Carnaval tem gosto de memória afetiva

Legenda: As memórias afetivas são estruturantes e nos ajudam a desenvolver uma maior resiliência, nos fortalecendo em momentos difíceis em nossas vidas
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Reuníamos toda a família na casa dos meus avós no interior. Família grande, muitos tios, tias, primos, primas, amiguinhos, filhos dos vizinhos. Eu amava ouvir as músicas como “mamãe eu quero, mamãe eu quero mamar”, “se a canoa não virar, olê, olê, olá”. Pulava na “cacunda” do meu pai, dançávamos e depois juntávamos confetes do chão para jogar uns nos outros.

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O mugunzá feito no caldeirão, no fogareiro a lenha, que a tia Maria fazia, era bom demais. A tardinha, íamos todos para a praça da cidade brincar no “mela mela”, voltávamos irreconhecíveis...

Eu e minhas primas adorávamos, quando nossos pais viravam a noite assistindo o desfile das escolas de samba. Era a noite inteira de brincadeiras, jogos e sempre acabávamos dormindo na sala e incrivelmente amanhecíamos no nosso quarto.

Essas são lembranças que até hoje quando nos reunimos em família, estão presentes, e sempre são motivos de longas gargalhadas.

Mas o que são memórias afetivas?

Basicamente as memórias afetivas são lembranças de algum acontecimento importante que são associadas a um sentimento. Essas lembranças são ativadas através de estímulos sensoriais, sons, cheiros, imagens, cores e objetos.

Quem nunca se emocionou ao lembrar do gosto do feijãozinho da vovó, daquela música que marcou nossa adolescência ou do perfume daquela pessoa especial?

As memórias são criadas, desde que somos crianças, a partir das repetições de atitudes e acontecimentos ao longo de nossa história. Ajudam no desenvolvimento da autoconfiança, construção de crenças e valores, e saúde psíquica dos futuros adultos.

Atividades prazerosas como brincar carnaval, cozinhar, contar historinhas na hora de dormir, fazer refeições em família, brincar com jogos de tabuleiro, praticar esportes ao ar livre, nos ajudam a desenvolver memórias afetivas, que com o passar do tempo vão moldando nossos comportamentos e escolhas. Vale lembrar, que não é somente a simples repetição dos momentos que vão criar essas memórias, eles devem vir carregados de afeto. Pois é a união dos sentimentos, das sensações e das atitudes que geram as emoções necessárias para cristalizar essas memórias em nossa psique.

Quando recordamos desses bons momentos, acontece a liberação de serotonina que também é chamada de hormônio da felicidade, despertando sentimentos positivos, que reforçam a sensação de pertencimento e fortalecendo nossos laços com o grupo. Essas memórias são estruturantes e nos ajudam a desenvolver uma maior resiliência, nos fortalecendo em momentos difíceis em nossas vidas.

Esse texto é um convite para que estejamos atentos aos pequenos detalhes de nossa rotina. Pois todos os dias temos oportunidades de construir boas memórias e recordações nas pessoas com quem convivemos, sejam filhos, familiares ou amigos.

Pequenas atitudes como beijar os filhos antes de dormir, ou ao acordar, o bom dia ao porteiro, levar um cafezinho para seu amigo de trabalho, possuem um potencial de se transformar em boas memórias afetivas, para o outro e para nós mesmos, desde que sejam contínuas e verdadeiras.

E para você? Quais bons momentos se transformaram em memórias afetivas?

*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora