Golpes, dívidas e esperança: o retrato financeiro do Brasil em 2025 e como se proteger
Em 21 de julho de 2025, a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) divulgou os resultados da 17ª edição da pesquisa Observatório Febraban, realizada em parceria com o Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (IPESPE).
Essa pesquisa ouviu 3 mil pessoas nas cinco regiões do Brasil, entre 12 e 26 de junho de 2025, e levantou dados importantes sobre educação financeira, comportamento de uso de crédito, endividamento, golpes, hábitos de poupança e percepção das finanças pessoais da população brasileira.
O valor desse tipo de levantamento está em trazer luz para o que muitas pessoas sentem, mas às vezes não falam: insegurança sobre os próprios recursos, medo de dívidas, violações financeiras (golpes) e desejo de saber lidar melhor com o dinheiro.
Em outras palavras, essa pesquisa serve como um diagnóstico da “saúde financeira” da população, que pode guiar políticas públicas, iniciativas de educação e também servir como alerta para todos nós.
Principais descobertas: o retrato das finanças dos brasileiros
1. Conhecimento e autopercepção de educação financeira
Baixo nível de domínio: Segundo os entrevistados, 55% confessam que entendem pouco (40 %) ou nada (15 %) de educação financeira.
Importância reconhecida: Mesmo assim, 91% consideram o tema como algo importante ou muito importante para sua vida pessoal e profissional.
Visão restrita do conceito: Para 47%, “educação financeira” se resume a controlar receita e despesa cotidianos — ou seja, cuidar do orçamento doméstico. Investimentos, patrimônio ou proteção contra imprevistos aparecem menos no entendimento comum.
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Saber que a maioria das pessoas reconhece seu pouco domínio é o primeiro passo: admitir que precisamos aprender já abre espaço para buscar conhecimento.
Mas a visão limitada do tema mostra que muitos ainda não percebem que educação financeira vai além de “gastar menos do que ganha” — envolve planejar para emergências, investir, proteger patrimônio, e lidar com crédito com segurança.
2. Uso de crédito, dívidas e hábitos de poupança
Uso de crédito é comum: 61% dos entrevistados afirmam usar crédito frequentemente ou às vezes — seja cartão, empréstimo ou outro meio.
Endividamento relevante: 39% dizem estar atualmente endividados. Entre esses, 23% acreditam que vão terminar 2025 com mais dívidas do que tinham no ano anterior.
Esperança de redução: 48% dos endividados esperam diminuir o endividamento ainda em 2025.
Impacto emocional: 77% dos que têm dívidas dizem que isso afeta sua saúde emocional ou qualidade de vida.
Hábito de poupar/investir: 61% afirmam que, quando possível, poupam ou investem (30% frequentemente, 31% às vezes).
Limitações financeiras: 29% afirmam que não têm condições atuais de poupar ou investir, embora se dissessem dispostos se tivessem recursos.
Mesmo quem usa crédito com frequência ou convive com dívidas tenta poupar se sobrar algo no orçamento. Isso mostra que, para muitos, poupar não é uma ação planejada, mas algo que “se der”. Idealmente, a reserva de emergência e uma estratégia de poupança devem funcionar como prioridade, não sobras
3. Golpes financeiros e tentativas
Incidência alta: 39% dos entrevistados dizem que já foram vítimas ou tentaram ser vítimas de golpe envolvendo conta bancária. Esse percentual é recorde na série histórica da pesquisa.
Golpes mais comuns relatados espontaneamente:
1. Clonagem de cartão ou troca de cartões — 45% dos que foram vítimas relatam essa modalidade.
2. Golpe do WhatsApp (alguém se passando por conhecido pedindo dinheiro) — 34%.
3. Golpe da “central falsa” — 31%. Isso inclui quem liga dizendo ser do banco ou órgão de proteção, pedindo dados ou códigos.
4. Pix falso — 24%.
5. Uso indevido de CPF via SMS — 13%.
6. Golpe de leilão / loja falsa — 10%.
Esses números impressionam. Isso significa que muitas pessoas já vivenciaram a insegurança financeira causada por golpes – seja perda de dinheiro, susto ou risco de exposição de dados. Quanto mais as pessoas forem alertadas e educadas, menores as chances de sucesso dos golpistas.
