Ano passado, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística divulgou a versão atualizada do estudo Região de Influência das Cidades (REGIC). Esse é um documento clássico do IBGE, o primeiro foi elaborado na década de 1970; com outras versões em 1987, 2000 e 2008. Em síntese, o estudo gera quadro classificatório dos centros urbanos brasileiros, indica os mais dinâmicos e os fluxos estabelecidos entre si.
O REGIC é o principal documento oficial capaz de caracterizar a organização da rede urbana brasileira. Os nós dessa rede são todos os núcleos urbanos situados no território nacional, enquanto os fios conectores são os fluxos de pessoas, capitais, mercadorias e informações. Fluxos esses produto das ações entre as empresas, das políticas de Estado e dos interesses da sociedade civil.
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No histórico interpretado, uma das informações mais interessantes que a pesquisa sobre as influências das cidades nos revela é a crescente polarização centrada em Fortaleza. Entre as três maiores aglomerações metropolitanas nordestinas (isso inclui Salvador e Recife), a cearense foi a que mais elevou territorialmente seu grau de influência.
O Arranjo Populacional de Fortaleza se vincula diretamente a cinco capitais regionais, a 34 centros sub-regionais, a 58 centros de zona e a 630 cidades. A rede urbana capitaneada por nossa capital alcança uma população de mais de 20 milhões de habitantes e se descortina sobre estados como Rio Grande do Norte, Piauí, Maranhão e ainda trechos de Pernambuco, Tocantins e Pará.
Há, no mínimo, duas possibilidades explicativas para esse quadro. A primeira diz respeito à ampliação das infraestruturas. A projeção da metrópole, enquanto cabeça de rede urbana, deve-se aos investimentos em infraestruturas de transporte e reestruturação econômica. Certamente, os maiores exemplos são o Porto do Pecém, a Zona de Processamento de Exportação e o Aeroporto Internacional com seus Hubs aeroviários.
A segunda explicação remete-se aos serviços sediados em Fortaleza e Região Metropolitana Na Capital, são identificados os mais especializados e complexos centros de atendimento à saúde, assim como as principais instituições de pesquisa e ensino superior. Esses são considerados serviços extremamente raros, pouco difundidos, mesmo na região polarizada por Fortaleza. Some-se a isso o estabelecimento de instituições da administração federal como o Departamento de Obras contra a Seca (DNOCS) e o Banco do Nordeste.
Esse quadro parece muito positivo, no entanto, há ressalvas. A REGIC aponta que a rede urbana de Fortaleza apresenta renda per capita de R$ 13.561, a menor entre as 15 principais redes urbanas do país. Para o contexto regional, a concentração de serviços em poucos aglomerados urbanos, ou em um único, cria desequilíbrios regionais.
Trocando em miúdos, os habitantes de centros ou cidades desassistidos pelas infraestruturas e serviços enfrentam maiores dificuldades para acessar atendimento médico especializado, educação de qualidade, postos de trabalho e atividades de lazer e cultura. Tais condições implicam na diminuição dos índices de renda e qualidade de vida.
Cabe estabelecer um planejamento regional capaz de descentralizar as atividades públicas e incentivar a realocação de investimentos privados. Dessa maneira, criam-se condições para maturação de centros urbanos intermediários, fato que diminui a tendência às migrações (de pessoas à empresas) em direção à já consolidada Região Metropolitana de Fortaleza.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.