O primeiro passo para organizar a vida financeira
Conhecimento das despesas e dos ganhos mensais é indispensável para planejar gastos e equilibrar o orçamento familiar
O caminho para se ter uma vida financeira saudável pode ter vários destinos, mas todos começam pelo mesmo ponto de origem: saber o quanto que se ganha e o quanto que se recebe. Dessa forma, muitos especialistas em educação financeira recomendam que as pessoas mantenham uma relação de todos os pequenos e grandes gastos e ganhos mensais para, assim, conseguir diagnosticar para onde o dinheiro está indo.
De acordo com o professor Luiz Viana, da Universidade de Fortaleza, essa é medida é necessária para que as pessoas conheçam seu perfil financeiro. “É muito comum algumas pessoas chegarem ao final do mês sem recursos e ainda assim, se perguntando onde o dinheiro foi gasto. Fica aquela sensação que o dinheiro nem entrou e já saiu!”, aponta, recomendando que o controle seja feito em uma planilha, seja eletrônica ou no papel.
Com essas informações em mão, que podem surpreender muita gente, o próximo passo é priorizar as despesas até o limite da renda. “O nome disso na economia é ‘restrição orçamentária’. Apesar do nome pomposo, o raciocínio é simples: se alguém tem um salário de R$ 2 mil reais por mês, o limite das suas despesas mensais (inclusive, a poupança) será de R$ 2 mil”, explica Viana.
“Depois de colocar tudo no papel, faça um esforço para identificar aquelas despesas supérfluas, desnecessárias, ou mesmo produtos e serviços substitutos com preços mais baixos, de maneira a ‘descer um degrau’ do padrão de gastos atual”, recomenda o economista Alisson Martins, coordenador do curso de Economia da Universidade de Fortaleza. “A ideia é fazer sobrar recursos para pagar dívidas e constituir reservas”.
Limites de gastos
É nessa hora que o orçamento entra em campo: o momento de atribuir limites às despesas para respeitar o valor da renda mensal e, assim, evitar o endividamento. Para isso, é preciso listar todas as despesas e ganhos, fixos e eventuais, e estabelecer tetos de gastos a diferentes categorias, como alimentação, transporte e moradia. Na maioria das vezes, é preciso fazer um esforço para se cortar despesas que não sejam prioridade.
“Priorize, fundamentalmente, as despesas essenciais, como alimentação e serviços básicos (água, luz, transporte, etc.). Caso esteja com contas em atraso, em razão dos altos juros, é sugerido priorizar a renegociação de dívidas, especialmente as operações de maior taxa de juros e serviços essenciais”, recomenda Martins, que destaca ainda a necessidade de se estabelecer metas de consumo de curto, médio e longo prazo para a família no orçamento.
“Estas metas devem ser claras e realistas para seu padrão de renda. Exemplos de sonhos de curto prazo (até dois anos): computador, TV, etc.; de médio prazo (de dois a dez anos): carro novo, viagem para o exterior; e longo prazo (acima de dez anos): compra da casa própria, montar um negócio”, aponta o coordenador. “O desejo de realizar seus sonhos serão superiores a vontade de continuar a efetuar gastos com supérfluos”.
Viana acrescenta que, da mesma forma que haverá despesas esporádicas, também haverá receitas eventuais, tais como 13º salário, férias, participação em lucro ou restituição de imposto de renda. “O segredo seria tentar ‘casar’ os meses das despesas esporádicas com as rendas também esporádicas. Às vezes isso não é possível, então é importante que se faça uma poupança para o pagamento dessas despesas que são previsíveis”, recomenda.
Para o professor, o orçamento é um exercício a ser feito em família para estabelecer quais serão as prioridades naquele período. “Precisa haver um pacto familiar porque muitas vezes os interesses dos membros são divergentes”, aponta. “O orçamento vai mostrar claramente o que a família vai abrir mão de gastar hoje para incluir alguma outra despesa. É uma questão simples de matemática... não se pode gastar mais do que o que se ganha!”.
Reservas
Mesmo com o planejamento financeiro, imprevistos acontecem e é possível se preparar para eles. Segundo o professor, é muito importante a manutenção de uma poupança de curto prazo para os casos de emergência, como de uma doença ou de desemprego, por exemplo. “Um número que muitos especialistas sugerem é que se mantenha uma poupança de, pelo menos, seis meses da renda para fazer frente a situações de emergência”.
A questão é mais delicada ainda para quem não tem renda fixa, como profissionais autônomos e liberais, cujos ganhos variam muito de um mês para o outro. “No caso daqueles que não têm renda fixa, o desafio é pouco maior. O nível de disciplina financeira é muito mais desafiador porque a renda é variável, mas a grande maioria das despesas é fixa. Quanto menos endividamento para esse perfil, melhor”, alerta o professor.