Como transformar estes dados em ação: orientações práticas
Uma pesquisa como essa serve de alerta — mas não deve gerar desânimo. Ao contrário: oferece pistas de onde podemos agir para melhorar nossa relação com o dinheiro e proteger nosso patrimônio. Aqui vão orientações práticas, baseadas nos resultados e em boas práticas de educação financeira:
1. Busque conhecimento de qualidade
Leia sites confiáveis, de instituições financeiras reconhecidas, de órgãos reguladores ou de entidades sem fins lucrativos que tratam de finanças pessoais.
Atenção às redes sociais: verifique quem é a fonte, se há respaldo técnico ou se é apenas mais um “professor financeiro de redes sociais”. Nem tudo que brilha é ouro.
Use livros, cursos gratuitos, podcasts ou vídeos de especialistas com histórico confiável.
2. Planeje antes de tomar crédito
Antes de fazer empréstimos, financiamento ou usar cartão de crédito, pergunte: “realmente preciso disso agora?”
Calcule quanto vai pagar de juros e taxas. Compare opções.
Verifique se incluí na sua renda mensal a parcela que vai comprometer e se isso permitirá pagar outras contas.
Prefira opções de crédito mais baratas, com taxa clara e contrato transparente.
3. Crie uma reserva de emergência
Objetivo inicial: acumular o equivalente a pelo menos 3 meses de suas despesas fixas (aluguel, contas essenciais, alimentação). Depois, tentar 6 meses.
Essa reserva deve estar em aplicações com liquidez (facilidade de resgate) e baixo risco.
Mesmo que seja pouco por mês, comece: reservar pequenas parcelas regularmente é mais eficiente do que esperar ter grandes quantias.
4. Revise seu orçamento e acompanhe gastos
Anote tudo: receitas, despesas fixas (aluguel, água, luz, internet…) e despesas variáveis (lazer, transporte, etc.).
Use planilhas ou aplicativos simples para controle.
Ao fim de cada mês, reveja onde você gastou mais, onde pode cortar e onde pode investir ou poupar.
5. Ao investir, diversifique e conheça o produto
Antes de aplicar em qualquer investimento, conheça seu perfil de risco: conservador, moderado ou arrojado.
Evite “fórmulas mágicas” ou promessas de retorno garantido muito superiores ao mercado.
Invista em diferentes aplicações: renda fixa, títulos públicos, investimentos de baixo risco, conforme seu perfil.
Mantenha parte do patrimônio líquida (reserva) e outra parte investida no médio e longo prazo.
6. Ao lidar com instituições financeiras
Peça explicações claras e detalhadas de produtos que contratar.
Exija que condições, prazos, taxas de juros e encargos fiquem por escrito.
Guarde contratos, faturas e comprovantes sempre.
Se sentir insegurança, peça ajuda ou consulte pessoas de confiança ou órgãos de defesa do consumidor.
A pesquisa da Febraban revela um retrato intrigante e desafiador: a maioria das pessoas admite saber pouco de finanças, conviver com dívidas ou medo delas, usar crédito frequentemente e já ter enfrentado golpes.
Ao mesmo tempo, há um desejo claro de aprender mais, de ter acesso a educação financeira e maior proteção.
Se eu pudesse deixar um desafio para você leitor, seria este:
- Escolha começar com uma pequena ação hoje (anotar seus gastos, buscar um canal confiável de educação financeira, rever uma dívida, verificar sua fatura do cartão).
- Compartilhe esse conhecimento com amigos, familiares, vizinhos: golpe e ignorância financeira muitas vezes se multiplicam no silêncio.
- Exija mais transparência das instituições com que você lida: peça explicações simples, condições claras e apoio real quando contratar algo.
Quando mais pessoas tomam essas atitudes, mais debilitamos o poder dos golpes e construímos uma sociedade mais consciente financeiramente.
Pensem nisso e até a próxima !
Ana Alves
@anima.consult
animaconsultoria@yahoo.com.br
Economista, Consultora, Professora e Palestrante