Brasil cresce em Davos, mas ainda tropeça

Paulo Guedes conseguiu atrair a atenção de investidores externos, mas topou ao sair do âmbito econômico

Legenda: "Começamos agora a dar dinheiro na veia, direto para as empresas", afirmou Guedes durante live.
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A presença do ministro da Economia Paulo Guedes no Fórum Econômico Mundial, em Davos, instigou a atenção de investidores internacionais, mas ruídos ainda atrapalharam o trabalho de resgate da reputação brasileira mundo afora. Ao mesmo tempo em que o desempenho da economia nacional demonstrada pelo ministro animou executivos, sua falácia de culpar a pobreza pelo desmatamento o deixou em uma situação complicada.
 

Na terça, o ministro afirmou que “pessoas destroem o meio ambiente porque precisam comer”, declaração que não corresponde a dados sobre o desmatamento na Amazônia e que foi rebatida pelo ex-vice-presidente dos EUA Al Gore em um painel do evento. Ele disse que esperar solução para a pobreza com plantações na Amazônia é dar falsas esperanças para as pessoas, dado que o solo é pobre. 
 

Após o comentário do americano e a má repercussão da fala, Guedes explicou: referia-se ao fato de que as maiores pressões em relação à floresta amazônica virem de países que mais desmataram, seja para escapar da miséria, por desconhecimento em outras épocas ou por ataques a minorías étnicas. O ministro afirmou que os brasileiros estão conscientes da importância da preservação dos recursos naturais.
 

Consciente da necessidade de dar uma resposta mais assertiva à comunidade internacional, o governo preparou um anúncio. Enquanto Guedes falava em Davos sobre a reabertura do Centro de Biotecnologia da Amazônia, Bolsonaro anunciava em Brasília a criação do Conselho da Amazônia, a ser gerido pelo vice-presidente, Hamilton Mourão. Mais detalhes não foram apresentados, indício de uma medida tomada com pressa.

Se não piorou, a imagem de governo com consciência ambiental que Guedes tentou passar no encontro também ainda não convenceu, em meio a evidências demais que apontam para o contrário e a tantos disparates provenientes do próprio presidente e do titular da pasta do Meio Ambiente.

 

Sem Ricardo Salles para explicar a posição oficial do País, coube ao ministro da Economia seguir a cartilha de Trump e defender que o Brasil tem outros problemas para tratar antes. 
 

Embora relatos deem conta de que o tom foi mais de questionamento do que de acusação do governo brasileiro, é consenso que o fórum de Davos deixou clara a necessidade de, após um ano de devastadores desastres naturais, os países atenderem às demandas de preservação do meio ambiente, sob pena de ficarem no fim da fila na hora de investidores escolherem onde colocarem seu dinheiro.
 

Na questão ambiental, não há espaço para discussões ideológicas baratas por parte do governo - pouco importa se a gestão não “acredita” na necessidade cientificamente comprovada de preservação do meio ambiente. A questão já está na seara econômica, que interessa mais a Bolsonaro. Não há outra opção: o Brasil tem que entrar na linha na defesa do meio ambiente.