O estatal e o privado: o Ceará como exemplo

Não sei se algum acadêmico debruçou no desenrolar da economia cearense, sob a ótica de avaliação comparativa de desempenho dos setores privado e público, nos últimos sessenta anos. Se a análise fosse relativa ao retorno dos recursos empregados, por exemplo, pelo setor público, comparando com os resultados da área privada, o Ceará poderia ser um exemplo de "benchmark" digno de observação e ensinamento.

Será que algum estudioso seria capaz de fazer uma pesquisa sobre os benefícios trazidos ao Ceará pelo Dnocs? Quanto, desde a sua criação, foi enviado a essa instituição e qual a relação de positivação desses valores para a população, vítima centenária da seca? (felizmente D.Pedro II não mandou seus anéis). Sem falar em quanto veio para saneamento básico? (o número de pessoas sem água e esgoto, deve assustar) e para as péssimas estradas?

No debate eterno entre os que se opõem à redução da presença do estado na economia e aqueles que postulam o contrário, é fácil identificar os argumentos. Os estatizantes, autointitulados como "protetores" dos menos afortunados, defendem, apenas, seus próprios interesses, traduzidos em salários sem trabalho e em resultados sem cobrança (além dos, agora famosos e generosos "paralelos", frutos de favorecimentos a empresários prestadores de serviços, a preços, maioria das vezes, impublicáveis). Os do setor privado, por seu lado, cobram, por cada centavo aplicado, produtividade, qualidade e retorno.

Para ajudar no exercício acadêmico, bastaria a análise da história empresarial de três cearenses, por ordem cronológica, José Macedo, Edson Queiroz e Ivens Dias Branco, para fornecer dados excepcionais ao serviço da comparação entre o retorno obtido "vis-à-vis", os recursos investidos. Qual seria o resultado para o Ceará se os recursos estatais tivessem a mesma rentabilidade e o retorno dos aplicados pela iniciativa privada. Os três, de origem de classe média, dotados de grande capacidade criativa, transformaram o setor empresarial cearense. Nenhum deles usou os recursos para exibicionismos esnobes, bravatas ou sonhos de natureza política. A preocupação maior sempre foi com o reinvestimento nos próprios negócios, priorizando o Ceará e, na medida do possível, expandindo para outros estados. Seus exemplos deram grandes frutos e o nosso Estado tem se notabilizado por uma quantidade de empresários jovens, cujos negócios, ultrapassando os limites cearenses, têm demonstrado invejável qualificação.

Uma palavra inglesa, com desculpas pelo uso, "accountability", descreve com muita clareza a diferença entre valores investidos e a responsabilidade de quem cuida deles. No setor público, o retorno é meramente uma anotação, sem quaisquer vínculos com quem investiu e quem aplicou ou no que resultou. Quantos açudes foram feitos? Quantos quilômetros de dutos? Quantas pessoas foram realmente beneficiadas? Os administradores dos recursos públicos têm - salvo poucos e heroicos nomes - compromisso, apenas, com seus mandatos. No cumprimento dos prazos aproveitam seus anos de poder para transformar suas vidas pessoais, engordar seus bolsos com a lama fétida da corrupção. A qualidade do serviço contratado não importa. Quando deteriora, eles já não estão mais lá. Aí vêm os consertos. E a história se repete. Na Inglaterra, um estudo entre duas escolas, uma privada e outra pública, nos últimos trinta anos, resultou em diferenças dramáticas. Uma, a "do povo" foi reformada dez vezes, parou por inúmeras greves e o ensino só piorou. A outra, com apenas três reformas, qualificou seus alunos de forma incomparável.

Na empresa privada, não tem escapatória: lucro ou prejuízo. A repetição de ambos leva a resultados diametralmente opostos. Quando os lucros florescem, justificam o passado e garantem o futuro. Quando os prejuízos acontecem não tem a mão generosa do Estado para salvar, nem o padrinho para disfarçar. A diferença entre um e outro é a eternização para os capazes e o desaparecimento para os que não souberam enfrentar a dureza do mercado e da competição.

Se o Estado, com suas garras poderosas, nos oferecesse, apenas, Educação, Segurança e Saúde poderia se justificar. Como investidor ou empresário apenas aprofunda a injustiça, beneficia os desonestos e destrói a esperança.


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