Livro de Gil do Vigor dispara em vendas e livreiros refletem sobre obras escritas por celebridades

Sucesso na pré-venda do livro de Gil do Vigor, iniciada na última quarta-feira (19), acende discussão a respeito da dinâmica do mercado editorial

Escrito por Diego Barbosa , diego.barbosa@svm.com.br
Legenda: Livro de Gilberto Nogueira, o Gil do Vigor, vendeu cinco mil cópias na pré-venda em apenas uma hora
Foto: Reprodução/Instagram

Foi veloz. Em apenas uma hora, o livro de Gilberto Nogueira, o Gil do Vigor – participante da última edição do Big Brother Brasil – vendeu cinco mil cópias. O anúncio da pré-venda da obra, de título “Tem que vigorar - Como me aceitei, venci na vida e realizei meus sonhos”, editada pela Globo Livros, aconteceu na última quarta-feira (19). Desde a data, o alarde é grande nas redes sociais, atestando a simpatia e o alcance do economista pernambucano.

Com lançamento marcado para o dia 10 de junho, o livro, conforme sinopse divulgada, traz à tona a história de luta e perseverança do ex-BBB. Além do próprio olhar do autor, o exemplar também reúne depoimentos da mãe dele, Jacira Santana, e de nomes do meio artístico, como o da apresentadora Xuxa Meneghel e o da atriz Deborah Secco.

O material tem 128 páginas e custará R$ 29,90, atravessando desde a infância de Gil até a participação no programa que o tornou nacionalmente conhecido.

Dada a dimensão da figura do economista, toda a movimentação em torno da obra é justificada. Mais: se alinha a outros casos bastante recentes, verdadeiros fenômenos editoriais catapultados por celebridades, influenciadores digitais ou ex-participantes de reality shows, a exemplo de Gil.

Aconteceu, por exemplo, com o youtuber Felipe Neto, ao lançar “A vida por trás das câmeras” (Pixel, 2018); com a também youtuber e influenciadora digital Kéfera Buchmann, com “Querido dane-se” (Paralela, 2017); e com o ator, dublador e influenciador Christian Figueiredo, autor de “Eu Fico loko. Vou ser Pai: Os 9 Meses Mais Lokos da Minha Vida" (Melhoramentos, 2020).

Diante desse panorama, uma discussão acerca da dinâmica do mercado editorial parece imperativa: qual o lugar desses títulos escritos por nomes fora do meio literário, embora campeões de acessos e vendas? Tais obras perdem o valor crítico e artístico ao obedecer a uma demanda mercadológica? Como eles impactam na formação de um público leitor? 

Promoção da experiência

O Verso conversou com dois livreiros cearenses para situar as impressões de cada um acerca do presente contexto. Fundador da Livraria Arte de Ler – com duas lojas no Ceará, uma localizada no Shopping Aldeota, em Fortaleza, e outra no Shopping Maranguape, no município vizinho – Tiago Rodrigues Bezerra encara o objeto livro como detentor de uma função principal: transmitir conhecimentos, visões ou informações.

“Então, acredito que cada um de nós, por meio das experiências que vivemos, podemos passar algum tipo de conhecimento. Eu defendo que, no mercado de livros, continue sempre sendo lançadas novidades, pois para cada tipo de literatura há um consumidor específico”, sublinha.
Tiago Rodrigues Bezerra
Fundador da livraria Arte de Ler

Segundo ele, obras como a publicada por Gil do Vigor e outros famosos não perdem o valor literário, ainda que os autores não estejam ligados habitualmente ao circuito criativo de narrativas textuais.

“Tenho certeza que sempre podemos tirar algo de importante da leitura, seja ela qual for. Até porque muitas das pessoas que lerão a obra  já viveram algo em comum com os autores – problemas, barreiras da vida – e, mesmo assim, acharam um caminho de escapatória. O que é importante é sempre motivar que mais pessoas entrem no mundo da leitura”, percebe.

Assim, o livreiro não apenas participa e acompanha, como igualmente compreende o movimento do mercado editorial de pôr em destaque projetos que vão ao encontro dos gostos atuais do público, fornecendo títulos para atender a uma demanda.

Legenda: A youtuber e influenciadora digital Kéfera Buchmann com seu livro, “Querido dane-se”: sucesso editorial
Foto: Divulgação

“Isso é um fator de normalidade em todo tipo de mercado. Esses livros contribuem, sim, para a formação do público leitor, pois ajudam a incentivar pessoas a entrar no mundo da leitura, auxiliando no seu vocabulário, melhorando suas interpretações textuais e na capacidade criativa”.

O próprio Tiago já vivenciou a experiência de conferir títulos escritos por influenciadores digitais, sobretudo aqueles voltados para o universo das finanças. Por sua vez, no posto de livreiro, ele percebe: “Esse tipo de obra tem seu pico alto de vendas apenas em médio prazo”.

Para além do nicho

Responsável pela Livraria Vozes – localizada no centro da Capital – Luís de Brito destaca que a missão do empreendimento é promover o conhecimento, o diálogo intercultural e a espiritualidade, oferecendo produtos e serviços de forma sustentável, com credibilidade, transparência e inovação. Dito isso, ele observa que obras a exemplo de “Tem que vigorar” possuem um valor. “Trabalhamos pelo incentivo ao hábito da leitura”, diz.

“Para responder à sua pergunta, li um pouco sobre a história do Gilberto, o Gil do Vigor. É uma bela trajetória de vitória e superação. Com um jeito alegre, faz críticas ao modelo vigente. Chama atenção não de um nicho, mas de milhões de pessoas em todo o País”, considera.

O profissional também enfatiza que, no caso de Gil, por ser um doutorando em Economia, a obra deverá trazer “bastante alegria e motivação” à medida que o autor for descrevendo a própria jornada. 

Legenda: Capa do livro do youtuber Felipe Neto, publicado em 2018
Foto: Divulgação

“Para mim, vender livros é sempre uma alegria. O país está carente de heróis. Acredito que o Gilberto chame atenção de muitos pela sua busca por meio da simplicidade, garra e honestidade. Vi que ele recebe apoio de muitas crianças também, e que sofreu ataques homofóbicos vindo de um dirigente do time pelo qual torce. Isso torna Gil mais popular, uma vez que encabeça movimentos contra o preconceito, o que poderá influenciar bastante na venda de seu livro. Acho que contribui para a busca de novas leituras. Que bom que acontecem esses fenômenos”, avalia.

Apesar de o catálogo da Livraria Vozes contemplar sobretudo livros de Filosofia, Pedagogia, Sociologia e Ciências Humanas no geral, Luís de Brito afirma que títulos como o de Gil do Vigor também são acolhidos nas prateleiras do estabelecimento. Isso dialoga, de acordo com ele, com a missão da loja, anteriormente descrita: promover o diálogo intercultural.

Ao mesmo tempo – feito Tiago Rodrigues Bezerra, da Livraria Arte de Ler – ele também avalia o comportamento do consumidor de seu empreendimento frente a títulos inseridos no perfil em questão. Luís estima que, pelas experiências anteriores, há uma saída maior dessas obras a curto prazo.

“No caso do livro do Gil do Vigor, poderemos ver um comportamento de venda diferente, já que ele permanecerá na mídia, inclusive com contrato com a rede Globo. Depois, pretende continuar seus estudos nos Estados Unidos. Acredito que terá esse momento de grande vendagem, mas também uma procura a médio e longo prazo. Ele deve manter sua jornada de herói, e isso é importante para o povo brasileiro tão carente”, conclui.
Luís de Brito
Responsável pela Livraria Vozes

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