Paulo Guedes e a “festa das domésticas”

Fala de ministro escancara desdém a crescimento econômico das camadas populares

Foto: Isac Nóbrega/PR

Na tentativa de convencer a população de que o dólar está muito bem no patamar de R$ 4,35, como fechou ontem, o ministro da Economia Paulo Guedes disse que antes estava “uma festa danada” porque tinha até “empregada doméstica indo para a Disneylândia”

Como se isso não pudesse jamais pertencer ao mundo de quem realiza esse tipo de trabalho.

Em pouco tempo, ele se deu conta da besteira que falou:

Vão dizer 'ministro diz que empregada doméstica estava indo para Disneylândia'. Não, o ministro está dizendo que o câmbio estava tão barato que todo mundo estava indo para a Disneylândia
 

Não, ministro, assim como no caso em que o senhor chamou os servidores públicos de “parasitas”, não há contexto que salve sua declaração. 

Além de preconceito inaceitável contra uma classe de trabalhadores, a fala revela também desconhecimento e desinteresse completo do governo em melhorar de fato as condições de vida dos mais pobres.

A “festa” a que Guedes se refere simboliza o crescimento do poder econômico que as camadas populares perceberam em anos anteriores com as políticas de inclusão dos governos PT, o que em muito incomodou os mais ricos por terem perdido a exclusividade de acesso a certos bens e serviços. Um desdém elitista.

Por algum tempo, pessoas até então excluídas de certos segmentos da sociedade conseguiram comprar “coisas boas” e viajar de avião, o que se tornou um emblema nacional.

Mas a crise veio e atingiu em cheio as classes mais baixas - e a desigualdade de renda, que apesar dos altos níveis, vinha caindo na época, voltou a crescer em meio à deterioração da economia e aumento da violência. 

A quantidade de pessoas que realizavam o trabalho doméstico aumentou e, sem oportunidades em meio a um nível de desemprego crescente, foram para a informalidade. Com salários menores, sem hora extra, férias, aposentadoria ou FGTS.

É muito preocupante a fala do ministro, que revela não existir intenção nem de ao menos buscar a reduzir desigualdades entre as diferentes camadas da população. O propósito é manter o fosso social que separa os ricos, que podem viajar para a "Disneylândia", e os pobres, com subempregos e sem direitos.

Entendemos também, senhor ministro, o seu ponto de vista: para a economia, melhor que um cenário de juros altos e dólar baixo é o inverso momento atual. Mas antes de cantar vitórias pelo feito, observe o cenário de miséria em que vive grande parte da população. Não há como comemorar enquanto ele existir.



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