Whindersson Nunes e Luísa Sonza: a mulher não é livre nem para amar

O humorista e a cantora anunciaram a separação nesta quarta-feira (29)

Não precisa voltar tanto na história para lembrar o quanto era amedrontador para as mulheres se tornar uma "desquitada". Separar-se do marido significava uma vergonha social. Mostrava que ela não era capaz nem de "segurar" aquela dádiva que era ter um homem em casa, sob qualquer condição (e sabemos que, tirando pelas estatísticas, elas sempre foram desfavoráveis às mulheres). O casamento era o sinônimo de sucesso - e o fim dele significava o fracasso feminino.  

2020. E o que mudou? Sinto dizer que pouca coisa, apesar dos avanços. Hoje um famoso casal anunciou a separação: Whindersson Nunes e Luísa Sonza. Ele, um humorista bem sucedido. Ela, uma cantora bem sucedida. Anunciaram o fim do casamento de uma forma cuidadosa, gentil e carinhosa com o relacionamento dos dois. Há de se lamentar, talvez, o fim de um casamento que era acompanhado por tanta gente que, também talvez, torcia pela felicidade do casal. Porém, o que era óbvio se confirmou: não há uma lamentação pela separação. O que está acontecendo é que a mulher passou a ser, mais uma vez, atacada das mais diferentes maneiras. 

Na real, desde sempre Luísa fora questionada no relacionamento. Nunca decidiram, porém, se ela era uma aproveitadora ou se ela incrível demais para ele. Não importava qualquer declaração dos dois em que contava a história de amor, a decisão pelo casamento e a ausência de polêmicas durante esses quatro anos de relacionamento. 

Nos comentários do post que informa a decisão, Luísa tem sido chamada de oportunista, aproveitadora e todas as outras palavras que adoram colocar em todas nós. Ela é uma artista de sucesso, cantora pop, se expressa de maneira livre com seu corpo e sua voz. Apesar dos dois frequentarem o show business, ela tem uma carreira independente da do então marido, em segmentos bem distintos. Ainda assim, a cantora é atacada porque "nunca teve jeito de mulher casada", "todo mundo avisou que era oportunista" e "se apoiou nele e depois meteu o pé" (todas essas aspas são comentários reais tirados das redes sociais do agora ex-casal). 

Eu já fui casada. E já ouvi também que a minha roupa não era condizente com meu estado civil quando fui a um restaurante com uma amiga. Nem lembro que roupa eu estava, mas lembro que a frase me marcou. Afinal, por qual razão mesmo eu deveria mudar meu modo de vestir a partir do documento que assinei declarando que mantinha um relacionamento com outra pessoa? Desculpa, isso não faz sentido pra mim. Ter uma relação com alguém é (ou ao menos deveria ser) uma escolha, baseada em sentimentos e desejos mútuos, em que nada reflete no seu modo de ver o mundo ou portar-se em relação a ele. Muito menos sobre o seu modo de vestir, com quem você vai falar ou que rumo a sua carreira profissional seguirá. 

Todo esse discurso se vale da ideia ainda vigente de mulher como posse, propriedade, em que o homem determina, a partir de então, como ela deve se portar, vestir, falar… viver. Bela, recatada e do lar.

São gerações e gerações em luta pela libertação feminina e equidade de gênero para derrubar essa e outras ideias. E isso passa muito por essa instituição chamada casamento. 

Hoje podemos optar pelo divórcio, mas ainda somos expostas à vexação social, dessa vez pela internet, de quem se sente muito confortável em apontar e falar qualquer tipo de absurdo a alguém por meio de um teclado e uma tela. Essa parcela das pessoas odeia mulheres livres. Para eles, é insuportável ver uma mulher independente financeiramente e que se sinta bem com seu corpo, desejos e vontades.  

Whindersson e Luísa resolveram se separar. Em uma decisão, como dita por eles, feita em acordo entre os dois. Porém, somente um lado sofrerá o julgamento. E sabemos já qual é. A mulher não é livre nem para amar.