Caos aéreo

O recrudescimento da crise no transporte aéreo, nesta semana, depois de desencadeada há nove meses, supera todos os níveis de tolerância. Prefigura, assim, um ambiente de desgoverno, de escárnio aos passageiros, de comando vacilante dos escalões envolvidos no problema e de insensibilidade para com um segmento econômico altamente rentável.

Lamentáveis também são os desencontros no equacionamento do problema. Enquanto o presidente da República demonstrou, mais de uma vez, querer saber sobre o dia, hora e mês para a solução da crise aérea, o ministro da Defesa, Waldir Pires, vem a público prever a necessidade de um ano para encontrar essa solução.

As causas do acidente entre o Legacy norte-americano e o Boeing da Gol - origem da crise - estão timidamente apontadas. Entretanto, a revelação sobre a suposta inexistência de comunicações entre o controle aéreo e as aeronaves voando nas zonas de transição da Amazônia, entre o Sindacta I, de Brasília, e o Sindacta IV, de Manaus, permanece sem resposta convincente. Na confusão, as denúncias de controladores do tráfego sobre falhas nos equipamentos e a desorganização dos planos de vôos representam um prato cheio para a defesa dos pilotos indiciados como culpados pelo acidente com a aeronave, juntamente com seis plantonistas das torres.

As deficiências do transporte aéreo são, de fato, de proporções inquietantes.

As soluções antevistas para a crise, como a redução de parte do tráfego concentrado em Brasília, não saíram do papel. Aeroportos como o Tom Jobim, no Rio de Janeiro, Tancredo Neves, em Belo Horizonte, e Guararapes, em Recife, continuam subaproveitados. Mas Brasília e São Paulo, focos geradores do impacto negativo nos planos de vôos, continuam exibindo suas deficiências técnicas, com a aceitação tácita dos administradores da aviação civil.

As operações-padrão, os últimos ensaios pontuais de motins no estilo grevista, praticados pelos controladores de vôos, dimensionam sua capacidade de provocar colapso, deixando o País rebaixado a seus pés. O fato mostra o risco da desmilitarização de um serviço umbilicalmente vinculado à segurança dos vôos e das próprias instituições nacionais.

O transporte aéreo integra a logística de escoamento das exportações, realiza o suprimeiro das regiões isoladas como a Amazônia, interliga os centros da indústria, comércio e serviços separados por grandes distâncias. Além do mais, está integrado, definitivamente, ao deslocamento de passageiros, apresentando taxa de incremento acima de suas estimativas.

As empresas aéreas, nesta quadra de perplexidade, têm responsabilidade pelo atendimento insatisfatório da clientela. O crescimento do mercado de passageiros não acompanhou a qualidade do serviço prestado. De modo especial, quando os vôos atrasam ou são cancelados, a desinformação é a tônica. A indiferença, a regra prevalecente nos balcões de atendimento. Até quando, nem o presidente da República consegue a resposta.