A próstata e sua dupla cirurgia
Neste novembro azul, dedicado ao câncer de próstata, gostaria de convidar todos os homens a olharem para este pequeno órgão não como uma ameaça à vida, mas sim como um aviso que alerta sobre o estilo de vida e as emoções que podem estar sendo negligenciadas
Neste novembro azul, dedicado ao câncer de próstata, gostaria de convidar todos os homens a olharem para este pequeno órgão não como uma ameaça à vida, mas sim como um aviso que alerta sobre o estilo de vida e as emoções que podem estar sendo negligenciadas. A perspectiva holística amplia as possibilidades de tratamento. A próstata carrega significados profundos que vão além de sua função anatômica.
Assim como a gastrite nos fala de raiva por digerir um alimento afetivo insano, a saúde da próstata pode refletir a capacidade do homem de gerenciar seu “território de poder”, que inclui suas relações como pai, filho e profissional. Uma próstata saudável indica que um indivíduo possui clareza sobre seus anseios e metas, vive de maneira equilibrada e expressiva, e tem consciência de suas metas e objetivos. Ela revela que o homem sabe administrar bem o seu território.
A vida nos convida a sermos alegres e felizes, a expressar e viver nossas emoções de forma responsável e com respeito. Quando surgem acontecimentos que bloqueiam nossa alegria de viver, a criatividade de se exprimir, a próstata reage. É hora de pensar se não está limitando suas conquistas aos prazeres exclusivamente sexuais ou materiais. As doenças da próstata fazem com que o homem repense como está vivendo seu papel e seu poder nas relações sociais.
É um convite para uma reflexão profunda sobre a vida e as emoções. A psicossomática nos ensina que os sintomas físicos podem ser manifestações de conflitos emocionais não resolvidos.
Problemas na próstata nos fazem pensar sobre frustrações, mágoas e sensação de perda de poder, tanto na vida social quanto na pessoal. O tratamento deve ser realizado de forma simultânea: cirurgia, se necessário, e revisão da vida afetiva que estou levando. Para cada problema específico, precisamos fazer algumas reflexões. A Prostatite, por exemplo, nos convida a refletir sobre os sentimentos de frustração, decepção e raiva por não nos sentirmos fortes ou capazes.
Estarei deixando de lado minhas emoções por medo e estou vivendo um caos afetivo? Adenoma de Próstata é comum em homens idosos e fala das mágoas que guardam em relação aos filhos e da sensação de perda de poder e relevância na sociedade. Ele nos convida a refletir se há alguma mágoa em relação a um dos filhos? Sinto que estou perdendo o meu poder no trabalho ou na sociedade?
É como se o homem estivesse se sentindo velho e incapaz de aproveitar toda sua capacidade de criação para desfrutar da sabedoria. Câncer de próstata surge após experiências traumáticas, como fracassos profissionais ou a aposentadoria, que o homem não queria ter por ser muito ligado ao trabalho, que podem deixar o homem se sentindo desamparado e sem motivação para viver, como incapaz de seduzir e conquistar.
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Pode ser uma expressão de um profundo sentimento de perda e falta de propósito na vida. Tudo se passa como se minha vida não tivesse mais sentido. Essas questões são importantes para compreendermos que a saúde emocional está intimamente ligada à saúde física. A dificuldade de urinar é uma metáfora para a dificuldade de evacuar e expressar emoções, especialmente as ligadas às relações familiares e à criatividade.
Nos fala de um sentimento que estou distante da minha criatividade e do meu direito à felicidade. Quero compartilhar com vocês minha experiência quando fui diagnosticado com um câncer de próstata que precisaria me operar. Integrei a cura física com uma reflexão psicológica e espiritual e apliquei as teorias que uso para aplicar em pacientes e amigos, o que me ajudou muito no meu tratamento e na minha recuperação.
