Reforma do IR: a classe média cearense vai mesmo sentir alívio?

Escrito por
Alberto Pompeu producaodiario@svm.com.br
(Atualizado às 15:51, em 16 de Outubro de 2025)
Legenda: A reforma do imposto de renda aprovada no Congresso promete isentar quem ganha até R$ 5.000 e taxar os super-ricos.
Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

O professor de escola pública que ganha R$ 4.800, a técnica de enfermagem com salário de R$ 5.200, o servidor municipal que recebe R$ 4.500. Todos eles acabaram de ganhar, no papel, um alívio fiscal. A reforma do imposto de renda aprovada no Congresso promete isentar quem ganha até R$ 5.000 e taxar os super-ricos.

Justiça fiscal, dizem. Mas alguém aqui acredita mesmo nisso? Não é cinismo, é experiência.

No Ceará, estado onde 68% dos trabalhadores formais ganham até três salários mínimos, segundo dados da RAIS, qualquer promessa de alívio tributário soa boa demais para ser verdade. E geralmente é.

Porque na prática brasileira, imposto que sai por uma porta costuma entrar disfarçado pela outra: IPVA reajustado, tarifa de água mais cara, taxa de lixo inventada.

A conta que ninguém está fazendo é simples. Se você ganha R$ 4.500 e hoje paga cerca de R$ 300 de IR por mês, a isenção total representa R$ 3.600 por ano. Dinheiro que faz diferença? Claro. Muda vida? Não. Principalmente se vier acompanhado dos aumentos que já estão no forno: gasolina, energia, gás. Mas vamos ser justos.

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Mesmo que o alívio seja menor do que o prometido, ele existe. E aí mora o verdadeiro problema: o que a classe média brasileira, especialmente a nordestina, vai fazer com esse dinheiro?

Porque se tem uma coisa que a gente faz bem é transformar folga financeira em novo aperto. Ganha um pouco mais, já pensa em trocar de carro, fazer aquela reforma, parcelar uma TV maior. É como se respirar fosse proibido. Qualquer espaço no orçamento vira desculpa para novo endividamento.

Os dados do Banco Central mostram que o cearense tem uma das maiores taxas de comprometimento de renda do Nordeste com dívidas. Não é falta de dinheiro, é falta de planejamento. E nenhuma reforma tributária resolve isso.

Então fica a pergunta incômoda: de que adianta pagar menos imposto se vamos continuar pagando 15% ao mês de juros no cartão? De que adianta ter R$ 300 a mais no bolso se não sabemos a diferença entre CDB e poupança?

A reforma pode até ser justa. Mas o desafio da classe média não é tributário, é comportamental. Enquanto continuarmos tratando alívio como licença para gastar, nenhum governo vai nos tirar do sufoco.

A prosperidade não vem de Brasília, vem da nossa capacidade de dizer não para o parcelado e sim para a reserva de emergência. Menos imposto é bom. Mas educação financeira é melhor. E essa reforma aí, infelizmente, não ensina ninguém a poupar.

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor. 

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