Fotógrafo de Recife viraliza com fotos de restos de comida embalados em crítica à fome no Brasil

Flávio Costa divulgou ensaio 'Mercado da Fome' nas redes sociais e já alcançou mais de um milhão de visualizações

Legenda: Flávio divulgou a primeira imagem do ensaio, com um hambúrguer, no dia 10 de outubro
Foto: Flávio Costa

O trabalho do fotógrafo pernambucano Flávio Costa virou um dos assuntos mais comentados das redes sociais na última semana por retratar uma realidade dura e cada vez mais frequente no Brasil: a fome. Atualmente, mais de 19 milhões de brasileiros vivem em situação de insegurança alimentar, e as fotos com carcaças, restos de alimentos e pedaços de frutas clicados pelo artista, no ensaio chamado 'Mercado da Fome', surgiram como crítica à situação.

A ideia para os cliques, nos quais os restos de alimentos surgem etiquetados em bandejas à venda, veio para o fotógrafo como crítica. "Eu vi, há um tempo, matérias que afirmavam que alguns locais pelo País estavam vendendo ossos ou carcaças de peixes, e aí já fiquei indignado com aquilo, porque antigamente eles eram doados, eram sobras", disse Flávio em entrevista ao Diário do Nordeste.

Foto dos restos de um galeto em uma bandeja
Legenda: Flávio explica que os restos dos próprios alimentos são utilizados nos cliques
Foto: Flávio Costa

Os restos de um hambúrguer, por exemplo, foram os responsáveis pela primeira divulgação do ensaio, feita no último dia 10 de outubro. No Twitter, rede social onde ele revela as imagens, já alcançou mais de 14,2 mil curtidas e quase um milhão de visualizações. Para Flávio, as fotos funcionam como alerta.

"O que acontece é que os mercados e os açougues viram uma expectativa de negócios com essa procura de famílias com fome. Foi assim que eu tive a ideia de fazer algo que criticasse, que alertasse, que abrisse os olhos para isso", continua.

Ele ainda comenta que a ideia era que parecesse "real", como uma tentativa de chocar ainda mais os que conhecem o trabalho dele. "Muita gente se revoltou pensando que aquilo é verdade, então tiveram uns retuítes sem saber do que se trata. Em contrapartida, ainda tem muita gente que explica ser um trabalho de arte, pensado como crítica, etc", pontua.

Legenda: O trabalho de Flávio em 'Mercado da Fome' está sendo divulgado no Twitter
Foto: reprodução/Twitter

Trabalho de anos

Ao conversar sobre o assunto, Flávio explica que a relação da arte com questões sociais não vem de hoje. Fotógrafo desde 1996, o recifense explica ter trabalho diretamente com temas que envolvem preocupação e ação social.

No currículo, ele se lembra de ensaios anteriores. "Já fiz uma sequência de trabalho infantil doméstico, por exemplo, que foi algo muito marcante para mim. Já fiz trabalho sobre violência sexual, enfim, tudo isso sempre esteve presente para mim na fotografia", diz.

Foto de melancia embalada em plástico
Legenda: Os alimentos são embalados e etiquetados por Flávio, como crítica à venda de restos de alimentos
Foto: Flávio Costa

Para as fotos deste ensaio, ele utiliza os restos da própria comida, coloca-os em uma bandeja e utiliza o estúdio em casa para fazer retratos.

"O que dá mais um pouco de trabalho são as etiquetas, porque tenho que pesar o produto, imprimir a etiqueta, colar. Mas, além disso, o clique foi algo bem simples de fazer", esclarece. 

A a ideia é continuar. Ao todo, dez fotos devem compor o 'Mercado da Fome', que ainda devem ser publicadas no Instagram oficialmente. Gradualmente, ele tem divulgado, uma a uma, na conta pessoal do Twitter.

Problema social

Ainda sem ter completado o trabalho, Flávio ressalta que as questões envolvendo a fome no País permanecem na cabeça dele diariamente.

Foto de Pizza embalada em saco plástico
Legenda: O ensaio 'Mercado da Fome' deve ter total de 10 fotos publicadas
Foto: Flávio Costa

"A verdade é que essa é, hoje, uma realidade cada vez maior no Brasil todo. Aqui mesmo, onde moro, comecei a perceber muitas pessoas pedindo comida na rua, nos sinais, nas portas de supermercado. Vejo famílias dormindo nas portas desses estabelecimentos", lamenta o fotógrafo. 

Os motivos para isso, ele opina, são diversos, mas também muito atuais. "Na realidade, os motivos podem ser muitos, mas acredito muito na culpa da gestão do governo atual. É um governo cego perante os famintos", finaliza.