O transporte coletivo faz parte de nossas vidas e, para nossa cidade, o ônibus é o modal-rei; não que seja o melhor ou o único, mas é o predominante, o de maior capilaridade. Isso vale para o contexto urbano, metropolitano e, principalmente, regional.
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Enquanto usuário, posso me orgulhar de certa experiência. Quando universitário, fiz muito uso da saudosa linha Av. Paranjana (041 e 042), responsável por cruzar vários bairros e me conduzir até o Campus do Itaperi da Universidade Estadual do Ceará. Em outra fase, utilizei, também para fins de estudo, o ainda ativo Campus do Pici-Unifor (075). Ainda hoje, mantenho-me um usuário do sistema, dessa vez me valendo de maior diversidade de linhas e itinerários.
Possuo automóvel, mas nunca gostei de conduzir. No trânsito, tudo é muito tenso e a cada momento há sempre algo a se preocupar, inclusive no momento de estacionar. Em complementação, por ideais que acredito serem corretos, a massificação da utilização do transporte coletivo, inclusive pelas teorias urbanísticas, traz muitos benefícios a todos: menos poluição, menos barulho, menos acidentes no trânsito, mais fluidez.
As vantagens listadas são inúmeras! Quando visito outra cidade com sistema de transporte coletivo mais integrado e variado, mesmo que lotados, a sensação de deslocamento acessível e fácil nos obriga a pensar o quanto temos a avançar.
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Os dados que os noticiários locais nos trazem admitem a diminuição gradativa no número de usuários do sistema de ônibus em Fortaleza.Mais e mais trabalhadores, a fim de economizar, passam a utilizar a bicicleta ou mesmo a caminhada como meios de transporte.
As altas taxas de desemprego, certamente, influencia nessa diminuição. Diante desse quadro, os responsáveis pelas empresas de transporte afirmam que a frota é suficiente para a demanda. No entanto, as reclamações a respeito de atrasos e superlotação nos coletivos persistem.
Ao acompanhar o sufoco nos terminais urbanos ou dentro dos coletivos, é difícil romantizar o uso cotidiano dos “busões”. Agora com a pandemia as dificuldades foram escancaradas e outras surgiram. Da forma como está, e nas linhas mais utilizadas pelos trabalhadores nos horários do fluxo casa-trabalho-casa, é simplesmente impossível manter qualquer distanciamento social seguro.
Em pesquisa realizada pela Fiocruz em Recife, os terminais de transporte são os lugares com maior risco de contaminação, com mais de 48,7% das amostras positivas. Por isso, os sanitaristas defendem a distribuição de máscaras de excelente qualidade aos usuários do sistema. Parece-me uma medida sensata e de custo acessível à municipalidade. Por que não tentar?
No nosso caso, seria leviano afirmar que durante estes anos nada mudou. Em Fortaleza, avanços são verificados: a criação dos terminais na década de 1990; o uso dos bilhetes eletrônicos e a integração temporal na década de 2010; o aumento do número de veículos climatizados e com plataformas para cadeirantes; e a criação de corredores e faixas exclusivas. São importantes e históricas alterações.
Sucede que isso tudo ainda não foi o suficiente para suplantar os estigmas referentes a este modal. Lembro de certa vez, ao descer do ônibus próximo ao trabalho, um aluno, que também estava no mesmo coletivo, olhou-me e, com expressão de grande admiração, disse-me: "professor, o senhor usa ônibus? Pensava que todos eram ricos e tinham carro”. Na sociedade urbana brasileira, é esse imaginário que reina, ônibus é coisa de pobre.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.