Coronavírus: economia mergulha no desconhecido

Pior que o risco, que pode ser medido, é a incerteza sobre o que pode acontecer e por quanto tempo

O novo coronavírus chegou com toda força no País. Na falta de um direcionamento nacional imediato de prevenção à disseminação da Covid-19, coube aos estados agir com medidas enérgicas para tentar frear o contágio da população, que só então, começou a sentir na pele a gravidade da situação atual.

Medidas essas que chegaram a ser criticadas pelo presidente Jair Bolsonaro, que não agiu com a rapidez necessária, insiste em diminuir o problema e ainda arrisca disseminar o vírus. São crimes contra a saúde pública do País, que passará pelo maior desafio de sua história nas próximas semanas.

A pandemia e o isolamento social, indispensável para evitar o contágio desenfreado, terá também sérias repercussões para quase todos os setores da economia. Comentei na semana passada o quão determinante para o resultado é acertar o tempo da resposta, e o Governo continua atrasado em dar soluções também para tentar resguardar a economia (e os empregos) do País.

Embora estejam na direção certa, como garantir uma assistência a autônomos afetados pela crise, a realidade é que grande parte da população - como os informais, estão desprotegidos. Isso em um País onde a taxa de informalidade corresponde à quase metade da população ocupada, proporção que é muito maior nos estados do Norte e Nordeste.

Eduardo Vianna, professor de Engenharia Econômica da Universidade São Judas Tadeu, avalia que o impacto será mais forte, sobretudo, em segmentos que não serão atendidos pelas políticas macroeconômicas ditadas pelo Governo. “Como as médias e pequenas empresas, que compõem 62% da força de trabalho do Brasil. Ao atingir essa fatia de economia, teremos questões sérias, viveremos dias de depressão, não recessão”, prevê.

Ele aponta que o impacto sobre as empresas serão severos, que terão que abrir negociações para conseguir atravessar o período.

“Já existem medidas de contingenciamento, como férias coletivas e a possibilidade de reduzir jornadas e salários, mas o ideal é que isso seja acordado com os sindicatos. O cenário é de incerteza e o comércio varejista precisa se adaptar, usar a força do e-commerce”, sugere.

Ações de outros órgãos, como a redução de juros pelo Banco Central a 3,75%, mesmo ainda considerada insuficiente, e ampliação da oferta de crédito e extensão de prazos de pagamento pelos bancos também são indispensáveis para atravessar esse momento turbulento. O ideal é que cada um faça a sua parte para preservar o todo - afinal, sem cooperação, ninguém vai muito longe.

Tudo vai depender de quanto tempo esse momento vai durar - que, por sua vez, dependerá de quanto tempo levará o País a controlar a situação. E sem que sejam seguidas as medidas recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) de isolamento social e testagem em massa, não deverá passar rapidamente e sem sobrecarga no sistema de saúde brasileiro. 

Pioram esse cenário os fatos de que não só os governos têm dificuldade de implementar o toque de recolher, como o de que muitas pessoas ainda não se conscientizaram dessa necessidade de se isolarem e adotar medidas de higiene. Como disse Vianna, é preciso que o País se una primeiro para salvar as pessoas e, em seguida, a economia.