O carnaval é uma festa poderosa porque é capaz, dentre outras coisas, de redefinir os espaços e as funções urbanas: da cidade habitual à cidade da folia.
Nunca fui um folião de primeira, admito. Pra mim, e ainda hoje, o carnaval nos traz alguns dias a mais de descanso e só. Por outro lado, enquanto observador, é impossível não perceber o quão intensamente esse evento transforma as nossas cidades.
No sambódromo do Anhembi, em São Paulo, ou na Sapucaí, no Rio de Janeiro, os milionários e esplendorosos desfiles das escolas de samba produzem paisagens carnavalescas temporárias, porém inesquecíveis. As imagens são tão potentes e disseminadas mundo afora, que para cidadãos de muitos países essas tornam-se uma das representações das cidades brasileiras.
O carnaval é uma festa poderosa porque é capaz, dentre outras coisas, de redefinir os espaços e as funções urbanas: da cidade habitual à cidade da folia. Os circuitos dos trios elétricos em Salvador são prova disso, da mesma forma que, em Recife, as ruas se rendem à multidão seguidora do majestoso Galo da Madrugada. Nem se fale, então, dos caminhos históricos, festivos e vibrantes de Olinda.
Em 2020, último carnaval festejado, aproximadamente 450 blocos levaram às ruas cariocas mais de 7 milhões de foliões. O mais famoso deles, o Cordão do Bola Preta, atraiu 630 mil pessoas. As análises dos números não deixam dúvida: não há outra manifestação popular com tamanho poder atrativo e espontâneo.
Aqui em Fortaleza, a monótona avenida Domingos Olímpio, transfigura-se. O vai e vem de automóveis dá lugar aos movimentos, as batidas e as cores dos blocos, maracatus, afoxés, cordões e escolas de samba.
Para as milhares de pessoas envolvidas nestas agremiações é desanimador lidar com mais um cancelamento. A pandemia novamente limitou as festas, barrou a apropriação intensa dos espaços públicos. No pré-carnaval, Benfica e Iracema ganhas outras dinâmicas orquestradas pelos blocos.
Para 2023, a grande sugestão é aprimorar tudo o que foi feito na programação pré-carnavalesca em 2020. Naquele último ano de festas públicas, a municipalidade mandou bem em descentralizar as comemorações e incorporar novos espaços para os festejos: do Aterrinho da Beira-mar aos polos de lazer no Conjunto Ceará.
No entanto, ao longo dos dias de carnaval Fortaleza os festejos organizados perdem força e a cidade passa à condição de pólo exportador de foliões, principalmente, para as praias do litoral leste e oeste. No próximo ano, os amantes do carnaval, sobretudo as camadas mais populares, merecem 4 dias bem planejados e repletos de atrações como, geralmente, se faz nas semanas de preparação para a festa principal.
Agora, me deem licença que vou deitar na rede e aproveitar estes últimos dias do Carnaval de 2022.
"Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor”.