimento pessoal, social e emocional. Se ensinarmos nossas crianças desde cedo a se comunicar e a interagir melhor, com certeza estaremos investindo em uma sociedade mais harmoniosa e colaborativa.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.