A próstata, como órgão, é responsável pela secreção do líquido prostático, substâncias, que estão ligadas ao aparelho reprodutor masculino. Simbolicamente, ela nos fala das lutas para conquistar meu espaço existencial, territorial e manter meu poder social diante da vida. Não é pela urina que os mamíferos marcam seus territórios? Tive uma nítida clareza de que as lutas para conquistar um lugar ao sol não eram somente minhas, mas também de meu país e avós maternos e paternos.
Compreendi que não é somente a herança física que nos é transmitida pelos nossos ancestrais, mas também as lembranças que se manifestam no nosso corpo físico. Acessar e decodificar essas memórias transgeracionais possibilita ao indivíduo se apropriar da sua história, compreender melhor suas heranças ancestrais, fazer uma ruptura e ressignificar esse legado, prevenindo que se repitam nas gerações futuras.
Minha próstata, engrandecida pelo acúmulo de memórias transgeracionais, foi extirpada por um urologista. Ao me livrar deste minúsculo órgão, eu estava não apenas me despedindo, me liberando dele, mas também de um legado de memórias e experiências que carregava comigo, provenientes de minha ancestralidade. Essa conexão entre a saúde física e as memórias transgeracionais é fundamental em qualquer tratamento.
As lutas e conquistas de nossos antepassados podem influenciar não apenas nossa saúde, mas também nossa forma de viver. Meu avô, João Neco, perdeu seu pai com a idade de 3 anos e para escapar da fome pela seca, deixou o Cariri e veio morar em Canindé, terra de adoção. Com 18 anos, teve que ir para a Amazônia trabalhar durante o ciclo da borracha, de onde retornou ao Ceara trazendo, entre outras cicatrizes, marcas das crises de malária.
Corpo e mente
Este minúsculo órgão não é pura anatomia, ele tem uma alma, ele acumulava memórias de vidas vividas por meus antecessores. Identificar essa enfermidade, sem identificar as mensagens inconscientes veiculadas por ela, não podemos falar de uma cirurgia libertadora, mas de uma mutilação e privação de toda uma aprendizagem e sabedoria. Enquanto o cirurgião e o anestesista agiam materialmente neste órgão, eu me preparei na véspera para usar mentalmente o bisturi da minha consciência para dar sentido a este ato cirúrgico.
Meu corpo físico estava anestesiado, mas minha mente estava ativa fazendo uma autocirurgia de outra ordem. Foi uma cura cósmica: curei a mim, aos meus antepassados e aos meus descendentes. Estou convencido de que toda cirurgia não deve ser entendida apenas como um procedimento médico, mas como um ato de libertação e ressignificação. Me preparei mentalmente para a operação, fazendo uma “autocirurgia” em minha mente, buscando dar sentido ao que estava prestes a acontecer.
Essa abordagem me permitiu sentir-me em controle e participante no meu processo de cura, transcendendo a experiência física e se transformando em uma experiência de cura cósmica que abrange não somente a mim, mas também meus antepassados e descendentes. Tive uma cirurgia tranquila e um pós-operatório sem sequelas. Creio que, para todas as nossas enfermidades, devemos adotar o mesmo procedimento.
Deixar os profissionais de saúde realizarem o seu tratamento, mas cada um deve realizar sua autocirurgia, seu tratamento mental complementar, garantindo uma cura ampla e satisfatória, sem riscos de recidiva.
Todos deveríamos adotar uma prática semelhante em nossas vidas, onde o tratamento médico é complementado por uma introspecção cujo objetivo é compreender e reconfigurar nossas experiências. Essa visão holística da saúde, que inclui corpo, mente e emoções, é crucial para promover uma recuperação verdadeira e significativa.
Cuidar da próstata é também cuidar da saúde emocional e das relações, procurando um equilíbrio que permita viver de forma plena e consciente. Para o tratamento de qualquer enfermidade, e neste caso o câncer de próstata, é importante ter uma abordagem integral para o tratamento, que vai além da cirurgia física. A cura deve incluir uma reflexão aprofundada sobre a vida e as emoções, sugerindo que o tratamento deve ser tanto físico quanto psicológico. A cirurgia é uma forma de libertar não apenas as doenças do corpo, mas também as memórias e os legados familiares que podem ter um impacto na saúde.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.