O casarão do Outeiro

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Em 2 de dezembro de 1877, iniciava-se no Outeiro (antigo bairro de Fortaleza) a construção de um ´Asylo de mendicidade´ para servir de abrigo a retirantes da seca. Com o trabalho dos próprios sertanejos é que se moldou o barro, fizeram-se tijolos e se levantaram as paredes. Foi do sonho de uma vida mais digna que esse prédio se inventou. No início da década de 1890, o prédio estava abandonado.

Decidiu-se, então, transferir para o local a Escola Militar do Ceará, destinada a formar oficiais do Exército. Nesse estabelecimento predominou o ensino teórico sobre o prático. Talvez por isso os cadetes da Escola Militar assumiam certo ar de ´intelectuais´, participando da vida política cearense, bem como das atividades literárias (fundaram os jornais ´Silva Jardim´ e ´Atleta´, e as revistas ´Primeiro de Maio´, ´Evolução´ e ´Pequena Revista´).

Em 1919, instalou-se nesse prédio o Colégio Militar do Ceará, tendo a maioria dos alunos em regime de internato, sendo liberados aos fins de semana. Isso se não infringissem o rígido regime disciplinar, que proibia, por exemplo, jogar ´foot-ball´. De 1942 a 1961, o prédio sediou a Escola Preparatória de Fortaleza. Desde 1962, funciona no local o Colégio Militar de Fortaleza, que herdou as ´tradições´ das escolas militares anteriores. Por outro lado, ocorreram reelaborações na educação militar, como ilustra o ingresso de alunas a partir de 1989. Mulheres freqüentando espaços antes tradicionalmente masculinos foi mais que a quebra de um paradigma cultural. No corpo discente, território até então exclusivo dos rapazes, as jovens estabelecem um processo de construção histórica, traçando novos horizontes profissionais e ampliando os limites do espaço social feminino. Com mais de um século de existência, o velho ´Casarão do Outeiro´, construído por retirantes, acabou servindo a diversas escolas militares. Têm sido suas grossas paredes testemunhas silenciosas de um cotidiano de sonhos, vivências e histórias de vida.

* Professor do Colégio Militar de Fortaleza